Movimento de boicote a Israel pede a Mariza que cancele concerto em Telavive

A associação israelita Boycott! apela à fadista para que não pactue com as “políticas de opressão, ocupação, apartheid e limpeza étnica” do actual governo.

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O concerto marcado para Telavive insere-se na digressão mundial de celebração dos 20 anos de carreira da fadista PEDRO NUNES/REUTERS

Um grupo de cidadãos israelitas escreveu uma carta aberta em que pede a Mariza para cancelar o concerto que a fadista tem marcado para Fevereiro em Telavive, de forma a juntar-se ao boicote artístico àquele país, motivado pelo que os signatários classificam como as “políticas de opressão, ocupação, apartheid e limpeza étnica do (...) governo contra o povo palestiniano autóctone”. A carta é assinada pela associação israelita Boycott!, que apoia a campanha, iniciada por uma coligação de grupos de direitos humanos palestinianos, de pressão económica e social sobre o estado de Israel, conhecida pelo acrónimo BDS (boicote, desinvestimento e sanções).

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Um grupo de cidadãos israelitas escreveu uma carta aberta em que pede a Mariza para cancelar o concerto que a fadista tem marcado para Fevereiro em Telavive, de forma a juntar-se ao boicote artístico àquele país, motivado pelo que os signatários classificam como as “políticas de opressão, ocupação, apartheid e limpeza étnica do (...) governo contra o povo palestiniano autóctone”. A carta é assinada pela associação israelita Boycott!, que apoia a campanha, iniciada por uma coligação de grupos de direitos humanos palestinianos, de pressão económica e social sobre o estado de Israel, conhecida pelo acrónimo BDS (boicote, desinvestimento e sanções).

A fadista, que tem programado para 8 de Fevereiro um concerto em Telavive centrado no seu álbum de 2020, Mariza Canta Amália, é interpelada a ouvir “o apelo da sociedade civil palestiniana, em especial a sua vertente cultural”, dando sequência àquilo que, consideram os signatários, 2021 representou enquanto “ponto de viragem na maneira como a comunidade internacional vê as políticas repressivas de Israel contra o povo palestiniano”, “reconhecidas como de apartheid por grupos de direitos humanos a nível internacional, incluindo a Human Rights Watch, sediada nos EUA e a organização israelita de direitos humanos B’Tselem”.

Denunciando a expansão dos colonatos, a situação dramática na Cisjordânia, “que as Nações Unidas advertiram ter-se tornado ‘inabitável’”, escrevem os signatários, e a desigualdade de que são alvo os cidadãos israelitas palestinianos perante a restante população de Israel, a carta adverte Mariza de que “o governo israelita, incluindo a municipalidade de Telavive, usa os espectáculos de artistas internacionais para se defender das críticas às suas horríveis violações dos direitos humanos e do direito internacional”. É invocado o exemplo do boicote cultural contra o apartheid na África do Sul e a importância de que se revestiu na consciencialização mundial para a iniquidade daquele regime político. A carta despede-se com um pedido: “Seja corajosa. Avance, fale e tome uma posição pública clara contra esta injustiça contínua na Palestina. O apartheid deve ser desmantelado. Ninguém é livre enquanto não formos todos livres.”

Em Maio do ano passado, 600 artistas, incluindo Roger Waters, há muito opositor da actuação do Estado israelita na Palestina, Patti Smith ou Rage Against The Machine, lançaram uma carta aberta incitando os artistas à volta do mundo a unirem-se num boicote cultural a Israel até ao nascimento de uma “Palestina livre”. Longe de ganhar a dimensão que atingiu o boicote artístico à África do Sul dos tempos do apartheid, o movimento de apelo ao boicote não é consensual entre a comunidade artística. Nick Cave e Thom Yorke, dos Radiohead, foram alguns dos músicos que já manifestaram a sua oposição à campanha. Em 2018, o primeiro classificou o boicote cultural a Israel como “cobarde” e “vergonhoso”. Numa carta que tornou pública, enviada originalmente a Brian Eno, um dos apoiantes do boicote, declarou que, apesar de reprovar as acções do governo israelita, não aceitava que a sua decisão de tocar no país representasse “algum tipo de apoio tácito às políticas desse governo”.

Na semana passada, o Sidney Festival, um dos maiores acontecimentos artísticos anuais na cidade australiana, teve início sob grande polémica, com cerca de três dezenas de participantes a cancelarem a sua presença – entre eles a banda Tropical Fuck Storm, a produção da peça Sevens Methods of Killing Kylie Jenner, a companhia de dança Marrugeku ou o comediante Tom Ballard. A decisão de não comparecerem está ligada à contribuição de 20 mil dólares australianos (cerca de 12,5 mil euros) feita pela embaixada israelita em Camberra para apoio à apresentação do espectáculo Decadance, do coreógrafo israelita Ohad Naharin – o estado de Israel surge no site do festival como “parceiro estrela”. 120 figuras do espectáculo, entre as quais se incluem Gene Simmons, líder dos Kiss, ou a realizadora Nancy Spielberg responderam ao boicote com uma carta aberta, considerando-o “uma afronta tanto aos palestinianos como aos israelitas que estão a trabalhar para a paz através de soluções de compromisso, intercâmbio e reconhecimento mútuo”.