Os debates da pré-campanha eleitoral, nos vários canais de televisão, obedecem a um modelo que exige uma histerização das diferenças e responde em primeiro lugar a critérios jornalísticos que têm a sua expressão triunfante nos comentários pós-debate. Mas essa histerização não é o único factor que limita o alcance político dos vários discursos. Há hoje um abismo entre o posto de observação onde os políticos se instalam — por cálculo táctico ou porque desconhecem tudo o que se situa para além do horizonte que daí avistam — e os novos horizontes de problemas, de conhecimentos, de possibilidades. Eles, uns muito mais do que outros, aprisionam-nos num mundo raquítico e sem exterior, numa altura em que já nem o conceito de “globalização” está à altura dos novos desafios. O gadget conceptual que se começa a impor devido à necessidade de mudar de escala, na época da aceleração das alterações climáticas e do colapso da biodiversidade, chama-se “planetarização”. Seria insensato pensar que os políticos deveriam debater abstracções que nos desviam do nosso mundo, do aqui e agora. Mas, de um modo geral (nem todos se equivalem, é preciso dizê-lo), não dar sequer sinais de que é preciso mudar de escala e ter a percepção de um horizonte muito mais vasto e distante é persistir na tagarelice. O cineasta Chris Marker, falando uma vez de Tarkovski, deu-o como exemplo de um olhar cinematográfico que muda de escala: “Os ingénuos contemplam o céu. Este russo instala-se no céu e contempla a Terra.”
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Os debates da pré-campanha eleitoral, nos vários canais de televisão, obedecem a um modelo que exige uma histerização das diferenças e responde em primeiro lugar a critérios jornalísticos que têm a sua expressão triunfante nos comentários pós-debate. Mas essa histerização não é o único factor que limita o alcance político dos vários discursos. Há hoje um abismo entre o posto de observação onde os políticos se instalam — por cálculo táctico ou porque desconhecem tudo o que se situa para além do horizonte que daí avistam — e os novos horizontes de problemas, de conhecimentos, de possibilidades. Eles, uns muito mais do que outros, aprisionam-nos num mundo raquítico e sem exterior, numa altura em que já nem o conceito de “globalização” está à altura dos novos desafios. O gadget conceptual que se começa a impor devido à necessidade de mudar de escala, na época da aceleração das alterações climáticas e do colapso da biodiversidade, chama-se “planetarização”. Seria insensato pensar que os políticos deveriam debater abstracções que nos desviam do nosso mundo, do aqui e agora. Mas, de um modo geral (nem todos se equivalem, é preciso dizê-lo), não dar sequer sinais de que é preciso mudar de escala e ter a percepção de um horizonte muito mais vasto e distante é persistir na tagarelice. O cineasta Chris Marker, falando uma vez de Tarkovski, deu-o como exemplo de um olhar cinematográfico que muda de escala: “Os ingénuos contemplam o céu. Este russo instala-se no céu e contempla a Terra.”