Morreu Thomas Lovejoy, o “padrinho da biodiversidade”

Biólogo dedicou a sua carreira a alertar-nos para a necessidade de conservação das florestas tropicais, sobretudo da Amazónia brasileira.

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O biólogo Thomas Lovejoy Fairfax Media/Getty Images

O biólogo conservacionista Thomas Lovejoy morreu este sábado (25 de Dezembro) aos 80 anos. Muitas vezes apelidado de “padrinho da biodiversidade”, o biólogo norte-americano dedicou a sua carreira à conservação do planeta e era considerado um dos grandes especialistas da biodiversidade da Amazónia.

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O biólogo conservacionista Thomas Lovejoy morreu este sábado (25 de Dezembro) aos 80 anos. Muitas vezes apelidado de “padrinho da biodiversidade”, o biólogo norte-americano dedicou a sua carreira à conservação do planeta e era considerado um dos grandes especialistas da biodiversidade da Amazónia.

Thomas Lovejoy tinha um doutoramento em biologia da Universidade de Yale (Estados Unidos) e passou mais de 50 anos a trabalhar na floresta tropical da Amazónia. Acabou mesmo por fundar a organização sem fins lucrativos Centro de Biodiversidade da Amazónia. Nos anos 80, alertou para a necessidade de conservação das florestas tropicais, em particular da Amazónia brasileira.

“Os feitos de Lovejoy e as suas contribuições para a floresta tropical amazónica, a compreensão da conservação da humanidade e dos ecossistemas globais preencherão muitos livros”, lê-se num comunicado do Centro de Biodiversidade da Amazónia sobre a morte do biólogo. Ainda no site do centro realça-se: “Deve-se a ele ter tornado o problema global do desmatamento das florestas tropicais uma questão pública.”

Thomas Lovejoy é considerado um dos fundadores da área da biologia das alterações climáticas e popularizou o termo “diversidade biológica”. Na década de 1980, publicou a sua primeira estimativa sobre as taxas de extinções globais, em que projectou que no início do século XXI um grande número de espécies poderia estar perdido para sempre, relembra a National Geographic Society, que lhe atribuiu uma primeira bolsa em 1971. O objectivo dessa primeira bolsa era o estudo da ecologia das aves na Amazónia. Actualmente, era explorador da National Geographic.

“O Tom era um gigante no mundo da ecologia e da conservação”, afirmou Enric Sala, explorador da National Geographic, numa nota da National Geographic Society sobre o falecimento do biólogo. “Mas, ainda mais importante, ele foi um mentor extraordinário e alguém extremamente generoso com os seus alunos, colegas e amigos.”

Por sua vez, no mesmo comunicado, Jill Tiefenthaler, presidente-executiva da National Geographic Society, também considera que “conhecer Tom era conhecer um cientista, um professor e um conselheiro extraordinário”. “Era alguém que ajudava a juntar as pessoas e as organizações para a preservação e protecção de alguns dos mais frágeis ecossistemas e espécies essenciais.”

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Ao longo da sua vida, Thomas Lovejoy foi conselheiro de presidentes dos Estados Unidos, da Fundação das Nações Unidas e do Banco Mundial DR

Ainda nos anos 80, desenvolveu o conceito de swaps de dívida por natureza, isto é, a conversão de dívida externa em projectos de conservação. Devido a esse mecanismo, milhões de euros ficaram disponíveis para projectos de conservação na Bolívia, Costa Rica, Equador, Filipinas, Jamaica, Madagáscar ou Zâmbia, de acordo com o Centro de Biodiversidade da Amazónia.

Um amante genuíno da natureza

Desde 2010 que era professor no Departamento de Ciência e Política Ambiental da Universidade George Mason, nos Estados Unidos. “Lovejoy era um gigante entre os líderes da gestão ambiental. A sua perda é devastadora para a Universidade George Mason, para a humanidade e para o próprio planeta”, afirmou Gregory Washington, presidente da Universidade George Mason, num comunicado da sua instituição. “Conhecido como o ‘padrinho da biodiversidade’, Lovejoy era também uma pessoa boa e decente. Vou sentir muita a sua falta.”

O seu envolvimento na conservação ambiental fê-lo passar por várias organizações e áreas. Vejamos alguns dos seus contributos. Entre 1973 e 1987, foi director do programa dos Estados Unidos do Fundo Mundial para a Natureza (WWF). E, de 1985 a 1987, foi mesmo vice-presidente deste fundo.

“Na qualidade de cientista talentoso e comunicador envolvente, o Tom foi um defensor apaixonado da necessidade muito urgente de protecção da natureza e da biodiversidade. Deixa um legado infindável que tem impacto no nosso dia-a-dia relativamente à conservação e ao desenvolvimento sustentável”, transmitiu em comunicado Marco Lambertini, director-geral da WWF Internacional. “Pessoalmente, foi um privilégio ter conhecido o Tom. Era uma pessoa maravilhosa, uma mente brilhante e um amante genuíno da natureza e da humanidade.”

Em 1982, criou também a série de televisão “Nature”, de que foi conselheiro ao longo de muitos anos. “Esse programa é a série de longa duração mais popular da televisão pública nos Estados Unidos”, assinala o Centro de Biodiversidade da Amazónia.

Em 1987, o biólogo foi nomeado para secretário adjunto para assuntos ambientais e externos do Instituto Smithsonian, nos EUA. Entre 1994 e 2000, passou a ser conselheiro do secretário para Assuntos Ambientais e de Biodiversidade do Instituto Smithsonian. Nesse tempo, precisamente entre 1994 e 1997, foi também conselheiro científico do director-executivo do Programa das Nações Unidas para o Ambiente.

“Estou profundamente triste por saber que Thomas Lovejoy morreu”, lamentou no Twitter Elizabeth M. Mrema, secretária-executiva da Convenção das Nações Unidas para a Diversidade Biológica. Referiu ainda que o biólogo “contribuiu de forma tremenda para a nossa compreensão da diversidade da vida. O seu trabalho perdurará durante várias gerações”.

Thomas Lovejoy também foi conselheiro para a ciência e o ambiente nas administrações de Ronald Reagan, George H.W. Bush e Bill Clinton, bem como da Fundação das Nações Unidas ou do Banco Mundial. Recentemente, foi enviado científico dos presidentes norte-americanos Barack Obama e Joe Biden. Em Abril de 2021, tinha sido eleito para a Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, juntando-se assim a um grupo de elite reconhecido pelos seus contributos para a ciência.