Cientistas desenvolvem modelo para prever casos de covid-19 prolongada

Imunoglobulinas IgM e IgG3, moléculas que são parte fundamental da resposta do sistema imunitário às infecções, servem de marcadores para síndrome pós-infecção pelo vírus SARS-CoV-2, juntamente com factores como a idade e o historial de asma brônquica do paciente.

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A covid-19 prolongada é mais comum quando os casos de doença são mais graves, dizem os investigadores GIUSEPPE LAMI/EPA

Cientistas suíços descobriram o que descrevem como uma assinatura imunitária que, quando combinada com a idade, a severidade dos sintomas e a existência de um historial clínico de asma, permite fazer previsões sobre quais os doentes de covid-19 que correm maiores riscos de desenvolver covid prolongada – um conjunto de sintomas que dura para além de quatro semanas após se ter registado o primeiro sintoma da infecção pelo vírus SARS-CoV-2.

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Cientistas suíços descobriram o que descrevem como uma assinatura imunitária que, quando combinada com a idade, a severidade dos sintomas e a existência de um historial clínico de asma, permite fazer previsões sobre quais os doentes de covid-19 que correm maiores riscos de desenvolver covid prolongada – um conjunto de sintomas que dura para além de quatro semanas após se ter registado o primeiro sintoma da infecção pelo vírus SARS-CoV-2.

A assinatura identificada pela equipa coordenada por Onur Boyman, do Hospital Universitário e a Faculdade de Medicina da Universidade de Zurique, é um nível mais baixo dos valores totais da imunoglobulina M (IgM) e da imunoglobulina G3 (IgG3) no sangue dos pacientes que vêm a desenvolver covid-19 prolongada, descrevem os cientistas na revista Nature Communications.

As imunoglobulinas, também conhecidas como anticorpos, são produzidas pelos glóbulos brancos e funcionam como uma parte fundamental da resposta do sistema imunitário às infecções, ao reconhecerem e ligarem-se a antigénios (substâncias de bactérias ou vírus, por exemplo), ajudando à sua destruição. Dividem-se em múltiplas classes e subclasses com características biológicas diferentes.

Os investigadores começaram o estudo, que decorreu durante um ano, com 215 pessoas: 40 saudáveis, usadas como controlo, e 175 que foram infectadas pelo vírus SARS-CoV-2. Ao fim de um ano, tinham dados completos para 134 pessoas que ficaram doentes, 89 das quais casos ligeiros e 45 graves (seguindo a definição da Organização Mundial da Saúde). Houve 53,9% de casos de covid prolongada entre os doentes com formas ligeiras de covid-19, e 82,2% dos casos graves desenvolveram este problema.

A covid-19 de longa duração caracteriza-se por fadiga e falta de ar, mas também uma grande variedade de sintomas no cérebro e no sistema nervoso, como alterações no paladar ou no olfacto, ansiedade, depressão, ou psicose, dificuldade em concentrar-se, dores de cabeça e perturbações do sono, especificam num outro artigo, publicado na revista Science, Avindra Nath, director do Instituto Nacional de Perturbações Neurológicas e Acidentes Vasculares Cerebrais dos Estados Unidos (NINDS na sigla em inglês), e Serena Spudich, da Faculdade de Medicina de Yale (Connecticut, EUA).

Os dois cientistas salientam a existência de paralelismos entre os sintomas da covid prolongada e da síndrome de fadiga crónica/encefalomielite miálgica, que também se considera ser causada por uma variedade de agentes infecciosos. “Poucos estudos, no entanto, categorizaram ou examinaram de forma sistemática a história natural dos sintomas da covid prolongada, e muito menos estudaram a sua biologia”, escrevem Nath e Spudich.

No estudo da equipa de Onur Boyman, os sintomas da covid-19 prolongada foram duas a 6,5 vezes mais comuns em quem teve uma forma mais grave da doença – à excepção dos problemas com o olfacto e o paladar.

A equipa cruzou os dados dos tipos de anticorpos com as hospitalizações por causa da covid-19 e com co-morbilidades dos pacientes, como doenças pulmonares, asma brônquica e doenças cardíacas, factores como a idade ou o sexo, baseando-se num modelo de previsão da incidência da covid-19 prolongada desenvolvido anteriormente. O que os cientistas suíços concluíram foi que a idade e o número de sintomas durante a infecção aumentavam entre os pacientes que tiveram covid-19 prolongada, enquanto o sexo não parecia ter influência.

Mas 94% dos doentes que tinham asma brônquica ficaram a sofrer de sintomas após a covid-19, relatam na Nature Communications. Em comparação, só 59% das pessoas que não sofriam de asma desenvolveram covid-19 prolongada.

Curiosamente, no grupo de controlo do estudo – pessoas que nunca tiveram covid-19 – quem sofria de asma também tinha níveis mais baixos dos anticorpos identificados como marcadores pelos cientistas. “É interessante notar que tanto as pessoas saudáveis do grupo de controlo como os doentes de covid-19 com historial de asma tinham concentrações de IgG3 mais baixas”, sublinha a equipa. As pessoas do grupo de controlo que contraíram covid-19 ao longo do estudo e que vieram a sofrer de covid prolongada foram também as que tinham IgM baixa antes da infecção.

Depois de terem elaborado este modelo de previsão dos casos de covid prolongada, baseando-se nos níveis das imunoglobulinas IgM e IgG3, que devem ser avaliados em conjunto com a idade do paciente, historial clínico de asma e quantidade de sintomas durante a infecção, os cientistas validaram-no com testes num grupo de 394 pessoas com infecção pelo SARS-CoV-2, com bons resultados. “Determinámos que o maior benefício clínico do nosso modelo é quando dá probabilidades entre 40% e 60%, e acima de 55% em doentes hospitalizados [de o paciente vir a sofrer de covid prolongada]. Isto significa que um médico deve aconselhar medidas preventivas se a probabilidade for acima de 55%”, escrevem os cientistas suíços. Essas medidas podem passar pelo uso de corticosteróides inalados ou administração de imunoglobulina intravenosa, sugerem.