O direito e o dever a desligar do trabalho

Tal como nas conexões humanas, temos de aceitar que há momentos em que o trabalhador oferece um pouco mais à sua entidade patronal, como há outros em que o patronato assume esse ónus. Falamos, portanto, de balanço e equilíbrio.

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Sigmund/Unsplash

Um contrato de trabalho é, ou deveria ser, como manter uma relação. Deve assentar em confiança mútua, respeito, estabilidade e, como em tudo na vida, justiça. Tal como nas conexões humanas, tem de haver reciprocidade em ambiente de trabalho. Tal como nas conexões humanas, temos de aceitar que há momentos em que o trabalhador oferece um pouco mais à sua entidade patronal, como há outros em que o patronato assume esse ónus. Falamos, portanto, de balanço e equilíbrio — ou, pelo menos, é esse o meu prisma, não fosse este um texto de opinião.

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Um contrato de trabalho é, ou deveria ser, como manter uma relação. Deve assentar em confiança mútua, respeito, estabilidade e, como em tudo na vida, justiça. Tal como nas conexões humanas, tem de haver reciprocidade em ambiente de trabalho. Tal como nas conexões humanas, temos de aceitar que há momentos em que o trabalhador oferece um pouco mais à sua entidade patronal, como há outros em que o patronato assume esse ónus. Falamos, portanto, de balanço e equilíbrio — ou, pelo menos, é esse o meu prisma, não fosse este um texto de opinião.

2021 foi, finalmente e muito bem, o ano em que o Parlamento português aprovou o direito a desligar. Numa espécie de didascália, quero relembrar que isto só aconteceu porque a actual maioria parlamentar é de esquerda — e, já agora, gostaria que assim continuasse a ser após 30 de Janeiro de 2022.

Otto Von Bismarck tem uma famosa frase que ressoa cá dentro há muitos anos: “A política é a arte do possível”. Por um lado, concordo, claro; por outro, acredito que é sempre possível tentarmos ir mais longe. Este direito a desligar é importantíssimo para os trabalhadores, como esta casa tem vindo a explicar há muitos anos. Este direito a desligar tem, no entanto, de ser incutido e trabalhado na cultura patronal portuguesa, como esta excelente peça de 2018, assinada por Mariana Correia Pinto, evidencia. E sim, a pessoa a dar o testemunho sou eu.

O que me conduz ao outro lado deste texto: o dever de desligar. Qualquer ser humano só é pleno naquilo que faz se estiver feliz. Seja isso estar com a família e amigos, apreciar as artes, fazer desporto, seja isso o que for, porque o dia só tem 24 horas. Pensando numa lógica de pie chart, é necessário trabalhar tudo isto por percentagens. Trabalhadores que cultivem os seus interesses/actividades paralelas e cuidem de si são sempre melhores profissionais, pois é precisamente isso que os torna mais bem preparados.

Daí que toda esta equação tenha de fazer parte do quotidiano laboral, e daí também querer ressalvar o dever de desligar. Em prol da saúde física e mental, em prol da produtividade, em prol do rendimento das empresas, em prol de cada um de nós e dos outros. Colocando tudo isto na balança, estou segura de que a economia portuguesa continuará, ainda mais, a crescer.