André Fialho, um português no topo da pirâmide do MMA

Lutador de Cascais vai estrear-se na madrugada de domingo no Ultimate Fighting Championship, o mais importante evento de artes marciais mistas do mundo. Tem sido uma ascensão meteórica.

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Francis Ngannou contra Ciryl Gane. Brandon Moreno contra Deiveson Figueiredo. Michel Pereira contra André Fialho. A ordem do cartaz do UFC 270 conta muito do que tem sido a ascensão do lutador português entre a elite das artes marciais mistas (MMA). Na madrugada de domingo (2h, SportTV), Fialho estear-se-á no UFC (Ultimate Fighting Championship), o topo da modalidade, e com honras de terceiro embate mais relevante do dia. Um objectivo atingido? Digamos que é apenas mais um passo rumo ao topo da montanha.

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Francis Ngannou contra Ciryl Gane. Brandon Moreno contra Deiveson Figueiredo. Michel Pereira contra André Fialho. A ordem do cartaz do UFC 270 conta muito do que tem sido a ascensão do lutador português entre a elite das artes marciais mistas (MMA). Na madrugada de domingo (2h, SportTV), Fialho estear-se-á no UFC (Ultimate Fighting Championship), o topo da modalidade, e com honras de terceiro embate mais relevante do dia. Um objectivo atingido? Digamos que é apenas mais um passo rumo ao topo da montanha.

Aos 27 anos, e depois de um despertar tardio para o MMA, André Fialho prepara-se para fazer história, colocando o nome de Portugal num grupo muito reservado de lutadores de elite, uma espécie de Eldorado para quem se movimenta nestas lides. Pelo nível da concorrência, sim, mas acima de tudo pela dimensão mediática e pelos contratos chorudos que uma participação bem-sucedida a este nível poderá assegurar.

Mas como chegou um lutador nascido em Portugal, país com muito pouca tradição no MMA, a um patamar destes? André Fialho não sabe explicar com exactidão qual foi o momento de viragem, o que pode garantir é que nasceu com o boxe por perto (o pai foi pugilista e começou a ensinar-lhe os rudimentos da modalidade ainda em criança) e que as artes marciais acabaram por ganhar a corrida ao futebol.

Até aos 18 anos, tinha no currículo um título de campeão regional e outro de campeão nacional de boxe amador, aos quais juntava os dotes de um avançado com faro para o golo no futebol distrital, mas o apelo do MMA foi mais forte. Começou com uma viagem com o pai ao Algarve, onde conheceu o primeiro treinador, que passou a acompanhá-lo em Lisboa a partir de então. Via nele potencial e André via nas artes marciais o futuro.

“O jiu-jitsu é viciante, o grappling, o sparring”, enumerou numa entrevista ainda dos tempos em que se iniciava no Bellator, há seis anos, uma espécie de II Liga na cadeia do MMA. O primeiro combate aconteceu em Junho de 2014, depois de ter vencido um torneio no Porto (Pride) que o arrancou ao anonimato. E a carreira disparou a partir de então, à velocidade com que ia deixando os adversários KO.

Com reputação de um excelente pugilista, com uma capacidade invulgar de ganhar os combates ainda no primeiro assalto, André Fialho foi fazendo um percurso promissor e sustentado. Um percurso impulsionado pela decisão repentina que tomou em 2015, quando tentou entrar no The Ultimate Fighter (TUF), uma espécie de reality show nos EUA, com um contrato de seis dígitos como prémio final.

“Eu pensava que ia ganhar o TUF e não consegui entrar. Pedi ajuda aos patrocinadores para poder vir e tinha juntado um dinheiro e, como não entrei, fiquei maluco. Eu não era capaz de voltar para Portugal de mãos a abanar, por isso comprei uma viagem só de ida para a Califórnia e fui bater à porta do AKA. E tudo começou aí, em 2015”, contou, em entrevista ao programa Superlutas.

Actualmente a treinar-se no Sanford MMA, na Flórida, com várias referências da modalidade, André Fialho fez uso do espírito empreendedor (e da arte de se desenrascar sozinho) para lidar com a desilusão. Mostrou talento, disciplina, convenceu os treinadores e ganhou o direito a um contrato. “Pai, já não volto”, foi o que disse quando telefonou para casa, depois da primeira incursão ao outro lado do Atlântico.

Já perfeitamente adaptado aos EUA, mas com saudades de muito do que é o mundo português, André Fialho não esconde o orgulho nas raízes (e os calções com a bandeira nacional que usa em muitos dos combates estão aí para o provar). Vai entrar no octógono com um registo de 14 vitórias e três derrotas no MMA profissional e com a certeza de ter vindo a preparar-se para um momento tão aguardado quanto repentino.

“Na segunda-feira passada, o meu manager ligou-me e perguntou-me se eu conseguia bater o peso na sexta-feira. Isto foi segunda às 21h e na terça às 5h estava apanhar o avião para Las Vegas”, contou Fialho, que deveria ter enfrentado o brasileiro Michel Pereira noutro evento, há cerca de uma semana. O combate acabou por ser adiado e o palco, agora na Califórnia, será ainda mais luminoso e impactante.

Habitualmente a rondar os 84/85 quilos, o português baixa para os 77 para competir. E garante estar pronto para o que aguarda: “Michel Pereira é um óptimo lutador, explosivo, alto, rápido, longo. Vai ser uma grande luta, acho que os nossos estilos encaixam bem. Mas acho que faz muita coisa desnecessária e aquele estilo pode ser perigoso para ele contra mim”.

Uma semana típica na vida de André Fialho comporta vários treinos de sparring (três dias por semana), um de wrestling e outro de jiu jitsu, a que se somam combates em alguns fins-de-semana. E todo o ritual é cumprido com uma dose invulgar de autoconfiança, palpável num discurso que tem repisado a ideia de querer ser o melhor de sempre. “Estando na melhor organização do mundo, só espero poder estar activo e competir várias vezes, melhorar de luta para luta”.