Covid-19. Informação científica sobre redução de período de isolamento é “pouco robusta”

Nos EUA, reduziu-se o período de isolamento das pessoas com teste positivo mas assintomáticas de dez para cinco dias. No Reino Unido, a redução foi de dez para sete dias. Contudo, a Associação Nacional do Médicos de Saúde Pública diz que a informação disponível para sustentar esta medida ainda “não é muito robusta”.

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Nuno Ferreira Santos

A Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública considerou esta quarta-feira que a informação científica que suporta a redução do período de isolamento de doentes com covid-19 “não é muito robusta”, defendendo que as vantagens desta medida devem ser discutidas.

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A Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública considerou esta quarta-feira que a informação científica que suporta a redução do período de isolamento de doentes com covid-19 “não é muito robusta”, defendendo que as vantagens desta medida devem ser discutidas.

As autoridades de Saúde norte-americanas reduziram de dez para cinco dias a duração do período de isolamento das pessoas que testam positivo para a covid-19, desde que estejam assintomáticas, e o Governo britânico reduziu esse prazo de dez para sete dias para pessoas vacinadas que ficaram infectadas.

Segundo fonte dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos, esta orientação está em sintonia com indicações crescentes de que as pessoas infectadas com covid-19 são mais contagiosas dois dias antes e três dias depois de desenvolverem sintomas.

O presidente da Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP), Ricardo Mexia disse à Lusa compreender as razões que levam a pôr em cima da mesa a redução do período de isolamento profiláctico, mas defendeu ser “importante perceber que a evidência (informação) que suporta essa decisão não é muito robusta”.

“Nós sabemos que há uma maior carga viral num momento próximo do início dos sintomas e, portanto, essa possibilidade de reduzir o período de isolamento contribui para um maior cumprimento da medida, no sentido em que é metade do tempo de isolamento anteriormente preconizado, mas do ponto de vista da evidência [informação] científica que a suporta ela não é assim tão robusta e, portanto, acho que temos que discutir as vantagens da medida”, defendeu.

Para o médico de Saúde Pública e epidemiologista, a decisão é uma questão “mais operacional” do que propriamente de saúde.

"Questão operacional” para não comprometer economia

“Eu percebo que é uma questão mais operacional e que fruto da enorme transmissibilidade [da variante Ómicron] isto compromete muito o posicionamento da economia, porque estamos efectivamente a pôr muita gente em casa em isolamento e, portanto, reduzir esse tempo para metade, naturalmente, reduz o impacto de forma muito significativa”, justificou.

Questionado se perante o aumento exponencial de casos covid-19, e a confirmar-se a menor gravidade da infecção causada pela variante Ómicron do coronavírus SARS-CoV-2, devia deixar-se que as pessoas se imunizassem naturalmente, o epidemiologista afirmou que “a questão da imunidade natural talvez não seja o caminho”.

“A questão que se coloca a meu ver é se estamos dispostos a assumir o que isso implica, que é respectivamente passarmos a lidar mais com a doença do que com a infecção”, salientou.

Ricardo Mexia explicou que é deixar de estar à procura de episódios assintomáticos e ter a capacidade de resposta para lidar com os casos. “Se acharmos que o nosso sistema de saúde aguenta suportar depois o impacto dos novos casos na prestação sem comprometer quer a oferta covid, quer a oferta de cuidados de saúde para outras doenças, então essa é uma possibilidade”, afirmou.

Alertou, contudo, não ser linear e que perante um aumento de casos — que pode ser muito elevado —, a fracção de casos com gravidade, que embora seja “bastante mais pequena”, atendendo à cobertura vacinal, não represente um número significativo de casos que depois precisam de ser tratados pelo sistema de saúde.

“Se nós acharmos que temos essa capacidade e assumirmos que vai aumentar quer a severidade, quer a mortalidade isso é uma possibilidade”, rematou.

Portugal registou hoje um novo máximo de novas infecções diárias desde o início da pandemia (26.867), segundo a Direcção-Geral da Saúde. Desde Março de 2020, já morreram 18.921 pessoas em Portugal e foram contabilizados 1.330.158 casos de infecção.