Como as empresas — e o funcionários — podem evitar burnouts

As organizações precisam de se responsabilizar pelo burnout, mas os empregados também podem ser parte da solução. Podemos trabalhar muito para identificar se estamos todos esgotados, tentar perceber quão frequentemente nos sentimos exaustos, desligados e cínicos.

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Kelly Sikkema/Unsplash

Em tempos menos atípicos, o burnout é uma excepção. Com a pandemia de covid-19, este quase se afigura como o normal. De acordo com Jennifer Moss, as organizações deveriam olhar-se com atenção ao espelho para perceberem finalmente que estão a fomentar uma cultura de trabalho excessivo que só piora as coisas. A autora, oradora e especialista em bem-estar no local de trabalho escreveu The Burnout Epidemic: The Rise of Chronic Stress and How We Can Fix It (A Epidemia de Burnout: A Ascensão do Stress Crónico e Como o Podemos Resolver, numa tradução livre para português) para ajudar a pôr um travão nesta crise antes que todos nós atinjamos um muro.

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Em tempos menos atípicos, o burnout é uma excepção. Com a pandemia de covid-19, este quase se afigura como o normal. De acordo com Jennifer Moss, as organizações deveriam olhar-se com atenção ao espelho para perceberem finalmente que estão a fomentar uma cultura de trabalho excessivo que só piora as coisas. A autora, oradora e especialista em bem-estar no local de trabalho escreveu The Burnout Epidemic: The Rise of Chronic Stress and How We Can Fix It (A Epidemia de Burnout: A Ascensão do Stress Crónico e Como o Podemos Resolver, numa tradução livre para português) para ajudar a pôr um travão nesta crise antes que todos nós atinjamos um muro.

Moss falou com a Reuters sobre sobreviver intacto à pandemia.

Fez investigação sobre como as pessoas se sentem agora. O que concluiu?
Durante a segunda vaga da covid-19, concluímos que apenas 2% das pessoas classificaram o seu bem-estar como excelente e 89% disseram que a vida profissional estava a piorar. Estávamos a contar que as pessoas se sentissem exaustas, trabalhassem mais horas durante o dia e perdessem eficiência. Mas também descobrimos que o cinismo estava em alta: as pessoas estão a começar a sentir que não têm qualquer controlo sobre os desfechos. Isso é realmente perigoso.

Como define, especificamente, o burnout?
É um stress crónico no local de trabalho que não é gerido. Há seis causas principais: uma carga de trabalho insustentável, uma falta de controlo percepcionada, recompensas insuficientes, falta de uma comunidade de apoio, falta de justiça e valores e competências desajustados.

As empresas sabem que algo de sério se está a passar? Estão a fazer o suficiente para o tentar travar?
Os líderes estão preocupados com o facto de as pessoas estarem a abandonar as empresas, então têm acrescentado algumas estratégias de bem-estar à carteira. Isto colocou os funcionários no lugar do condutor. Por exemplo, temos visto mais empresas a adiarem o regresso aos escritórios. Estratégias de bem-estar podem ser uma coisa boa, mas por vezes são um penso rápido para um problema muito maior, que precisa de ser gerido a montante.

O que deveriam as empresas fazer para prevenir o burnout?
Precisam de procurar na raiz as causas do excesso de trabalho. Dar às pessoas um dia livre é OK, mas também é preciso reduzir as expectativas de produtividade. Se tiverem uma cultura de excesso de trabalho, isso não está a tornar as pessoas mais eficazes - está a torná-las doentes. As empresas precisam de dar às pessoas mais poder de decisão sobre como e quando voltar ao trabalho, pagar-lhes o que merecem, compensá-las quando trabalham horas a mais e garantir que são promovidas pelas razões certas. Falta de justiça é uma questão importante aqui porque os mais jovens sentem que não há um caminho para eles.

O que podem os indivíduos fazer para garantir que não estão a trabalhar para um vazio?
As organizações precisam de se responsabilizar pelo burnout, mas os empregados também podem ser parte da solução. Podemos trabalhar muito para identificar se estamos todos esgotados, tentar perceber quão frequentemente nos sentimos exaustos, desligados e cínicos. Depois temos de começar a pensar em recuar, fazer pausas a cada duas horas, um detox digital, sair para o ar livre, ouvir música. Estabelecer limites sobre responder a emails e gerir as expectativas dos clientes para que tudo não pareça sempre tão urgente.

Os líderes também têm esgotamentos. Como é que gerem esses sentimentos?
Nunca tivemos um trauma colectivo desta dimensão, todos estamos a passar por ele. Todos sentimos medo e ansiedade social e o mesmo também é verdade para os líderes. Sugiro que tenham alguma autocompaixão, sejam transparentes com as equipas e não tenham problema em parecer vulneráveis. Também há coisas a acontecer com os líderes e os empregados não podem ser o que não podem ver, moldam o comportamento. Se os líderes não tomarem conta de si próprios, não podem ajudar as equipas.

Já lidou com burnout pessoalmente?
Tem sido muito complicado. Temos que dar espaço a nós próprios para não sermos tão eficazes como costumávamos ser. Estamos cansados e nada sobre isto é normal. Tentei seguir as minhas próprias regras e tirar momentos para mim - sentar-me lá fora, ler ficção, passear com o meu cão na natureza. Sabia que a única maneira através da qual conseguiria ultrapassar isto de forma saudável, pelos meus filhos, era fazer este trabalho. E ajudou. Todos os dias, cada de um nós deve olhar para o ano que passou e dar palmadinhas nas próprias costas: “Consegui.”