Portugueses impedidos de regressar a Macau após proibição de voos de “regiões fora da China”

Os voos de passageiros para Macau oriundos de “regiões fora da China” estão proibidos durante duas semanas, mas espera-se que a proibição se alongue. O cônsul-geral de Portugal em Macau, Paulo Cunha Alves, garantiu que o consulado “está a prestar todas as informações possíveis e em contacto regular com as autoridades locais”.

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O aeroporto internacional de Macau Unsplash/Renato Marques

Quinze dias de proibição de voos de passageiros para Macau, oriundos de “regiões fora da China”, apanharam de surpresa dezenas de portugueses no estrangeiro, que ficaram assim impossibilitados de regressar ao território.

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Quinze dias de proibição de voos de passageiros para Macau, oriundos de “regiões fora da China”, apanharam de surpresa dezenas de portugueses no estrangeiro, que ficaram assim impossibilitados de regressar ao território.

Uma porta-voz da STDM Tours Travel Agency Ltd disse à Lusa que a agência de viagens tem seis clientes nesta situação, todos em Portugal.

Uma outra agência, Sincerity Travel, tem “pelo menos 13” portugueses à espera, disse à Lusa a gerente, Sara Ng. “Todos os dias me ligam, às vezes à meia-noite [16h em Lisboa], a pedir notícias”, acrescentou.

A proibição, que entrou em vigor a 9 de Janeiro, foi anunciada na sequência da detecção de dois casos da variante Ómicron do novo coronavírus em residentes que chegaram ao território oriundos do estrangeiro e cumpriam quarentena obrigatória de pelo menos 21 dias.

As autoridades de Macau, que registaram desde o início da pandemia 79 casos de covid-19, já admitiram a possibilidade de esta suspensão continuar em vigor depois de dia 23.

Com o Bilhete de Identidade de Residente de Macau a caducar em breve, a arquitecta Luísa Petiz disse estar apreensiva. “Tenho de fazer a renovação até ao início de Fevereiro, caso contrário corro o risco de perder a residência”, explicou à Lusa. Também Helena Marçal saiu da cidade a 18 de Dezembro, pela primeira vez desde o início da pandemia, para visitar os filhos que vivem no Reino Unido. Ainda foi a tempo de antecipar o regresso a Macau, inicialmente previsto para 11 de Janeiro. “Ainda pensei em meter as férias todas deste ano e ficar até à reabertura dos voos, mas tive receio que isso não acontecesse de facto a 23 de Janeiro e ficasse pendurada sine die [sem data fixa] à espera de um voo”, considerou.

Inês Rebelo disse que a transportadora aérea Singapore Airlines, que opera o único voo entre Macau e o estrangeiro, só está a aceitar reservas para Março, algo que originou receios de um prolongamento da suspensão. A estagiária sublinhou temer falhar o exame final da Associação dos Advogados de Macau, que se realiza habitualmente no primeiro trimestre. Se isso acontecer: “tenho de me inscrever no próximo exame, no próximo ano; é desmotivador”.

Sara Ng disse acreditar que a Singapore Airlines decidiu “bloquear novas reservas de forma preventiva”, até uma nova decisão do Governo de Macau.

O cônsul-geral de Portugal em Macau, Paulo Cunha Alves, disse à Lusa que recebeu dois pedidos de apoio ou informação. O diplomata lembrou que a suspensão “é da competência das autoridades de Macau”, mas garantiu que o consulado “está a prestar todas as informações possíveis e em contacto regular com as autoridades locais”.

Tanto o Gabinete de Gestão de Crises de Turismo de Macau como o Consulado-Geral de Portugal em Macau e Hong Kong sugeriram a Inês Rebelo regressar através da China continental. Esta alternativa exige um visto válido, difícil de obter devido à actual situação de pandemia e devido às restrições em vigor na China, e uma quarentena de no mínimo 21 dias, num hotel. “Não é muito útil”, lamentou Inês.

“Não tenho alternativas enquanto o bloqueio estiver em vigor”, disse à Lusa o médico Yun Fee Lai, que considera que outras opções de regresso “são inviáveis para detentores de passaporte português”.

Em contrapartida, para os estudantes universitários em Portugal ou no Reino Unido, a suspensão não causou problemas, disseram à Lusa a Associação de Estudantes Luso-Macaenses e a Liga de Jovens de Macau no Reino Unido, uma vez que têm aulas presenciais e, no caso de Portugal, está a decorrer a época de exames.