Peões ficaram sem metade de uma passadeira porque atrapalhava os carros
A entrada de uma garagem de um edifício de luxo nasceu em cima de uma passagem para peões. O empreiteiro reduziu-a a metade. A câmara diz que não foi avisada, mas vai reduzir a sua largura.
Na Avenida do Doutor Antunes Guimarães, um novo empreendimento habitacional de luxo no Porto, inaugurado recentemente, forçará ao corte de um pedaço de uma passagem para peões. A passadeira já lá estava quando o condomínio fechado foi construído mas, no final da obra, tornou-se necessário fazer alterações à sinalização marcada no alcatrão. Tudo isto porque o portão de entrada das garagens do edifício foi instalado precisamente no local onde a passadeira terminava. Para ultrapassar esta questão, a autarquia vai diminuir a largura das marcas pintadas na via, sobrando menos espaço para os peões atravessarem a rua em segurança. Uma falha de comunicação entre a câmara e a construtora levou a que o empreiteiro adiantasse a obra e fosse mais além, cortando a passadeira ao meio - que é como se mantém.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Na Avenida do Doutor Antunes Guimarães, um novo empreendimento habitacional de luxo no Porto, inaugurado recentemente, forçará ao corte de um pedaço de uma passagem para peões. A passadeira já lá estava quando o condomínio fechado foi construído mas, no final da obra, tornou-se necessário fazer alterações à sinalização marcada no alcatrão. Tudo isto porque o portão de entrada das garagens do edifício foi instalado precisamente no local onde a passadeira terminava. Para ultrapassar esta questão, a autarquia vai diminuir a largura das marcas pintadas na via, sobrando menos espaço para os peões atravessarem a rua em segurança. Uma falha de comunicação entre a câmara e a construtora levou a que o empreiteiro adiantasse a obra e fosse mais além, cortando a passadeira ao meio - que é como se mantém.
A construtora responsável pela obra - CleverBuild - adianta que, com a autorização da câmara do Porto, iria deslocar a passagem para peões mais para o lado esquerdo, de forma a manter a largura da mesma. Só que, desta forma, no lado oposto à entrada das garagens, as marcações passariam a terminar, não no passeio, mas na via de trânsito em cima de outra passadeira marcada na rua de Eduardo Allen, onde há também um sinal de Stop marcado no chão.
Ainda assim, deu-se início aos trabalhos de remoção da sinalização. Só que a obra ficou a meio e, de há uns tempos para cá, sobra apenas no chão metade da passagem para peões, agora cortada ao meio. Os carros que saem das garagens já não têm de entrar de frente na passadeira, mas para os peões sobra agora menos espaço para atravessarem a rua em segurança.
A CleverBuild garante que a autarquia deu o aval para a deslocação da passagem para peões e explica como, no seu entendimento, seria feita essa alteração: A metade que sobra da passadeira seria, de acordo com a construtora, aproveitada para depois se pintar o resto na direcção contrária à parte que foi apagada, ou seja, passaria a estar um pouco mais para a esquerda - na perspectiva de quem encara o condomínio de frente. Confrontada com a circunstância de não existir largura suficiente para que a passadeira terminasse nos limites do passeio, a construtora remete a questão para a autarquia.
Ao PÚBLICO, a câmara diz ter existido uma falha de comunicação na troca de informação com a construtora, afirmando ter feito seguir um despacho que dá conta da intenção de tornar a passadeira mais pequena sem a deslocar. Só que esse despacho, adianta, nunca chegou ao requerente. Porém, sublinha, afirma também que o empreiteiro apagou parte da passadeira sem comunicar à câmara. E por isso mesmo, diz, será comunicado à construtora que volte a repintar a passadeira até ao limite do portão das garagens. Ao contrário do que a CleverBuild afirma, a passadeira não será deslocada mais para a esquerda, mas perderá largura, fixando os limites entre a caldeira de uma árvore que lá está e a entrada para o estacionamento do edifício.
Quem passa agora frente ao condomínio fechado designado por Villas Avenida, composto por sete habitações de luxo e não muito longe do bairro da Fonte da Moura, em Aldoar, tem de prestar atenção à sinalização horizontal para não colocar o pé fora do risco da passadeira cortada a meio. A passagem para peões que lá está perdeu largura para abrir caminho para as viaturas poderem sair para a rua sem atravessarem pelo mesmo sítio onde as pessoas caminham para mudar de passeio. Não é esta a obra final, mas, de qualquer forma, a alternativa que a câmara apresenta não evitará que a passadeira fique mais estreita.
Antes de chegar resposta da autarquia, a construtora afirmava que a obra seguiria outro rumo e apresentava uma justificação para os trabalhos de deslocação da passadeira terem parado a meio, sobrando agora apenas metade da passagem: “No dia em que o estavam a fazer começou a chover”. Nos dias seguintes a chuva já não seria um problema, mas outros motivos atravessavam-se pelo caminho: “Depois meteram-se as festas e a empresa que o ia fazer ainda não conseguiu acabar o trabalho”. Outro motivo, avança a CleverBuild, passaria pela impossibilidade de ter no local agentes da PSP, que têm de estar presentes para controlar este tipo de obras na via pública.
De acordo com a autarquia, a passadeira já não vai ser deslocada para o lado, como a construtora avançava, de forma a manter-se a largura da mesma. Porém, continua até hoje cortada ao meio, deixando menos espaço para os peões. A câmara diz que a passagem para peões terá de ser repintada, mas perderá sempre largura para dar espaço aos automóveis que saem do empreendimento de luxo.