Banda-desenhada Maus, uma sátira do Holocausto, proibida nas salas de aula de um condado do Tennessee
Uso de palavrões e de nus foram as razões invocadas para a polémica decisão. O autor, Art Spiegelman, diz-se “boquiaberto.”
O conselho escolar do condado de McMinn, no estado do Tennessee, Estados Unidos, decidiu proibir a conhecida banda desenhada Maus (1980-1991), de Art Spiegelman, nas salas de aula. Por trás da decisão, tomada por unanimidade, está o argumento de que o livro, baseado nas recordações do pai do autor, sobrevivente de Auschwitz, contém oito palavrões e um desenho de uma mulher desnudada.
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O conselho escolar do condado de McMinn, no estado do Tennessee, Estados Unidos, decidiu proibir a conhecida banda desenhada Maus (1980-1991), de Art Spiegelman, nas salas de aula. Por trás da decisão, tomada por unanimidade, está o argumento de que o livro, baseado nas recordações do pai do autor, sobrevivente de Auschwitz, contém oito palavrões e um desenho de uma mulher desnudada.
A obra ganhou em 1992 o prestigiado prémio Pulitzer de Literatura, sendo a única banda desenhada que até hoje conseguiu esse feito. Nela, um descendente de judeus polacos vítimas do Holocausto, Art Spiegelman, nascido em Estocolmo, mas a viver em Nova Iorque há muito, rememora as experiências do pai, Vladek, o prisioneiro número 175113 do campo de concentração de Auschwitz. A mãe, outra sobrevivente do Holocausto, suicidou-se quando o autor tinha 20 anos. A personagem desnudada que terá incomodado o conselho será uma representação dela.
O conselho das escolas, que no sistema americano tem poder sobre os conteúdos pedagógicos de uma determinada região, vetou a banda desenhada de Spiegelman numa reunião de 10 de Janeiro, justificando a decisão com alegações de que a obra contém “representações do corpo desnudado de uma mulher” e linguagem inapropriada.” O livro foi considerado inapropriado para os alunos do oitavo ano, que estarão na faixa dos 13 aos 14 anos.
Segundo a acta da reunião, o director Lee Parkinson afirmou que o livro recorre a “uma linguagem crua que é questionável”, enquanto outros membros do conselho defenderam a proibição do seu uso em contexto escolar, apontando que o desenho de um rato continha “nudez”. Inicialmente, Parkinson sugeriu que os “palavrões” fossem censurados, mas a proibição acabou por ser a medida adoptada, para evitar eventuais acusações de violação de direitos autorais.
Na obra de Spiegelman, os judeus são representados como ratos e os nazis como gatos. Além do Pulitzer, a obra venceu o Eisner, o principal prémio norte-americano para a banda desenhada.
Numa entrevista à rede CNBC esta quinta-feira, Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, Art Spiegelman disse-se “boquiaberto” e “desconcertado”, lembrando ter conhecido imensos jovens que aprenderam sobre o Holocausto graças ao seu livro. O museu do Holocausto, nos Estados Unidos, lamentou a decisão, enaltecendo o papel essencial que a obra terá tido no detalhar das experiencias de vítimas e sobreviventes.
A decisão de proibir Maus ocorre no contexto de um debate acalorado sobre o currículo das escolas públicas dos Estados Unidos, principalmente no que toca ao ensino de temas ligados à raça, à discriminação e à desigualdade.