Vamos terminar a pandemia
Estamos há demasiado tempo em pandemia. Temos os instrumentos e conhecimentos para a terminar, mas persistimos em criar uma situação de profunda desigualdade mundial. Não faz qualquer sentido, de nenhum ponto de vista. Está na hora de mudar de paradigma e proteger todas as pessoas, onde quer que elas se encontrem.
Há uma forma de terminar a pandemia rapidamente. Temos os instrumentos necessários para o fazer. As vacinas continuam a provar o seu efeito, ao serem a causa da dissociação entre o número de novos casos e a progressão para doença grave ou morte. Este efeito tem óbvias externalidades positivas, desde logo, no potencial de recuperação económica, pois uma população mais imunizada, é uma comunidade que pode retomar o seu dia-a-dia com mais segurança e confiança.
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Há uma forma de terminar a pandemia rapidamente. Temos os instrumentos necessários para o fazer. As vacinas continuam a provar o seu efeito, ao serem a causa da dissociação entre o número de novos casos e a progressão para doença grave ou morte. Este efeito tem óbvias externalidades positivas, desde logo, no potencial de recuperação económica, pois uma população mais imunizada, é uma comunidade que pode retomar o seu dia-a-dia com mais segurança e confiança.
Mas a distribuição mundial das vacinas, não ajuda na consecução do objetivo comum de virar a página pandémica. Países mais ricos estão a vacinar as suas populações a um ritmo dez vezes superior que os países pobres. Apesar de terem 20,5% da população mundial, os 52 países mais pobres tiveram acesso a apenas 5,7% das vacinas. Um número tão insuficiente, que não chega sequer para vacinar os profissionais de saúde da linha da frente, idosos e outros grupos populacionais de risco acrescido.
Este nacionalismo de vacinas não é solução, apenas produz uma situação que é insustentável do ponto de vista moral, epidemiológico e económico. A situação torna-se mais revoltante quando soubemos em Agosto, que a União Europeia tentou impedir que as vacinas produzidas em África fossem utilizadas no continente. Apenas a ameaça de proibir toda a exportação de vacinas por parte da África do Sul convenceu a UE a aceitar que a produção africana permanecesse no continente.
Existem formas de solucionar este grave problema. Para começar, os países ricos e mais vacinados, que apesar de possuírem enormes reservas de vacinas, apenas para as desperdiçarem ou doarem com prazos de validade extremamente reduzidos, mantém ordens de compra a curto prazo. Podiam optar por ceder a prioridade à Covax ou ao Fundo Africano para Aquisição de Vacinas, optando por ordens de compra a longo prazo. Uma vacina num armazém não tem utilidade!
Durante uma pandemia, os contratos que os fabricantes de vacinas fazem devem ser transparentes e acessíveis. É perfeitamente legítimo perceber se as farmacêuticas estão a desviar vacinas de países pobres ou da Covax para países ricos, apenas porque estes pagam mais dinheiro pelo fármaco. No meio de uma emergência de saúde pública, as vacinas tornam-se um bem público global, pelo que não devem estar sujeitas ao leilão do mercado. Esta questão deve ser enquadrada no seio da discussão do futuro tratado internacional pandémico, uma peça fundamental na saúde e segurança internacional. Este tratado deve garantir o financiamento público, assim como, o acesso equitativo a vacinas e tratamentos em futuras emergências de saúde pública.
É de enorme importância, com real impacto no curto prazo, que as doações prometidas pelos países e indústria farmacêutica sejam realmente entregues. Em Novembro, das 1.8 mil milhões de doses prometidas, apenas 261 milhões tinham efetivamente sido doadas. A indústria apenas tinha fornecido à Covax 12% das doses contratualizadas, obrigando a plataforma a rever em baixa a estimativa de entregas para este ano em 2 mil milhões de doses, apesar das farmacêuticas terem anunciado em Setembro, que iriam aumentar a produção para 1,5 mil milhões de doses por mês.
Em quarto lugar, as restrições às exportações de vacinas devem ser levantadas, assim como todas as barreiras associadas à circulação de material e equipamento médico, essencial para combater a pandemia. A logística de administrar uma vacina não se restringe ao fármaco em si, é indispensável possuir seringas e agulhas suficientes para um programa de vacinação bem-sucedido.
Estas quatro medidas serão ineficazes sem uma eficaz liderança, que perceba que a única forma de terminar uma pandemia é através de soluções globais, universais e equitativas. A OMS, assim como a maioria dos países, têm defendido a suspensão temporária das patentes. Trata-se de uma medida fundamental, mas que isoladamente não é suficiente. É necessário fornecer apoio logístico, financeiro e transferência de conhecimento, de forma a aumentar a oferta de vacinas, prevenir mortes, fortalecer os sistemas de saúde, recuperar as economias e evitar que surjam novas variantes. Não podemos permitir que persistam bolsas de circulação de Sars-CoV-2 descontroladas. Estaríamos apenas a criar uma bomba-relógio viral.
Estamos há demasiado tempo em pandemia. Temos os instrumentos e conhecimentos para a terminar, mas persistimos em criar uma situação de profunda desigualdade mundial. Não faz qualquer sentido, de nenhum ponto de vista. Está na hora de mudar de paradigma e proteger todas as pessoas, onde quer que elas se encontrem. Que a resolução para 2022 seja algo simples, mas poderoso, como: “mais saúde global, menos nacionalismo de vacinas!”
O autor escreve de acordo com o novo acordo ortográfico