A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria cria uma revista em Serpins
A revista assinala os 11 anos do projecto, quer divulgar o trabalho da associação A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria (MPAGDP) e provar que a vila de Serpins não é “no fim do mundo”.
O realizador Tiago Pereira lança em Janeiro uma revista para divulgar o trabalho da associação A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria (MPAGDP) e para provar que a vila de Serpins não é “no fim do mundo”.
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O realizador Tiago Pereira lança em Janeiro uma revista para divulgar o trabalho da associação A Música Portuguesa a Gostar Dela Própria (MPAGDP) e para provar que a vila de Serpins não é “no fim do mundo”.
A edição da Serpins Magazine, semestral e em papel, servirá para Tiago Pereira assinalar os 11 anos do projecto MPAGDP, que em 2020 se transferiu de Lisboa para Serpins, uma pequena vila no concelho da Lousã, na região centro do país. “Vejo isto como uma espécie de portal, eu vivo em Serpins, mas continuo a estar no mundo inteiro. Isto não me condiciona de forma nenhuma. Ainda me abre mais do que eu estivesse em Lisboa ou numa grande cidade”, afirmou Tiago Pereira à agência Lusa.
A revista, com cerca de 80 páginas, documenta algumas das práticas da associação, no trabalho de registo da memória dos portugueses, seguindo os caminhos da tradição oral, seja uma música, uma dança ou uma história de vida. Esse é um dos focos da MPAGDP, desde que foi criada em Janeiro de 2011, somando cerca de 6.000 vídeos publicados num portal na Internet, protagonizados com dezenas de pessoas, músicos profissionais, amadores, cidadãos anónimos que partilham saberes.
“É preciso esta memória da tradição oral, da música que ninguém conhece. E esta coisa de ser o Robin dos Bosques da música portuguesa em Portugal e de mostrares tudo o que é desconhecido e que ninguém dá valor. É ouvir, dar-lhes voz, dar-lhes dignidade, puxar pela sua auto-estima, mostrar que têm espaço”, disse.
Segundo Tiago Pereira, a revista é criada com a premissa de que Serpins é “uma janela aberta para o mundo”, contrariando o que foi sentindo quando se mudou para esta localidade. “Eu vivo aqui em Serpins há dois anos, mas vivo num tempo atípico [por causa da pandemia], não conheço muita gente. Do que vou percebendo, as pessoas dizem que Serpins é no fim do mundo e aquilo incomodou-me”, contou.
Por isso, aplica em Serpins “uma posição político-filosófica sobre a vida”, de abertura aos outros: “Criei esta espécie de convite aos músicos para virem gravar em Serpins. [...] Eu vivo aqui, vou ter um centro interpretativo, qualquer pessoa pode vir cá e escutar Portugal aqui. Há uma janela aberta”.
O Centro Interpretativo da MPAGDP ficará localizado numa antiga adega, nas margens do rio Ceira, e cujas obras aguardam ainda licença camarária. A ideia é que o centro interpretativo abra até ao primeiro trimestre de 2023. Até lá, Tiago Pereira continuará a gravar e a documentar a tradição oral, a filmar e a produzir. Em 2022, por exemplo, sairá um álbum do músico Sílvio Rosado, com quem Tiago Pereira divide o projecto Sampladélicos.
Profusamente ilustrado com fotografias, o primeiro número da Serpins Magazine inclui, por exemplo, um artigo sobre as tunas rurais da região do Marão e Alvão, outro sobre a tradição dos bordados de Glória do Ribatejo e uma galeria de imagens sobre cantores e tocadores de música cigana.
A revista tem ainda um testemunho de Cristina Garcia, parceira de Tiago Pereira na MPAGDP, sobre a intervenção social da associação junto da população mais idosa, protagonista de muitos dos vídeos gravados. Pode ainda ler-se um artigo científico do etnomusicólogo Hélder Martins sobre o trabalho de arquivo etnográfico e a “missão humana” da MPAGDP.