Componentes de cannabis impediram vírus da covid-19 de infectar células humanas

Duas componentes presentes na cannabis sativa ligam-se à proteína da espícula do SARS-CoV-2 impedindo-o de penetrar nas células.

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Os investigadores dizem que os componentes são seguros em humanos Sergio Azenha

Duas componentes presentes na cannabis conseguiram impedir o vírus que causa a covid-19 de penetrar em células humanas saudáveis em testes feitos em laboratório. A experiência foi feita por uma equipa de investigadores da Oregon State University, nos EUA, que partilharam a informação num estudo publicado esta segunda-feira na revista académica Journal of Nature Products.

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Duas componentes presentes na cannabis conseguiram impedir o vírus que causa a covid-19 de penetrar em células humanas saudáveis em testes feitos em laboratório. A experiência foi feita por uma equipa de investigadores da Oregon State University, nos EUA, que partilharam a informação num estudo publicado esta segunda-feira na revista académica Journal of Nature Products.

O coronavírus SARS-CoV-2 tem uns “picos” à superfície designados por “proteína da espícula” (ou spike) que são essenciais para o vírus penetrar nas células humanas e infectar as pessoas. Os investigadores de Oregon descobriram que duas componentes do cânhamo (ou cannabis sativa), que é uma variedade da cannabis com baixo teor de tetrahidrocanabinol (THC), a principal substância psicoactiva da planta, conseguem ligar-se ao spike do SARS-CoV-2 impedindo a sua penetração nas células.

Os componentes em questão são ácidos conhecidos por CBGA e CBDA.

“Estes ácidos canabinóides são abundantes no cânhamo e em muitos extractos de cânhamo”, explicou o investigador que liderou o estudo Richard van Breemen, na apresentação do seu trabalho. Van Breemen salienta que os componentes “podem ser ingeridos oralmente” e “têm um bom perfil de segurança” nos seres humanos. São precursores para substâncias como o CBD (canabidiol) que já é utilizado em vários suplementos alimentares, loções corporais e cosméticos.

“Isto significa que substâncias que inibam a entrada [do vírus] nas células, como os ácidos do cânhamo, poderão ser utilizados para prevenir uma infecção por SARS-CoV-2”, detalha o investigador que integra o Centro Global de Inovação do Cânhamo da universidade.

Eficaz contra variantes

As componentes do cânhamo também se revelaram eficazes contra algumas variantes do novo coronavírus. “A nossa investigação mostrou que os componentes do cânhamo eram igualmente eficazes contra as variantes do SARS-CoV-2, incluindo a variante B.1.1.7, que foi detectada pela primeira vez no Reino Unido, e a variante B.1.351, detectada pela primeira vez na África do Sul”, avançou Van Breemen. As duas variantes a que se refere são mais bem conhecidas como a Alfa e a Beta, respectivamente.

Van Breemen reconhece que podem surgir variantes resistentes aos ácidos do cânhamo, mas acredita que a combinação das vacinas com tratamentos com CBDA e CBGA irá dificultar a infecção.

A equipa de investigadores avança que podem existir outras substâncias capazes de bloquear a proteína da espícula do SARS-CoV-2. Experiências iniciais com alcaçuz indicam a possibilidade de outro composto que também impede o vírus de infectar células humanas, no entanto a equipa de Van Breemen precisa de mais financiamento para concluir os testes em laboratório.