Este modelo de debates não serve a democracia
O tempo destinado à troca de ideias é sensivelmente de 25 minutos, tendo cada interveniente cerca de 12 minutos em média para esclarecer os eleitores sobre o que pretende para o país. Entre interrupções e “larachas” a meio, o tempo vai ficando cada vez mais curto e o debate mais pobre.
Começou a ronda de debates que põe frente a frente os diversos líderes partidários que concorrem às próximas eleições legislativas marcadas para 30 de Janeiro.
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Começou a ronda de debates que põe frente a frente os diversos líderes partidários que concorrem às próximas eleições legislativas marcadas para 30 de Janeiro.
Muito se fala e se escreve sobre as causas da fraca participação dos cidadãos nas eleições e do seu afastamento da política que resulta em elevadas taxas de abstenção. Quase metade dos eleitores não exerce este tão importante direito cívico.
Todas as forças partidárias apelam agora ao voto e dirigem-se especialmente aos mais jovens. Ao contrário daquilo que muitos possam pensar, os mais novos estão cada vez atentos à política porque sabem que é dela que depende em grande parte o seu futuro. Da direita à esquerda as listas de candidatos a deputados à Assembleia da República incluem cada vez mais jovens. Mas de que forma o modelo de debates que temos vindo a assistir ajudará à aproximação dos cidadãos à política?
O tempo destinado à troca de ideias é sensivelmente de 25 minutos, tendo cada interveniente cerca de 12 minutos em média para esclarecer os eleitores sobre o que pretende para o país. Entre interrupções e “larachas” a meio, o tempo vai ficando cada vez mais curto e o debate mais pobre. A verdade é esta: não se debate nada, não se apresenta ideia nenhuma e nós ficamos sem perceber o projecto que cada candidato terá para melhorar o país - remetem-nos assim para a leitura dos programas.
Ora, a ideia dos debates é também clarificar os eleitores e o frente a frente servirá para que cada um deles defenda o seu programa eleitoral e apresente os seus argumentos. Pela importância destas eleições e tudo o que elas podem representar para o futuro da nação, sem dúvida alguma que merecemos mais que 25 minutos. Merecemos saber o que cada um deles quer implementar para a educação, para a saúde, justiça e por aí adiante.
O papel dos canais de televisão, mormente do serviço público, tem nesta matéria grandes responsabilidades, devendo, a bem da democracia, repensar-se o modelo que agora se apresenta. E não. Não nos estão a fazer favor nenhum, estariam isso a sim a cumprir com o seu papel e com a sua função.
Acabando o debate, vêm de seguida as emissões especiais onde os comentadores habituais e totalmente “isentos” tecem durante quase uma hora os mais diversos considerandos de um debate que durou 25 minutos, mas que verdadeiramente não existiu.
Tudo isto afasta os cidadãos que são no fim quem decide o desenho do quadro parlamentar e, por essa razão, é necessário e urgente que seja respeitado o poder que cada um de nós tem, até porque a democracia também é esclarecimento. Mas neste modelo de debate parece continuar-se a optar por um caminho perigoso onde a abstenção ganha cada vez mais protagonismo.
Se há quem tenha alguma culpa no afastamento dos cidadãos na participação cívica, a forma como se fazem estes debates não ajuda em coisa nenhuma. A essência do frente a frente é exactamente o contrário daquilo a que assistimos e assim não vamos mesmo a lado nenhum.