Rita e Fernando (@biciculturindo): o melhor das viagens, e da vida, são mesmo as pessoas
Começaram por ser dois e já são quatro a pedalar pelo mundo. Mais do que uma viagem de bicicleta, @biciculturindo é um projecto de vida.
Para nós 2021 foi um autêntico carrossel e um começar de novo várias vezes, como se tivessem acontecido vários anos num só. Para dizer a verdade, foi preciso sentar-nos a pensar na retrospectiva deste ano, para nos darmos conta que as fotos mais emblemáticas da nossa viagem, as que alcançaram mais público e inspiraram mais pessoas, foram tiradas em Janeiro de 2021. Nós os dois na Costa do Marfim, com as nossas fiéis bicicletas supercarregadas, o nosso filho Yasha que viajava no reboque e a Eva na barriga.
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Para nós 2021 foi um autêntico carrossel e um começar de novo várias vezes, como se tivessem acontecido vários anos num só. Para dizer a verdade, foi preciso sentar-nos a pensar na retrospectiva deste ano, para nos darmos conta que as fotos mais emblemáticas da nossa viagem, as que alcançaram mais público e inspiraram mais pessoas, foram tiradas em Janeiro de 2021. Nós os dois na Costa do Marfim, com as nossas fiéis bicicletas supercarregadas, o nosso filho Yasha que viajava no reboque e a Eva na barriga.
Foi dos meses mais felizes e tristes de sempre. Feliz porque estávamos genuinamente felizes a viajar, onde não nos faltava comida (em comparação com outros locais onde estivemos) nem abrigo e onde o nosso filho mais brincou e riu e correu, sempre rodeado de dezenas de outras crianças, diferentes a cada paragem. É sempre difícil definir se os pais viajam com os filhos apenas porque desejam muito continuar a viajar ou porque querem mostrar o mundo aos filhos, mas se em algum momento foi o egoísmo que nos moveu, o Yasha mostrou-nos que foi o acto mais corajoso e altruísta que fizemos por ele.
E triste porque era o fim da nossa viagem. Não um fim categórico mas uma pausa demasiado longa, sem data à vista. Sem fazermos uma ideia real do impacto social que a covid-19 estava a causar em quase todo o mundo, aterrámos em Portugal, no meio da pior vaga até então. Felizmente, não nos sabíamos comportar segundo “o novo normal”, não sabíamos quantas vezes devíamos desinfectar as mãos, onde não tocar, onde não pisar, a distância entre pessoas e tudo nos parecia saído de um filme de mau gosto. Mas o que mais doeu foi ver a perplexidade do Yasha ao aproximar-se das outras crianças e ser confrontado com a frieza e indiferença das mesmas.
No equinócio de Março, a Eva vem ao mundo mostrar que afinal um segundo filho não significa uma continuação, mas sim um recomeço profundo. A nossa bolha de amor era uma espécie de nuvem apocalíptica. Por tudo o que a pandemia trouxe e por tudo o que um segundo filho afinal pode trazer.
Tínhamos urgência no contacto humano. Em sair, em ver, em respirar, em estar, em tocar! O abraço é uma das ferramentas mais poderosas do ser humano e esta maldita doença exacerbou ainda mais o seu valor. Sentíamos tanta falta!
Em finais de Junho, metemo-nos na nossa autocaravana ao encontro de viajantes. Pelo lado humano e pela certeza da troca de histórias memoráveis. (Quase) todas aquelas pessoas que são presença constante nos bastidores das nossas redes virtuais e fazíamos questão de sentir o cheiro. E abraçar! Foi uma road trip maravilhosa que nos voltou a encher o coração e a esperança (e nos fez sentir imensas saudades das bicicletas também).
A melhor despedida que poderíamos ter feito de Portugal, teve lugar em Estremoz, entre telhas, chapas de zinco onduladas, portas e madeiras recuperadas, pedras de xisto, enxadas, tanques e pedreiras ao abandono. Mas a magia desta quinta, vai muito para além do trabalho a várias mãos. Durante o mês que lá estivemos, foi passagem de inúmeros viajantes e lugar de encontros tão inesperados quanto reconfortantes.
Mas também não é só isto que torna esta futura floresta especial... Os anfitriões, João e Valérie (Pedalar Devagar), são as nossas “musas inspiradoras” das viagens em bicicleta (e não só), uma espécie de ídolos de banda desenhada, sábios e indestrutíveis. Já estava mais do que na altura de consolidarmos a nossa amizade, que é um lugar muito mais prestigiante do que o pedestal do altar. Torná-los ainda mais reais nas nossas vidas ajuda-nos a acreditar em nós mesmos e nos nossos sonhos.
E depois de vários abraços carregados de emoção fomos, mais um vez neste ano, embora. A nossa autocaravana, que passaria a ser a casa dos quatro, rumava a França, para um novo ciclo de trabalho para juntar dinheiro.
Dizemos, com frequência, que o melhor das viagens são as pessoas. Creio que não será disparate nenhum passarmos a dizer que o melhor da vida, são mesmo as pessoas. Pelo menos, para nós e neste ano de 2021, foram mesmo as pessoas!