Podemos vai propor ao Parlamento que investigue abusos a menores na Igreja Católica espanhola

Iniciativa para a criação de uma comissão especial no Congresso será apresentada “nos próximos dias”, em conjunto com a ERC e o EH Bildu. Proponentes esperam contar com o apoio do PSOE, parceiro de coligação no Governo.

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A ministra dos Direitos Sociais de Espanha diz que a Igreja Católica "foi cúmplice demasiadas vezes, encobrindo a violência sexual contra as crianças" NELSON GARRIDO (ARQUIVO)

O Unidas Podemos vai propor, em conjunto com a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e com o Euskal Herria Bildu (EH Bildu) – partidos independentistas de esquerda da Catalunha e do País Basco, respectivamente – a criação de uma comissão parlamentar no Congresso dos Deputados de Espanha para investigar os abusos sexuais a menores no seio da Igreja Católica espanhola.

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O Unidas Podemos vai propor, em conjunto com a Esquerda Republicana da Catalunha (ERC) e com o Euskal Herria Bildu (EH Bildu) – partidos independentistas de esquerda da Catalunha e do País Basco, respectivamente – a criação de uma comissão parlamentar no Congresso dos Deputados de Espanha para investigar os abusos sexuais a menores no seio da Igreja Católica espanhola.

O anúncio foi feito por Jaume Asens, líder do grupo parlamentar do Unidas Podemos no Congresso, numa entrevista à Europa Press, publicada na segunda-feira ao final do dia.

A proposta para a criação da comissão especializada, informou Asens, vai ser apresentada “nos próximos dias” e pretende seguir o exemplo de iniciativas parlamentares semelhantes em países como a Alemanha, a Bélgica, a França ou a República da Irlanda.

O partido de esquerda radical espera que a iniciativa receba o apoio do Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), parceiro maioritário da coligação de Governo em Espanha.

“Seria estranho pensar que partidos como o PSOE se excluam desta iniciativa, porque ela é de senso comum, é razoável e vem no sentido daquilo que o Papa Francisco pede”, considera Asens.

O jornal digital El Diario, informa, no entanto, que a iniciativa parlamentar está a ser recebida com incómodo pelo PSOE. Pedro Sánchez ainda aguarda a resposta da Santa Sé à proposta de nomeação de Isabel Celaá, ex-ministra da Educação e ex-porta-voz do Governo, como nova embaixadora de Espanha no Vaticano, mandatada para renegociar os acordos entre o Estado espanhol e a Igreja Católica.

Esta não é, porém, a primeira vez que o Unidas Podemos traz o tema para o espaço político. Em Abril do ano passado, a ministra dos Direitos Sociais, Ione Belarra, apontou o dedo à Igreja Católica espanhola, durante um debate sobre a lei de protecção infantil na câmara baixa do Congresso.

“É uma verdade incómoda, mas há que dizer que, neste país, a Igreja Católica foi cúmplice demasiadas vezes, encobrindo a violência sexual contra as crianças. E isto tem de acabar”, defendeu a ministra do Podemos, citada pelo La Razón.

Em declarações ao PÚBLICO, em Outubro do ano passado, Jéssica Albiach, líder do grupo parlamentar do En Comú Podem – partido catalão que integra a coligação do Unidas Podemos – no parlamento da Catalunha, que lidera uma iniciativa semelhante a nível autonómico, também criticou a Conferência Episcopal Espanhola, por resistir a uma investigação mais aprofundada ao fenómeno dos abusos a menores por padres e funcionários clericais do país.

“Vemos a Igreja a dar mais explicações públicas por ter autorizado a gravação de um videoclipe numa catedral do que pelos casos de pederastia que ocorreram e que continuam ocultos no seio da Igreja”, lamentou. “Não pode haver zonas opacas, obscuras, num direito tão fundamental como é a protecção do direito à infância”.

Albiach lembrou que em França “o processo também começou no Parlamento e só depois é que a Conferência Episcopal Francesa assumiu a iniciativa” de investigar os abusos no país.

Um relatório elaborado durante quase três anos e publicado em Outubro por uma comissão independente francesa revelou que mais de 200 mil menores que estiveram sob a responsabilidade directa da Igreja Católica do país, entre 1950 e 2020, foram abusados sexualmente, no mesmo período, por dois mil padres e outros membros da hierarquia católica.