Poroshenko voltou à Ucrânia com acusações a Zelensky
Ex-Presidente compareceu em tribunal para ser ouvido num caso em que é acusado de traição. Foi recebido por um banho de multidão a quem disse querer “unir a Ucrânia”.
O antigo Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, regressou esta segunda-feira ao país para prestar um depoimento num caso movido contra si que o próprio diz ser politicamente motivado. A reentrada do ex-chefe de Estado vem adicionar uma camada de incerteza à situação política interna da Ucrânia, numa altura em que a pressão da Rússia é elevada.
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O antigo Presidente ucraniano, Petro Poroshenko, regressou esta segunda-feira ao país para prestar um depoimento num caso movido contra si que o próprio diz ser politicamente motivado. A reentrada do ex-chefe de Estado vem adicionar uma camada de incerteza à situação política interna da Ucrânia, numa altura em que a pressão da Rússia é elevada.
Assim que aterrou, proveniente de Varsóvia, Poroshenko foi recebido por milhares de apoiantes que o aguardavam. Antes disso, a guarda fronteiriça ainda impediu o antigo Presidente de entrar no país, retirando-lhe durante algum tempo o passaporte, disse o próprio aos jornalistas assim que saiu do aeroporto.
Poroshenko, que governou o país entre 2014 e 2019, foi ouvido em tribunal num caso em que responde por acusações de traição e apoio ao terrorismo, e pode incorrer numa pena que vai até 15 anos de prisão se vier a ser condenado. Em causa está um alegado esquema para financiar as milícias separatistas pró-russas que ocupam parte do território ucraniano através da venda ilegal de carvão, explica a Reuters.
Poroshenko, que arriscou ser detido ao voltar, e os seus apoiantes dizem que as acusações são fabricadas pelo actual Presidente, Volodimir Zelensky, para tentar afastar o seu principal adversário. Apesar de ter sido derrotado nas eleições presidenciais de 2019, o magnata continua a ser um dos políticos mais populares da Ucrânia, sobretudo entre os sectores mais nacionalistas e anti-russos do eleitorado. Poroshenko foi o primeiro líder depois do derrube do ex-Presidente Viktor Ianukovitch, em 2014, durante os protestos na Praça da Independência, que muitos na Ucrânia encaram como o momento que marca o divórcio definitivo com a Rússia.
“Não estamos aqui para proteger Poroshenko, mas para unir e proteger a Ucrânia”, afirmou o político perante a multidão que o aguardava. Já no tribunal de Kiev, Poroshenko criticou o Governo de Zelensky, definindo-o como “confuso” e “fraco”. “Em vez de combater Putin, estão a tentar lutar contra nós”, declarou.
O ex-Presidente acredita que o caso movido contra si tenha também um papel no actual confronto entre Kiev e Moscovo. Por ter sido o chefe de Estado que mais combateu os insurgentes pró-russos no Leste do país e pela sua postura contrária a qualquer concessão face à Rússia, a sua prisão seria “uma prenda muito importante para Putin”, disse o próprio Poroshenko numa entrevista recente, citada pelo New York Times.
As autoridades ucranianas e norte-americanas acreditam que a Rússia está a planear uma invasão do Leste da Ucrânia durante as próximas semanas, depois de no mês passado ter estacionado perto de cem mil soldados na fronteira. Moscovo nega qualquer intenção de o fazer, embora o Kremlin tenha referido a possibilidade de responder a “provocações” do lado ucraniano recorrendo a meios “técnicos e militares”.
A tensão elevada entre os dois países tem igualmente uma dimensão geopolítica. A Rússia exige que tanto a Ucrânia como a Geórgia sejam impedidas de entrar na NATO e quer que a Aliança Atlântica limite a sua presença nos países mais próximos da sua fronteira. Na semana passada, várias reuniões para discutir uma saída diplomática da crise foram concluídas sem progressos.