Ómicron e inflação fazem FMI ficar menos optimista em relação a 2022

Fundo Monetário Internacional reviu em baixa previsão de crescimento para a economia mundial em 2022. No caso da zona euro, em vez dos 4,3% projectados em Outubro, aponta agora para apenas 3,9%.

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FMI está preocupado com a espiral de preços EPA/ANDY RAIN

A imposição de novas medidas de confinamento para fazer face à escalada no número de casos de covid e a persistência de uma taxa de inflação alta fizeram o Fundo Monetário Internacional (FMI) rever em baixa as suas previsões para a retoma económica mundial em 2022.

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A imposição de novas medidas de confinamento para fazer face à escalada no número de casos de covid e a persistência de uma taxa de inflação alta fizeram o Fundo Monetário Internacional (FMI) rever em baixa as suas previsões para a retoma económica mundial em 2022.

Na actualização trimestral que realizou esta terça-feira às suas previsões para a economia mundial, a entidade com sede em Washington passou a prever uma taxa de crescimento global este ano de 4,4%. Este número representa não só um abrandamento face ao crescimento de 5,9% estimado para 2021, como também uma revisão em baixa das expectativas que o Fundo tinha em Outubro, quando divulgou as suas últimas previsões. Nessa altura, o crescimento projectado para 2022 era de 4,9%.

O menor optimismo em relação à força da retoma da economia mundial é explicado por diversos factores. Em primeiro lugar, lembra o relatório, “à medida que variante Ómicron se espalha, os países reimpuseram restrições à mobilidade”.

Depois, assinala o Fundo, “o aumento dos preços da energia e as disrupções na oferta resultaram numa inflação mais alta e mais generalizada do que o antecipado, especialmente nos EUA e em muitas economias emergentes e em desenvolvimento”. Por fim, é ainda referido que “a retracção do sector imobiliário na China e a recuperação mais lenta do que o esperado do consumo privado também limitaram as perspectivas de crescimento” para o país.

Estes três factores negativos, que se tornaram evidentes nos últimos três meses, fizeram que, para a generalidade das economias mundiais, o FMI revisse em baixa as suas previsões de crescimento para este ano. Os EUA são o país em que esse menor optimismo é mais evidente. Em vez do crescimento de 5,2% previsto em Outubro, o Fundo aponta agora para uma variação do PIB de apenas 4%.

Na zona euro, passou-se de uma projecção de crescimento de 4,3% para 3,9%, com a economia alemã a destacar-se pela negativa e a perder 0,8 pontuais na sua previsão de crescimento em 2022, que é agora de 3,8%. A taxa de crescimento projectada para Espanha passou de 6,4% para 5,8%.

O FMI apenas apresentou novas previsões para as quatro maiores economias da zona euro. Não há, assim, uma revisão das expectativas para a economia portuguesa. No entanto, tendo em conta a forma como tende a acompanhar a tendência dos seus parceiros europeus, é de esperar que esta revisão em baixa das previsões não passe ao lado da economia portuguesa, para a qual o FMI esperava em Outubro um crescimento de 5,1% em 2022.

Na China, a previsão de crescimento passou de 5,6% para 4,8%, no Brasil de 1,5% para 0,3% e na Rússia de 2,9% para 2,8%. Japão e Índia viram as suas previsões de retoma ligeiramente melhoradas.

FMI preocupado com espiral de preços

A persistência de taxas de inflação elevadas no arranque de 2022 foi um dos fenómenos que surpreendeu os responsáveis do FMI e que os levam agora a estar menos confiantes numa retoma rápida. A variação anual dos preços está, tanto nos EUA como na zona euro, aos níveis mais altos das últimas décadas e isso deverá, reconhece o FMI, conduzir à adopção de uma política monetária mais restritiva por parte dos bancos centrais, especialmente nos EUA.

O Fundo, no seu cenário base, aponta para que a inflação acabe por recuar durante este ano e que as expectativas dos agentes económicos em relação à evolução dos preços continuem estáveis. No entanto, o relatório reconhece a existência de riscos de formação de uma espiral de subida de salários e preços que faça prolongar ainda mais a taxa de inflação.

“Existe o risco de que custos de vida persistentemente elevados e escassez nos mercados de trabalho levem os trabalhadores a pedir (e as empresas a aceitar) salários mais elevados. Os custos laborais mais elevados que daí resultariam iriam por sua vez fazer os preços subirem mais, perpetuando o ciclo de inflação e exigindo políticas agressivas para o combater”, afirma o relatório, que assinala que este tipo de riscos se faz sentir principalmente nos EUA, onde a Reserva Federal se prepara para começar a subir taxas de juro já no decorrer deste ano.

Na zona euro, o Fundo prevê que os apoios extraordinários do BCE à economia “provavelmente continuarão” a ser concedidos.