Serviços e produtos alimentares travam escalada da inflação em 2021

A taxa de inflação em Portugal foi de 1,3% no conjunto de 2021, um valor que fica muito abaixo da média europeia.

Foto
Adriano Miranda

A taxa de inflação voltou a acelerar no final do ano passado e ultrapassou os 2,7% em Dezembro, um movimento que contribuiu para que a variação média anual deste indicador tenha ficado próxima de 1,3% no conjunto de 2021. Este valor fica acima da variação nula registada em 2020 e é o mais elevado que se regista em Portugal em quatro anos, mas fica muito abaixo da inflação que tem sido registada na União Europeia. A travar um aumento mais acentuado dos preços em Portugal estão, sobretudo, os serviços (em particular a restauração e alojamento) e os produtos alimentares.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

A taxa de inflação voltou a acelerar no final do ano passado e ultrapassou os 2,7% em Dezembro, um movimento que contribuiu para que a variação média anual deste indicador tenha ficado próxima de 1,3% no conjunto de 2021. Este valor fica acima da variação nula registada em 2020 e é o mais elevado que se regista em Portugal em quatro anos, mas fica muito abaixo da inflação que tem sido registada na União Europeia. A travar um aumento mais acentuado dos preços em Portugal estão, sobretudo, os serviços (em particular a restauração e alojamento) e os produtos alimentares.

Os dados foram publicados esta quarta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), que confirma, assim, os valores da estimativa rápida de 1,3% para 2021, publicada no início deste mês. Segundo os dados do INE, o Índice de Preços no Consumidor (IPC) registou uma variação de 2,74% em Dezembro. Acrescenta o instituto que, “relativamente à estimativa rápida publicada em 3 de Janeiro”, houve “uma revisão em baixa de 0,02 p.p., determinando, por arredondamento a uma casa decimal, que a variação homóloga [de Dezembro] acabe por se fixar em 2,7% em lugar dos 2,8% inicialmente estimados”.

Já em termos mensais, verifica-se uma variação nula em Dezembro.

Feitas as contas, a variação média do IPC nos últimos doze meses fixou-se em 1,27% em Dezembro de 2021, valor que corresponde ao mais elevado desde 2017 e que fica a dever-se, maioritariamente, ao comportamento dos preços durante a segunda metade do ano.

Isso mesmo indica o INE. “A taxa de variação homóloga do IPC total evidenciou um forte movimento ascendente, em particular na segunda metade do ano, em que as variações observadas foram sempre superiores ao valor da média anual. Efectivamente, a variação média no segundo semestre de 2021 (1,9%) foi superior à do primeiro (0,6%). Esta aceleração verificou-se na maioria das categorias do IPC, reflectindo, directa ou indirectamente, os aumentos dos preços dos bens energéticos, em particular, dos combustíveis rodoviários”, nota o instituto estatístico.

O valor anual da inflação em Portugal no conjunto de 2021 fica, ainda assim, muito abaixo daquele que tem sido registado a nível europeu. Em Novembro, último mês para o qual já existem dados disponíveis, a variação média dos 12 meses anteriores na União Europeia foi de 2,5%, de acordo com os dados do Eurostat.

A justificar a inflação menos acentuada em Portugal ao longo do ano passado estiveram os sectores dos serviços e dos produtos alimentares. No final do ano, a taxa de inflação nos produtos alimentares não transformados era de 0,56%, enquanto nos serviços foi de 0,62%, um valor para o qual contribuiu a taxa negativa de -0,83% dos preços praticados em restaurantes e hotéis no conjunto de 2021.

Isto, explica o INE, aconteceu num contexto de pandemia, em que esses estabelecimentos viram a actividade limitada durante vários meses. “A classe dos restaurantes e hotéis registou variações homólogas negativas na maioria dos meses de 2021, mas sobretudo no primeiro semestre, apresentando o valor mais baixo em Junho (-6,2%)”, nota o INE. “Com a reabertura destas actividades económicas ao longo da segunda metade de 2020, começaram a verificar-se desacelerações progressivas dos preços que culminaram na taxa mais baixa em Junho de 2021. No segundo semestre registou-se um movimento marcadamente ascendente, observando-se variações positivas nos últimos três meses do ano”, acrescenta.

Em sentido contrário, o maior aumento dos preços registou-se nos produtos energéticos, onde o IPC aumentou 7,28% no conjunto do ano passado, um cenário que contribuiu, por sua vez, para o aumento dos custos com a habitação e com os transportes.

Custos com a habitação crescem mais de 3%

A acompanhar o aumento generalizado dos preços, também na habitação se verificou esta tendência. Em Dezembro, os custos suportados pelas famílias com habitação, água, electricidade, gás e outros combustíveis registaram uma subida de 3,2% em relação ao mesmo mês do ano anterior, valor idêntico ao que já tinha sido registado em Novembro.

Para este movimento contribuíram, sobretudo, os preços dos produtos energéticos. No mês em análise, os preços dos combustíveis líquidos dispararam mais de 26%, enquanto o custo do gás aumentou 9,5% e o da electricidade outros 2,5%.

Também os custos com obras de manutenção e reparação, encarecidas num contexto de crise de matérias-primas e de falta de mão-de-obra, aumentaram significativamente. Assim, em Dezembro, os preços da categoria de manutenção e reparação de habitações subiram 5,3%.

A isto cenário, acresce a subida contínua das rendas, que, em Dezembro, aumentaram 1,9% em relação ao ano anterior. O aumento das rendas observou-se em todas as regiões do país, com o Algarve a registar a maior subida, de 2,2%.

Já em termos mensais, o valor médio das rendas de habitação por metro quadrado aumentou 0,1%. Também aqui, não houve qualquer variação negativa nas regiões analisadas pelo INE.