Elie Saab, Fendi, Jean-Paul Gaultier e Valentino marcaram os últimos dois dias da alta-costura em Paris
O desfile da casa italiana Fendi marcou o último dia da Semana de Alta-Costura em Paris, esta quinta-feira. Já a apresentação da Valentino foi das mais marcantes pela diversidade.
A moda está a mudar e tem cada vez menos regras ─ o desfile da Valentino, na quarta-feira, em Paris, foi a prova viva. O director criativo da casa italiana, Pierpaolo Piccioli, levou todos os tipos de corpos à Semana de Alta-Costura, num desfile onde a idade, o peso e o género não interessaram e a moda e a beleza falaram por si só. Nos últimos dois dias do evento destacaram-se, ainda, as apresentações da Jean-Paul Gaultier, Ellie Saab e Fendi.
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A moda está a mudar e tem cada vez menos regras ─ o desfile da Valentino, na quarta-feira, em Paris, foi a prova viva. O director criativo da casa italiana, Pierpaolo Piccioli, levou todos os tipos de corpos à Semana de Alta-Costura, num desfile onde a idade, o peso e o género não interessaram e a moda e a beleza falaram por si só. Nos últimos dois dias do evento destacaram-se, ainda, as apresentações da Jean-Paul Gaultier, Ellie Saab e Fendi.
“Esta colecção interroga o corpo, esta colecção desafia os cânones. E fá-lo depois de uma longa reflexão, e fá-lo para representar uma ideia mais abrangente de beleza”, escreveu o criador de moda no Instagram, no rescaldo da apresentação desta quarta-feira. O palácio na Place Vendôme, em Paris, foi ocupado por modelos de todas as idades e tipos de corpos, mostrando que a alta-costura pode ser para todos.
A colecção da próxima Primavera/Verão da casa de luxo italiana tem precisamente como título “Anatomy of Couture” (Anatomia da Alta-Costura, em tradução livre). À Vogue britânica, Piccioli explica que pretendia deixar uma “mensagem forte aos jovens que estão a sofrer por algum motivo”. “Se ela é bonita, tu também podes ser”, declara. O objectivo, esclarece, é levar “a magia”, “a emoção” e “o sentimento” da alta-costura a todo o tipo de mulheres ─ e não só, na passerelle também desfilaram alguns homens.
Aos 57 anos, a modelo Kristen McMenamy abriu o desfile com um vestido preto curto e justo. Depois, seguiram-na dezenas de modelos de todos os tamanhos, idades e etnias, que percorreram as salas do palácio. Destacaram-se os imponentes vestidos volumosos e estruturados em tafetá repletos de cor, num desfile onde os coordenados foram tão diversos quanto os modelos que os usaram.
Mas, mais uma vez, quebrando os cânones não foram as modelos plus-size a desfilar nos coordenados mais volumosos. Os vestidos mais justos abraçaram os corpos com mais curvas, com generosas rachas e ombro descobertos. Pierpaolo Piccioli ousou também nas transparências, nos decotes reveladores em formas artísticas e nos brilhos, com diversos coordenados adornados com pedraria.
Desde 2019, que a Valentino tem recorrido a diferentes tipos de corpos para os desfiles de alta-costura. Nesse ano, no desfile de 65 modelos, 43 eram de pele negra. Desta vez, o designer contratou uma dezena de novos modelos, para os 64 coordenados. Nos últimos anos a moda tem procurado ser mais inclusiva, mas as casas de luxo continuam a mostrar-se reticentes, incluindo nas passerelles apenas um ou dois modelos “fora do padrão”.
Esta posição de mercado mais inclusiva, graças à liderança de Pierpaolo Piccioli, é especialmente importante para a Valentino, que tradicionalmente sempre foi uma casa de moda elitista. O fundador Valentino Garavani vestia mulheres como Jackie Kennedy e Elizabeth Taylor e, no seu jacto privado, tinha um sofá dedicado apenas aos seus cães de raça pug.
O corpete de Jean-Paul Gaultier e o regresso de Elie Saab
O criador francês Jean-Paul Gaultier despediu-se das passerelles de alta-costura em 2020, deixando a promessa de que a marca continuaria a apresentar mas num novo formato: agora a cada estação é convidado um novo designer. Para a Primavera/Verão deste ano, foi o director criativo da Y/Project e da Diesel, Glenn Martens, o escolhido.
Martens reinterpretou o legado de Gaultier e os icónicos corpetes da marca, que foram transformados em elegantes vestidos de noite. O designer belga jogou com as transparências e formas que foram levadas ao extremo, quer em ombros estruturados ou em cinturas bem marcadas, que contrastavam com peças volumosas. As longas caudas em tecido amarrotado enfatizaram o drama de todo o desfile. “São coordenados que não fazem parte da rua”, defende o criador, citado pela revista Harpers Bazaar.
Ainda na quarta-feira, o dia ficou marcado pelo regresso do libanês Elie Saab a Paris. Depois de dois anos atribulados, voltou, sem medos, com um desfile repleto de coordenados vibrantes, prontos para a passadeira vermelha ─ sem perder o romantismo que caracteriza a marca. “Senti que as minhas clientes precisam de libertação, querem coisas vistosas, com cores, com vida ─ vejo que este período afectou muita gente”, disse o designer, em entrevista à Reuters, antes do desfile.
Para esta colecção foi beber inspiração ao Mediterrâneo, às cores e aos povos daquela região. O resultado foi uma das suas colecções mais coloridas de sempre, com extravagantes vestidos em tule coloridos com capas adornadas com buganvílias, que conviviam, lado a lado, com vestidos cobertos em bordado. Na passerelle de Saab também não faltaram os brilhos ─ uma das tendências da alta-costura desta estação.
Elie Saab não apresentava desde Fevereiro de 2020, não só por culpa da pandemia de covid-19, como também por ter sido afectado pela explosão no porto de Beirute, de Agosto desse ano. O ateliê do criador, bem como a sua casa, ficaram danificados pelo impacto da explosão e cobertos de cinzas. “Nós, libaneses, quando atravessamos tempos difíceis, transformamos o desafio em algo melhor. Não há outro país que tenha tido tantos problemas”, lamentou.
A cidade eterna da Fendi
Na passerelle escura, destacam-se as silhuetas virtuais de umas arcadas de pedra. É o cenário para o desfile de alta-costura da Fendi, o grande destaque do último dia do evento, esta quinta-feira, 27 de Janeiro. É apenas a segunda vez que o director criativo Kim Jones apresenta uma colecção de alta-costura para a casa italiana, depois de se ter estreado há precisamente um ano em Paris.
Ao centro da sala escura, destaca-se o icónico monograma do duplo “F”. A atmosfera é quase de mistério quando entra a primeira modelo, com um vestido de noite preto em lantejoulas. O preto dominaria os coordenados seguintes, em diferentes formas e texturas, da renda ao veludo, ao cetim e à seda, sendo apenas quebrado com alguns vestidos em branco e cinza.
À medida que o desfile vai evoluindo, a cor vai dando vida a alguns coordenados. Destacam-se um volumoso vestido de noite vermelho adornado com pedraria e as minissaias coordenadas com collants repletas de flores. A colecção de Kim Jones foi, ainda, a prova de que o roxo continua vivo ─ ou não fosse Very Peri a cor do ano da Pantone. A tonalidade brilhou na combinação improvável com o vermelho.
Para esta Primavera/Verão, explica a Fendi, no Instagram, a inspiração terá chegado de Roma, da Cidade Eterna. Contudo, Kim Jones não terá desenhado para a Roma do passado, mas numa perspectiva “futurista que desafia o tempo e o espaço”, definem. “Aproveitando a fantasia e a realidade para aterrar num outro mundo presente”, destaca a marca.
O criador de moda, na liderança da casa desde Setembro de 2020, já disse publicamente, por diversas ocasiões, que é inspirado não só pela cidade-berço da Fendi, como pela própria família que fundou a casa romana. Diz-se fascinado pela “forma como podem parecer tão chiques no trabalho, e meia hora depois chegam ao jantar um pouco diferente, tendo mudado o que vestiam”, confessou, citado pelo The Guardian.
Em 1925, Adele e Edoardo Fendi fundaram a marca que viria a ter a sua primeira boutique no ano seguinte na capital italiana. Em 1956, começaram a colaborar com Karl Lagerfeld que faz uma autêntica revolução: modernizou as peças em pêlo e desenhou o clássico monograma. Hoje, reduziram drasticamente a aposta no pêlo, que tem sido duramente criticada pela indústria da moda nos últimos anos, com dezenas de marcas a boicotar o uso deste material, da Versace, à Armani e à Tommy Hilfiger. Actualmente, a marca pertence ao conglomerado de luxo LVMH, dono de marcas como a Louis Vuitton, a Dior e Loewe.
Ainda que os desfiles da Semana de Alta Costura encerrem esta quinta-feira, há ainda uma surpresa guardada para sexta-feira: um desfile em homenagem a Pierre Cardin, que morreu em Dezembro de 2020. Espera-se que a apresentação da marca, agora liderada pelo sobrinho-neto do criador, Rodrigo Basilicati-Cardin, inclua alguns dos clássicos da assinatura do criador, bem como novas reinterpretações.