Morreu Vasco Callixto, um dos pioneiros do jornalismo de viagens

Quase a cumprir 97 anos, no próximo dia 12, “faleceu tranquilamente” na manhã de segunda-feira, informou a família. A vida de Vasco Callixto cruza-se com a história do automóvel em Portugal. E também com a história de como mostrar mundo.

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Vasco Callixto tinha 96 anos CORTESIA ALEXANDRE CORREIA/REVISTA TODO O TERRENO

Tinha 96 anos, mas mantinha o brilho da curiosidade de uma criança no olhar. Talvez por isso parecesse imortal e a sua partida seja encarada com “surpresa”: não estava doente e tinha acabado de “passar um Natal em família, ao lado de três gerações de descendentes”.

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Tinha 96 anos, mas mantinha o brilho da curiosidade de uma criança no olhar. Talvez por isso parecesse imortal e a sua partida seja encarada com “surpresa”: não estava doente e tinha acabado de “passar um Natal em família, ao lado de três gerações de descendentes”.

“Faleceu tranquilamente” na manhã de segunda-feira, informou a família na rede social Facebook. O corpo estará em câmara ardente a partir das 16h30 desta terça, na Igreja de São João de Deus, na Praça de Londres, em Lisboa, saindo o funeral às 13h do dia seguinte para o Cemitério de Barcarena, onde será cremado.

O nome de Vasco Callixto (n. 1925, Amadora) cruza-se com a história do automóvel em Portugal, mas também com a história de como mostrar mundo a quem não sai (por não querer ou poder) de casa. Mas a sua estreia no mundo das viagens deu-se ainda sem motor: aos 15 anos, de bicicleta e com o irmão por companhia, conheceu muito de Portugal.

Porém, nas veias corria-lhe o bichinho dos automóveis herdado do avô [um dos fundadores do Automóvel Club] e do pai [um dos primeiros examinadores em Portugal], mas também o amor pelas letras (o avô, além de deputado à Assembleia Nacional Constituinte, de 1911, é ainda apontado como um dos primeiros jornalistas desportivos no país),

Por isso, assim que a idade lhe permitiu, tirou a carta de condução, comprou o seu primeiro carro (um Topolino, como era carinhosamente apelidada a fornada de Fiat 500 fabricada entre 1936 e 1955) e fez-se à estrada. E nem a sua decisão de enveredar por uma carreira nos seguros lhe esmoreceu a vontade de abraçar o jornalismo – algo a que se dedicaria a tempo inteiro após a reforma. Foi sempre contribuindo com as histórias das suas viagens, primeiro por Portugal, aos comandos do Topolino, tendo-se estreado nas lides com um artigo na então trimestral revista Turismo. Depois, já na década de 1960, aventurou-se pelo mundo: a primeira grande viagem que fez, já ao volante de um dos três Volkswagen Carocha que possuiu, ligou Lisboa a Berlim, com passagem por Paris.

Pouco tempo depois, estreou-se como autor com Fala a Velha Guarda (1062-63), obra desdobrada em dois volumes, com uma série de entrevistas aos pioneiros do automobilismo português, desportivo e não só.

Passou a usar o lema de “conhecer para dar a conhecer” o que lhe valeu o título para alguns de “pioneiro do jornalismo de viagens ao volante”, mas Vasco Callixto nunca se deixou levar pela vaidade e, numa conversa com o PÚBLICO em Abril deste ano, corrigia-nos: “Fernando Laidley (1918-2010) foi o primeiro português a dar a volta a África num Volkswagen Carocha em 1955”.

Vasco Callixto casou e teve dois filhos, conjugando a vida familiar com as muitas viagens e o jornalismo. Ou seja, passou a viajar em família, já que a mulher partilhava a sua paixão e os filhos iam atrás. Ao todo, conheceu mais de 70 países e fez uma volta ao mundo com a mulher, em 1995.

Em simultâneo, foi publicando com regularidade em títulos de grande tiragem: Diário de Notícias, Diário Popular, O Século... E livros, claro. Foram mais de 60 os títulos que publicou, muitos voltados para a História de Portugal, um tema que o fascinava (“Sempre procurei ouvir testemunhos sobre o Portugal do passado e do presente”), mas também sobre a aviação, a família e as raízes alentejanas.

Aos 95 anos, a 29 de Junho de 2020, recebeu do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o grau de comendador da Ordem do Mérito.