Gestão da Dielmar “não correspondia às necessidades da empresa”, diz Governo

Secretário de Estado Adjunto e da Economia culpa anteriores accionistas pela derrocada da empresa de Alcains, mas confia na reviravolta com o grupo Valérius.

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A Dielmar pediu insolvência em Agosto depois de dez anos a somar prejuízos e ajudas do Estado no valor de oito milhões ANTÓNIO JOSÉ (arquivo)

O secretário de Estado Adjunto e da Economia afirmou nesta terça-feira que aquilo que falhou na Dielmar, que fechou em Novembro lançando 245 pessoas para o desemprego, foi uma gestão que não correspondia às necessidades da empresa, apesar de o Governo ter tentado, por diversas vezes, alterar a situação.

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O secretário de Estado Adjunto e da Economia afirmou nesta terça-feira que aquilo que falhou na Dielmar, que fechou em Novembro lançando 245 pessoas para o desemprego, foi uma gestão que não correspondia às necessidades da empresa, apesar de o Governo ter tentado, por diversas vezes, alterar a situação.

“Ao longo da minha passagem pelo ministério [da Economia] fiz diversas intervenções que permitiram tentar encontrar soluções para a situação da Dielmar, que foram sucessivamente recusadas pelos accionistas privados”, afirmou João Neves.

O governante falava aos jornalistas, à margem de uma visita às instalações da empresa de confecções Dielmar, após o grupo Valérius, de Barcelos, ter chegado a acordo para ficar com os activos da empresa com sede em Alcains.

“O que falhou foi claramente uma gestão que não correspondia às necessidades da empresa. A intervenção do Estado era minoritária e a gestão era dos accionistas privados. Por diversas vezes nós procuramos, do lado da intervenção pública, alterar a situação porque manifestamente não correspondia às necessidades que objectivamente existiam”, sublinhou.

Entre a insolvência e o encerramento definitivo da Dielmar decorreram três meses. Para trás tinham ficado dez anos consecutivos de prejuízos e diversas intervenções do Estado que, ao longo desse período, meteu cerca de oito milhões de euros na empresa especializada em fatos, fundada em 1965. Apesar dessa ajuda, o Estado nunca ficou com o controlo da gestão.

O secretário de Estado argumentou que este é claramente um processo que tem duas faces: uma que não é exemplar, porque representa aquilo que não deve ser feito para a recuperação de uma empresa; e outra, em que diz se ter empenhado pessoalmente, com a colaboração da Câmara de Castelo Branco, Instituto do Emprego e da Formação Profissional e Banco Português de Fomento, para encontrar uma solução que permita olhar para os activos, valorizando os trabalhadores.

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João Neves Arquivo

“É isso que está agora a ser feito. Espero que a história venha a demonstrar que esta é uma intervenção como deve ser feita”, defendeu.

Os activos da Dielmar foram entretanto comprados pelo grupo Valérius, por 275 mil euros. Este grupo pretende agora recrutar 210 ex-trabalhadores da Dielmar, dar-lhes formação, reorganizar a fábrica e reabri-la este ano.

João Neves espera que o dia de hoje, marcado por uma visita a Alcains e um encontro promovido pela Câmara de Castelo Branco (também socialista), represente uma viragem na situação da Dielmar, permitindo encontrar uma solução de base empresarial que seja uma solução de futuro.

“O grupo Valérius é um grupo conhecido, com presença em vários sectores industriais, nomeadamente no têxtil e na confecção, e o que temos como expectativa, e que foi a base da proposta de recuperação deste conjunto de activos, é que tenham aqui uma solução do ponto de vista industrial, forte”, frisou. “Se não houvesse pessoas com experiência e com qualidade, certamente que não teríamos uma solução para Alcains, para estas instalações e para estes trabalhadores”.

As mudanças sob uma nova batuta serão levadas a cabo durante o primeiro semestre de 2022.

“A base para fazer estas mudanças é um processo de requalificação profissional, porque a organização industrial vai ser profundamente alterada face ao passado. Os passos têm que ser dados com segurança”, concluiu. Após a rescisão de contratos para os trabalhadores das lojas e da não renovação dos contratos a termo, a empresa tinha 245 trabalhadores.

Depois de algumas assembleias de credores não definitivas, em Novembro de 2021 foi decidido avançar com o encerramento da empresa e respectiva liquidação da massa insolvente.