Giovana Madalosso é a convidada esta noite do primeiro Encontro de Leituras de 2022

A escritora brasileira conversará sobre o seu romance Suíte Tóquio a 11 de Janeiro, às 22h de Lisboa (19h de Brasília). A sessão acontecerá no Zoom, como habitualmente, com a ID 863 4569 9958 e a senha de acesso 553074.

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Giovana Madalosso Renato Parada

Quando começa um romance, Giovana Madalosso compra um caderno, escreve um possível título na lombada e guarda lá dentro tudo o lhe parece que poderá vir a usar nessa obra que costuma demorar um ano a escrever. Contou-o numa das crónicas que assina no jornal literário Rascunho.

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Quando começa um romance, Giovana Madalosso compra um caderno, escreve um possível título na lombada e guarda lá dentro tudo o lhe parece que poderá vir a usar nessa obra que costuma demorar um ano a escrever. Contou-o numa das crónicas que assina no jornal literário Rascunho.

No caderno do seu primeiro romance, Tudo pode ser roubado, de 2018, guardou uma notícia de jornal sobre uma mulher que tinha morrido e deixado mais de 300 blusas verdes tricotadas no sótão.

No do segundo, Suíte Tóquio, editado no Brasil em 2020 pela Todavia e um ano depois em Portugal pela Tinta-da-china, guardou uma “Autorização para viajar desacompanhada” que fez para a sua filha. Foi essa folha que lhe deu a ideia para o episódio com que arranca o primeiro capítulo deste livro em que Cora, a filha de Fernanda, é raptada por Maju, a ama que toma conta dela na ausência da mãe. “Estou raptando uma criança. Tento afastar esse pensamento, mas ele persiste enquanto descemos pelo elevador, cumprimentamos o Chico, saímos pelo portão. São coisas que fazemos todos os dias, descer, cumprimentar o Chico, sair pelo portão, andar pisando só nas pedras pretas ou nas brancas da calçada, mas hoje é diferente mesmo que eu não esteja fazendo nada de diferente, porque tenho a sensação de que o exército branco olha para mim. Foi coisa de Dona Fernanda, inventar esse nome, exército branco.”

Assim começa Suíte Tóquio, romance que estará em discussão no próximo Encontro de Leituras, a 11 de Janeiro, às 22h de Lisboa (19h de Brasília). A sessão acontecerá no Zoom, como habitualmente, com a ID 863 4569 9958 e a senha de acesso 553074, e terá a escritora brasileira, que nasceu em Curitiba em 1975 e vive em São Paulo, como convidada. Aqui fica o link.

No livro, as duas personagens femininas têm o mesmo protagonismo, em pé de igualdade, e ambas contam a história na primeira pessoa. As suas vozes aparecem em capítulos alternados que têm mais ou menos o mesmo número de páginas. Para a escritora esse foi o grande desafio, conseguir encontrar uma voz “muito singular” para cada uma das suas personagens.

Até ter sido mãe, Giovana Madalosso, que se licenciou em jornalismo, trabalhou como redactora publicitária e é argumentista de televisão, nunca tinha pensado naquelas outras mulheres, as empregadas e as amas, que, numa sociedade tão classista e estratificada como o Brasil, ajudam as mulheres a criar as crianças. Quando começou a levar a sua filha para a praça e a observar o tal “exército branco”, as dezenas de amas que todos os dias ali se reúnem a passear os filhos de outras mulheres, viu-as também como um “exército invisível”. Porque, tal como explicou no Festival Folio, em Óbidos, em Outubro, “carregam o nosso país nas costas e ninguém fala nelas”. São mulheres com poucos direitos, muitas viajaram do Nordeste brasileiro para as grandes cidades e deixaram os seus próprios filhos na terra.

Suíte Tóquio é um livro de crítica social, que chama a atenção para a forma como no Brasil são tratadas as mulheres que permitem que outras mulheres sejam as mulheres que querem ser, profissional e socialmente, mas também reflecte sobre as expectativas e os papéis atribuídos a cada género, falando-nos igualmente das mães que não conseguem ter uma ligação emocional com os seus filhos. Temas que a têm acompanhado, pois os contos de A teta racional, o seu primeiro livro publicado em 2016, já abordavam a experiência da maternidade e da amamentação.

O clube de leitura do PÚBLICO e do jornal brasileiro Folha de S. Paulo, que junta leitores de língua portuguesa, acontece uma vez por mês e discute romances, ensaios, memórias, literatura de viagem e obras de jornalismo literário, na presença de um escritor, editor ou especialista convidado. É moderado pela jornalista Isabel Coutinho, responsável pelo site do PÚBLICO dedicado aos livros, o Leituras, e pelo jornalista da Folha de S. Paulo Eduardo Sombini, apresentador do Ilustríssima Conversa, podcast de livros de não-ficção.

Paulina Chiziane, José Eduardo Agualusa, Tatiana Salem Levy, Afonso Cruz, Laurentino Gomes, Fernanda Torres, Afonso Reis Cabral, Jeferson Tenório, Marília Garcia, José Luís Peixoto, Nádia Battella Gotlib, biógrafa de Clarice Lispector, Valter Hugo Mãe e Ondjaki são os escritores que já passaram por lá e as suas sessões podem ser recordadas no podcast do Encontro de Leituras.