Grupo de jovens com cancro quer processar empresa responsável pela central nuclear de Fukushima
Seis japoneses que eram crianças na altura do desastre nuclear desenvolveram cancro na tiróide e querem que a empresa que operava a central assuma as responsabilidades.
Seis cidadãos japoneses querem processar a empresa que operava a central nuclear de Fukushima por terem desenvolvido cancro da tiróide, que acreditam ser uma consequência das radiações emitidas no desastre de 2011.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Seis cidadãos japoneses querem processar a empresa que operava a central nuclear de Fukushima por terem desenvolvido cancro da tiróide, que acreditam ser uma consequência das radiações emitidas no desastre de 2011.
Quando a central nuclear foi parcialmente destruída por um sismo seguido de um tsunami, a 11 de Março de 2011, os queixosos tinham entre seis e 16 anos de idade, e foram expostos às radiações decorrentes do desastre. Exames posteriores revelaram que tinham desenvolvido cancro da tiróide, um dos mais comuns ligados à exposição a material radioactivo e especialmente frequentes em crianças.
Todos os queixosos tiveram de se submeter a cirurgias para remover parte ou, em alguns casos, a totalidade da tiróide – uma glândula produtora de várias hormonas localizada no pescoço.
“Alguns dos queixosos tiveram dificuldades em prosseguir para o ensino superior ou na procura de trabalho, e tiveram de desistir dos seus sonhos”, diz à AFP o advogado Kenichi Ido. Os jovens exigem uma indemnização de 5,4 milhões de dólares (4,8 milhões de euros) da Tokyo Electric Power Company, que operava a central de Fukushima.
Um porta-voz da empresa disse ter conhecimento da apresentação da queixa, mas apenas iria haver uma reacção pública depois de serem conhecidos mais pormenores, segundo a BBC.
O caso está a ser seguido com muita atenção pela opinião pública japonesa. Mais de uma década depois do desastre, muitas pessoas que foram retiradas de Fukushima continuam com receio em regressar, apesar dos esforços das autoridades para limpar a zona atingida pelo pior acidente nuclear desde o de Chernobil, em 1986.
Será difícil para os queixosos conseguir provar em tribunal que o cancro que desenvolveram está directamente ligado à exposição à radiação nuclear. No ano passado, uma missão de especialistas da ONU emitiu um relatório em que concluía não ser possível detectar uma relação directa.
Apesar de haver vários casos de pessoas que desenvolveram cancro da tiróide depois do desastre, os números não são superiores aos verificados noutras regiões japonesas. Os especialistas sublinharam que a prevalência de casos se terá devido ao recurso a “procedimentos ultra-sensíveis” para identificar cancro.
Pressionadas, as autoridades locais de Fukushima analisaram mais de 360 mil jovens menores de idade para procurar disfunções na tiróide logo após o desastre. Alguns especialistas dizem que o pânico social causado pelo receio de que a radiação pudesse deixar mazelas entre as crianças – tal como aconteceu após Chernobil – poderá ter levado a intervenções cirúrgicas desnecessárias.
“As provas sugerem que a grande maioria, ou talvez todos os casos descobertos, não se devem à radiação”, dizia em 2016 o especialista da Universidade de Cambridge, Dillwyn Williams, à revista Science.