Ana Catarina Mendes quebra tabu: “Prefiro que o PS tenha uma maioria absoluta”
Enquanto António Costa apelou a uma maioria que dê estabilidade governativa, afirmando que tal não significa que pretenda “governar sozinho”, Ana Catarina Mendes deu o passo que até agora nenhum socialista da primeira linha tinha dado: pediu uma maioria absoluta.
O arranque da ronda de debates televisivos levou novamente António Costa a apelar à maioria – mas sem pronunciar a palavra “absoluta”. Se o secretário-geral do PS não foi além do pedido para governar com “metade mais um” dos votos, a líder parlamentar socialista, Ana Catarina Mendes, deu um passo em frente e agarrou a “expressão maldita”, pedindo claramente uma “maioria absoluta” para os socialistas.
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O arranque da ronda de debates televisivos levou novamente António Costa a apelar à maioria – mas sem pronunciar a palavra “absoluta”. Se o secretário-geral do PS não foi além do pedido para governar com “metade mais um” dos votos, a líder parlamentar socialista, Ana Catarina Mendes, deu um passo em frente e agarrou a “expressão maldita”, pedindo claramente uma “maioria absoluta” para os socialistas.
“Prefiro que o PS tenha uma maioria – e não tenho nenhum receio, é a Ana Catarina a dizer –, uma maioria absoluta”, declarou no programa Princípio da Incerteza, da TSF e CNN Portugal.
Vincando que era Ana Catarina Mendes (e não António Costa) a dizê-lo, a socialista falou de si na terceira pessoa (curiosamente como o primeiro-ministro fez no debate, horas antes) e procurou afastar o peso negativo que outrora a expressão maioria absoluta ganhou, até de acordo com as palavras do primeiro-ministro. “As características de António Costa são de um homem de diálogo, conhecem-no tão bem quanto eu. Teve maioria absoluta na Câmara Municipal [de Lisboa], isso não fez dele um tirano, um déspota, antes pelo contrário”, afirmou.
Horas antes, o primeiro-ministro usara os mesmos argumentos, mas sem dizer a palavra “absoluta”. António Costa afirmou no debate deste domingo com Rui Tavares, do Livre, que não são as minorias ou maiorias que mudam a sua acção governativa, garantindo que não será por governar com maioria que não haverá um diálogo com as restantes forças políticas. “Já governei em maioria [na Câmara de Lisboa], já governei em minoria. Não foi isso que mudou António Costa. O António Costa foi sempre o mesmo...”, disse. Mas ainda assim, não largou o apelo à maioria, afunilando as eleições a um duelo entre o PS e o PSD, bipolarizando o discurso.
“A única forma de termos uma maioria progressista em Portugal é com uma maioria do Partido Socialista [porque] temos que garantir que não andamos de crise em crise...”, declarou António Costa, insistindo numa maioria estável “que permita governar durante quatro anos”.
Costa dizia que Portugal não gostava de maiorias
A reticência em apelar a uma maioria absoluta recorrendo a essa expressão poderá ter várias explicações. E não é preciso recuar muito para encontrar uma justificação. Em 2019, a um mês das eleições legislativas, António Costa dizia que os portugueses não tinham boa memória das maiorias no Parlamento.
“Eu não tenho dúvidas nenhumas de que os portugueses não gostam de maiorias absolutas. E têm más memórias das maiorias absolutas, seja do PSD, seja do PS. Não vou dizer se é justo ou injusto, é assim. Os portugueses não gostam de maiorias absolutas e têm muitos receios”, disse a 28 de Agosto, em entrevista à TVI. Nessa data, a reedição da “geringonça” estava no horizonte.
Este domingo, enquanto reiterava ser um político de diálogos, Costa dizia também ser preferível jogar pelo seguro e colocar o poder nas mãos do PS. “Não podemos é correr o risco de voltar a acontecer o que aconteceu neste orçamento”, concluiu.