Uma semana depois, autoridades dizem ter retomado o controlo total do Cazaquistão
Foram detidas quase seis mil pessoas durante os protestos da última semana, nos quais morreram 164. Militares estrangeiros estão a garantir a segurança de “infra-estruturas estratégicas”.
Uma semana depois do início dos maiores protestos desde a independência do Cazaquistão, as autoridades dizem ter retomado o controlo total sobre todas as regiões do país.
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Uma semana depois do início dos maiores protestos desde a independência do Cazaquistão, as autoridades dizem ter retomado o controlo total sobre todas as regiões do país.
A normalidade parece ter retomado às ruas de Alma-Ata, mas os sinais de destruição continuam visíveis. Na zona central da maior cidade do país, a polícia ergueu checkpoints e nas ruas vêem-se lojas com janelas partidas, edifícios queimados e terminais de multibanco destruídos, descreve a Reuters.
Alguns supermercados reabriram no domingo, ao fim de vários dias em que estiveram encerrados, diz a AFP. De acordo com a Magnum, a maior empresa de retalho nacional, 15 das 68 lojas em Alma-Ata foram totalmente pilhadas. O Governo calcula que os prejuízos materiais dos actos de vandalismo andem em torno dos 175 milhões de euros.
A acalmia chegou ao fim de uma semana de protestos violentos que mergulharam o Cazaquistão num caos sem precedentes. As manifestações começaram nas províncias mais ocidentais, conhecidas pela exploração petrolífera, motivadas pela subida abrupta do preço do gás de petróleo liquefeito (GPL), um combustível muito usado no Cazaquistão por ser barato.
No entanto, a onda de contestação depressa alastrou a todo o país, adoptando uma toada antigovernamental, ao mesmo tempo que se tornava mais violenta. As autoridades viram-se rapidamente perante uma situação de descontrolo, com invasões de edifícios públicos, roubo de armas militares e até com a tomada do aeroporto de Alma-Ata.
No rescaldo dos confrontos, o Governo disse este domingo que foram detidas cerca de 5800 pessoas, incluindo “um grande número de cidadãos estrangeiros” – o Presidente Kassim-Jomart Tokaiev tem insistido na tese de que os protestos foram organizados e apoiados por forças externas.
O balanço das vítimas também tem subido. Pelo menos 164 pessoas morreram durante os protestos, a maioria das quais em Alma-Ata, segundo dados do Ministério da Saúde que representam uma subida acentuada face às informações dos dias anteriores que referiam pouco mais de 20 óbitos.
Num comunicado emitido este domingo, o gabinete presidencial garantia que “a situação foi estabilizada em todo o país”, embora decorressem ainda operações de “limpeza” em alguns locais.
As autoridades também explicaram que os elementos das forças militares russas e de outros aliados do país, enviadas a pedido de Tokaiev, têm estado envolvidos na segurança de “instalações estratégicas”, embora não tenham sido revelados mais pormenores. No entanto, alguns jornais internacionais afirmam que as forças de manutenção de paz estrangeiras têm estado a patrulhar o aeroporto de Alma-Ata, que deve reabrir na segunda-feira, e o cosmódromo de Baikonur, usado pela Rússia para os lançamentos de satélites e missões espaciais.
Os militares estrangeiros foram enviados para o Cazaquistão depois de Tokaiev ter pedido a intervenção da Organização do Tratado de Segurança Colectiva (OTSC), uma aliança militar composta por seis antigos Estados que pertenciam à União Soviética (Rússia, Cazaquistão, Bielorrússia, Arménia, Tajiquistão e Quirguistão) que funciona em termos idênticos à NATO. Os estados aliados autorizaram o envio de 2500 soldados para uma missão de “pacificação” que pode durar várias semanas.