Redução do período de isolamento só entra em vigor para a semana. “Isto está a gerar ruído, confusão”
Para que a redução dos dias de isolamento comece a ser aplicada, é preciso, primeiro, proceder à “actualização de normas” e à “reparametrização do sistema de informação”, explica a Direcção-Geral da Saúde.
A redução do período de isolamento para os infectados com SARS-CoV-2 sem sintomas e para os contactos de alto risco foi decidida com rapidez pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), pressionada com a brutal escalada de novos casos de infecção devido à variante Ómicron. Mas a alteração esta quinta-feira anunciada só entra em vigor para a semana, o que está a provocar confusão nos centros de saúde.
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A redução do período de isolamento para os infectados com SARS-CoV-2 sem sintomas e para os contactos de alto risco foi decidida com rapidez pela Direcção-Geral da Saúde (DGS), pressionada com a brutal escalada de novos casos de infecção devido à variante Ómicron. Mas a alteração esta quinta-feira anunciada só entra em vigor para a semana, o que está a provocar confusão nos centros de saúde.
“As pessoas ouvem a directora-geral da Saúde dizer na televisão que o isolamento foi reduzido para sete dias, querem ter alta, e os médicos explicam que ainda são 10 dias. Isto está a gerar ruído, confusão”, lamenta o vice-presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), António Luz Pereira, que admite que haja médicos a aplicar já a medida anunciada, até porque o sistema informático o permite. “O ideal seria cumprir a norma ainda em vigor, mas não posso garantir que toda a gente o faça”, assume, lembrando que a “justificação técnica” para a mudança já existe.
O anúncio foi feito através de uma curta nota de imprensa, em que a DGS adianta que informou o Ministério da Saúde desta decisão, a qual “está alinhada com orientações de outros países e resulta de uma reflexão técnica e ponderada, face ao período de incubação da variante agora predominante, a Ómicron”. A “operacionalização” da alteração é atirada, porém, para a próxima semana, porque é necessária a “actualização de normas” a “reparametrização do sistema de informação”, justifica a DGS.
A novidade foi transmitida aos médicos de família pela comunicação social ou pelos doentes. “À trincheira não chegou tão depressa”, ironiza o ex-presidente da APMGF, Rui Nogueira, que sublinha também que, sem mudança oficial das normas, os médicos de família “ainda não têm ordem” para libertarem mais cedo as pessoas em isolamento domiciliário. Mas há muitas que estão já a telefonar ou enviar mails e SMS com perguntas. “O entendimento das pessoas é que [o período de isolamento] passou para sete dias, mas não passou. Vai passar. Valia a pena dizer já a partir de que dia é que isso vai acontecer”.
Satisfeito com a rapidez da decisão da DGS, o bastonário da Ordem dos Médicos, Miguel Guimarães, também lamenta não tenha efeito imediato. “Só vai ter daqui a uns dias, o que é mau”, criticou Miguel Guimarães, em declarações à RTP, voltando a defender que esta medida não basta e que é necessário alterar outros pontos da norma da DGS (004/2020) que define os procedimentos a adoptar na “abordagem do doente com suspeita ou confirmação de covid-19”.
"Primeiro, criam-se as regras"
À Lusa, a directora-geral da Saúde garantiu que todos os serviços do Ministério da Saúde implicados nesta resposta estão a trabalhar com a “máxima vontade e capacidade” para que a redução do período de isolamento nas duas circunstâncias anunciadas possa entrar em vigor para a semana, sem especificar datas. Lembrando que desde o início da pandemia já foram feitas “muitíssimas alterações, algumas até grandes, quase de mudança de paradigma da resposta à pandemia”, Graça Freitas argumentou que as alterações “são sequenciais”. “Primeiro criam-se as regras, digamos assim, e depois as regras têm que ser operacionalizadas”.
Revelou ainda que vai também ser alterado o critério que consta da norma e que define como contactos de alto risco as pessoas com as duas doses de vacina que coabitam com um doente. As que já fizeram a dose de reforço vão deixar de ser consideradas contacto de alto risco e podem continuar com a sua vida normal, mesmo vivendo com uma pessoa doente. Mas “ficam responsáveis por monitorizar o eventual aparecimento de sintomas”, e, se isso acontecer, devem ligar para a linha SNS24 e “ter precauções em relação a terceiros”.
A nova abordagem não inclui, pelo menos por enquanto, alterações para as crianças, na altura do regresso às aulas. Enquanto não tiverem as duas doses da vacina contra a covid-19, as crianças continuam a ter que cumprir isolamento em caso de contacto com um infectado, ainda que que o período seja também encurtado para sete dias.
“Enquanto não tiverem o esquema vacinal primário completo e tiverem passado alguns dias da toma da segunda dose, ainda não podem ser isentas de isolamento”, à semelhança do que acontece com os adultos ainda não vacinados com a dose de reforço, explicou à RTP.