Terei, afinal, autismo?

Muitas das pessoas que receberam um diagnóstico de perturbação do espetro do autismo na idade adulta descreveram melhorias generalizadas: no acesso a serviços e medidas de apoio adequados; na vida conjugal e familiar; no bem-estar pessoal.

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Muitas das pessoas que receberam um diagnóstico de perturbação do espetro do autismo na idade adulta descreveram melhorias generalizadas DigitalVision Vectors/Getty Images

Hoje em dia, é um facto aceite que a prevalência do autismo na população tem subido de forma constante. Parte deste crescimento atribui-se ao maior conhecimento geral desta doença e, assim, à possibilidade de ser devidamente diagnosticada. A Organização Mundial de Saúde indica que a incidência do autismo na população infantil é atualmente de uma criança em cada 160 nascimentos (OMS, 2021).

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Hoje em dia, é um facto aceite que a prevalência do autismo na população tem subido de forma constante. Parte deste crescimento atribui-se ao maior conhecimento geral desta doença e, assim, à possibilidade de ser devidamente diagnosticada. A Organização Mundial de Saúde indica que a incidência do autismo na população infantil é atualmente de uma criança em cada 160 nascimentos (OMS, 2021).

Não é, assim, de estranhar que adultos de várias idades se questionem quanto à probabilidade de terem, afinal, um diagnóstico específico, que implica o seu desenvolvimento neurológico e que esteve presente em toda a sua vida. Muitos procuram resposta à pergunta: “Terei, afinal, autismo?”

Um aspeto importante a considerar em todas as idades é que as altas correlações do autismo com a genética, em conjunto com fatores sociais óbvios, fazem com que a sua manifestação nas mulheres e nos homens seja um pouco diferente. É, por exemplo, muito mais comum as mulheres reportarem mais questões físicas ou sensoriais, como mais desconforto em ambientes saturados (ex: som ou sensações), ou mais cansaço, ou o famoso meltdown, uma expressão utilizada também pelas mulheres portuguesas, para descrever situações de extremo esgotamento físico e psicológico, após a exposição a um evento stressante (ex: um ambiente ruidoso, um acontecimento imprevisto, um evento social).

A questão pode ter-se precipitado por circunstâncias significativas da vida: o diagnóstico de um filho, o espelho de um cônjuge, ou a atual pandemia que tocou a saúde e o emprego de muitos e que a todos obrigou ao isolamento e à autocontemplação.

E, com expressões e combinações diferentes, homens e mulheres reportam experiências e vivências que incluem: sentir desconforto no contacto social; ter dificuldade em compreender e cumprir regras, convenções ou expectativas sociais; ter dificuldade em perceber as emoções e expressões dos outros; não compreender ou expressar as suas próprias emoções; manter interesses circunscritos ou exagerados; ter dificuldade em conversar; ter dificuldade em fazer ou manter as amizades no tempo; aderir a rotinas, ideais e diretrizes fixos e ser repetitivo em alguns comportamentos.

Muitas das pessoas que receberam um diagnóstico de perturbação do espetro do autismo na idade adulta descreveram melhorias generalizadas: no acesso a serviços e medidas de apoio adequados; na vida conjugal e familiar; no bem-estar pessoal.

Para um grupo específico, este diagnóstico permite o acesso a um conjunto de medidas de apoio destinadas a assegurar os seus direitos, num acesso justo à educação ou ao emprego. São medidas destinadas a compensar incapacidades claras na aprendizagem, na angariação de meios de subsistência ou na gestão da sua pessoa e património. É preciso entender que estas medidas e meios de apoio se destinam a pessoas para quem ser autista realmente implica perturbação e para quem o impacto significativo deste diagnóstico no seu modo de funcionar é óbvio.

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Hoje em dia, é um facto aceite que a prevalência do autismo na população tem subido de forma constante Iryna Spodarenko/Getty Images

Para um outro grupo de adultos, o impacto do diagnóstico de autismo é diferente. Normalmente autónomos, mais velhos, com família, estudos ou trabalho próprio, estes adultos reportam melhorias no bem-estar subjetivo e psicológico. Para estes adultos, passa agora a ser mais fácil compreender e explicar as suas características e reações aos outros, passa agora a ser claro porque foi tão difícil “navegar a adolescência”; passa agora a ser aceite pelo seu cônjuge que pode sair sozinho sem qualquer culpa, ou que deve organizar a vida social do casal. Ao olharem para a sua identidade e as suas experiências através desta nova lente, podem compreender-se de outra forma, aceitar algumas características e situações e procurar melhor apoio para o que agora considerem ser os seus verdadeiros desafios pessoais.

É, então, preciso pensar que procurar esta resposta implica estarem preparados para iniciar este longo e, por vezes, árduo caminho de se reverem e se reinventarem. Com a óbvia armadilha de que podem também encontrar uma boa desculpa para tudo o que lhes for mais fácil.