Relações entre Rússia e NATO aproximam-se do “momento da verdade”

Encontro em Bruxelas dois dias depois de reunião de sete horas entre Washington e Moscovo ter terminado com a reafirmação de “posições opostas”. Crise ucraniana no centro das tensões.

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Militares ucranianos em posição de combate na região de Donetsk, onde Moscovo apoia separatistas pró-Rússia ANDRIY DUBCHAK/Reuters

Em jogo está mais do que os 100 mil soldados russos mobilizadas junto à fronteira da Ucrânia e os receios de que o Kremlin esteja a planear uma nova agressão. Mas norte-americanos e europeus insistem que sem o recuo dessas forças é difícil acreditar que Moscovo queira negociar com seriedade. Um dia depois de o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Riabkov, ter dito que Washington põe em risco “a segurança europeia”, o representante da Rússia na NATO, Alexander Grushko, anteviu assim o encontro de quarta-feira entre o seu país e a Aliança Atlântica: “Não é exagero dizer que está a chegar o momento da verdade nas nossas relações com a aliança”.

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Em jogo está mais do que os 100 mil soldados russos mobilizadas junto à fronteira da Ucrânia e os receios de que o Kremlin esteja a planear uma nova agressão. Mas norte-americanos e europeus insistem que sem o recuo dessas forças é difícil acreditar que Moscovo queira negociar com seriedade. Um dia depois de o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Riabkov, ter dito que Washington põe em risco “a segurança europeia”, o representante da Rússia na NATO, Alexander Grushko, anteviu assim o encontro de quarta-feira entre o seu país e a Aliança Atlântica: “Não é exagero dizer que está a chegar o momento da verdade nas nossas relações com a aliança”.

Moscovo insiste que as suas “expectativas são completamente realistas” e Grushko diz esperar que a reunião de Bruxelas permita “uma discussão profunda sobre problemas fundamentais da segurança europeia”. A Rússia exige que Washington e a NATO garantam que a Ucrânia nunca fará parte do bloco militar atlântico, o que estes consideram inaceitável, e que travem a expansão da aliança para leste, incluindo o fim de exercícios militares perto das suas fronteiras.

Washington foi para Genebra, onde decorreu a reunião bilateral, disponível para negociar a “dimensão e abrangência destes exercícios, incluindo os bombardeiros estratégicos”, e a instalação de mísseis perto da fronteira russa, disseram responsáveis governamentais à imprensa. Moscovo rejeitou várias vezes fazer concessões. Entretanto, soube-se que a Administração dos EUA autorizou discretamente uma ajuda adicional de 200 milhões de dólares (176 milhões de euros) à Ucrânia, para reforçar as suas capacidades de defesa em resposta ao alarme causado pela aglomeração de tropas russas, semanas antes de começar a conversas com a Rússia.

Riabkov explicou que a vontade russa de continuar o diálogo depende do resultado do encontro com os diplomatas dos 30 membros da NATO, em Bruxelas, e da reunião do dia seguinte, em Viena, dos membros da OSCE – Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa. “Não ficaremos satisfeitos com o prolongamento interminável deste processo”, notou esta terça-feira o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.

Pressão e condições

William Courtney, antigo diplomata que esteve envolvido em conversações entre os EUA e a União Soviética, diz que as propostas norte-americanas sobre exercícios e instalação de mísseis significam um regresso às medidas de controlo de armamento e de confiança que existiram entre os dois países – e que os EUA acusam a Rússia de ter destruído com sucessivas violações. Para Courtney, esta posição deixa o Kremlin pressionado entre atacar a Ucrânia, e sofrer as graves sanções económicas anunciadas, e aceitar acordos negociados no passado sem que isso seja percepcionado internamente como um “embaraço e uma humilhação”, explicou à RFP (Rádio Europa Livre, financiada pelos EUA).

Mas a maioria dos analistas acreditam que Vladimir Putin é perfeitamente capaz de apresentar os futuros resultados como vitórias e notam que, de certa forma, o Presidente russo já ganhou, ao levar Washington a negociar aspectos que a Rússia reclama como esfera de influência e a debater cenários que levariam a NATO a fazer recuar a sua presença militar para níveis dos anos 1990.

Alguns notaram a importância que os EUA pareceram dar às exigências russas. “Ficámos com a impressão que os americanos levaram as propostas russas muito seriamente e as estudaram com profundidade”, disse o próprio Riabkov. “Agora, as coisas estão a ser chamadas pelos seus nomes e isso tem, em si mesmo, um efeito sanativo na nossa relação com o Ocidente”, comentou.

Kadri Liik, especialista em Rússia do think tank European Council on Foreign Relations ouvido pelo jornal The New York Times, afirmou que a seriedade com que os EUA se prepararam para o encontro de segunda-feira, apresentando-se com uma delegação grande e de alto nível, enviou um sinal importante a Moscovo. Comentando as diferentes declarações de Riabkov e antecipando o que se pode seguir, a analista diz que o dirigente “tentou manter uma posição flexível que permitia a Putin decidir como entender”. Assim, “caberá a Putin a decisão de continuar ou não estas conversações nas condições disponibilizadas pelos EUA”.