Irão diz que exercício militar no Golfo é “aviso” a Israel

Negociações para acordo sobre o nuclear iraniano recomeçam na segunda-feira em Viena num clima de pessimismo.

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Imagem de mísseis disparados durante o exercício dos Guardas da Revolução EPA

O Irão afirmou que os exercícios militares que levou a cabo esta semana no Golfo Pérsico tiveram como objectivo “fazer um aviso” a Israel, quando aumenta a preocupação que Israel possa planear atacar alvos nucleares no Irão – isto quando as negociações que decorrem em Viena para um acordo nuclear recomeçam já na segunda-feira e diplomatas dizem que a janela para um acordo começa a apertar-se.

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O Irão afirmou que os exercícios militares que levou a cabo esta semana no Golfo Pérsico tiveram como objectivo “fazer um aviso” a Israel, quando aumenta a preocupação que Israel possa planear atacar alvos nucleares no Irão – isto quando as negociações que decorrem em Viena para um acordo nuclear recomeçam já na segunda-feira e diplomatas dizem que a janela para um acordo começa a apertar-se.

As manobras dos Guardas da Revolução incluíram o disparo de mísseis balísticos e de cruzeiro. “Estes exercícios tiveram uma mensagem clara: um aviso sério, real, às ameaças do regime sionista [as autoridades iranianas nunca se referem a Israel pelo nome, por não o reconhecerem como um Estado], para ter atenção aos seus erros”, declarou o chefe dos Guardas da Revolução, Hossein Salami, à televisão estatal. “Vamos cortar-lhes as mãos se derem um passo em falso. A distância entre operações concretas e exercícios militares é apenas uma mudança no ângulo do lançamento dos mísseis”, acrescentou.

Israel tem ameaçado levar a cabo ataques militares para destruir o programa nuclear iraniano se isso for necessário mas responsáveis da defesa, citados quer pelo jornal norte-americano New York Times quer pelo israelita Haaretz, dizem que o país não tem – pelo menos ainda não tem nem terá em breve – a capacidade para levar a cabo um ataque em larga escala. Dentro das possibilidades reais estaria apenas alguns ataques a alguns dos locais.

Até agora, Israel tem levado a cabo acções de pequena escala, desde actos de sabotagem a assassínios de pessoas ligadas ao programa nuclear – sem as admitir ou reivindicar.

A discussão de um ataque tem sido vista como fazendo parte da campanha de pressão de Israel sobre os poderes discutindo o acordo nuclear com o Irão em Viena. O Estado hebraico tem alertado para duas possibilidades: uma, de que o Irão esteja a tentar “ganhar tempo” e arrastar as negociações o mais possível até conseguir obter urânio enriquecido suficiente para uma bomba, e outra, para que os poderes assinem um “mau acordo”, que não impeça o Irão de desenvolver armas nucleares.

Alguns países queixaram-se recentemente de que Teerão parecia estar a querer ganhar tempo.

O chefe dos negociadores europeus, Enrique Mora, falou de uma “pausa decepcionante”, e que nesta próxima ronda, a oitava, seria “discutido como avançar”.

Esta semana, o conselheiro de segurança nacional dos EUA Jake Sullivan esteve em Israel, onde foi questionado sobre que margem temporal existe para que se chegue a um acordo – que é patrocinado pelos EUA (que não participa, no entanto, nas conversações de forma directa). “Não estamos a marcar uma data no calendário em público, mas posso dizer que atrás de portas fechadas estamos a falar de horizontes temporais, e não são longos” – avançando que são na ordem das “semanas”.

Uma declaração do ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel Yair Lapid, de que Israel não teria problemas com um acordo que “limitasse de modo permanente a sua capacidade para obter uma arma nuclear” pode, especulava o New York Times, reflectir, em parte, a conclusão de que um acordo é muito improvável – ou Lapid não concordaria com um acordo com um país que provoca tanta desconfiança em Israel. Ainda há cerca de um mês o primeiro-ministro, Naftali Bennett, afirmou que Israel não ficaria vinculado pelo acordo e não abdicaria da sua “liberdade de acção”.

O Irão prometeu entretanto que mesmo sem acordo não vai enriquecer urânio a mais de 60%, disse o chefe da Organização de Energia Atómica Mohammad Eslami a uma televisão estatal russa. O acordo de 2015 apenas permitia um enriquecimento a 3,67%, suficiente para a maioria das utilizações civis e limitava a sua quantidade, para não poder continuar a ser enriquecido e chegar aos 90% necessários para uma bomba atómica.

Depois de o então Presidente norte-americano Donald Trump retirar os EUA do acordo, em 2018, o Irão começou a enriquecer a 20% em alguns locais e, este ano (na sequência de uma explosão numa central atómica atribuída a Israel), a 60%. Um enriquecimento a mais de 20% aumenta o potencial para ser usado para fins militares, porque, explica a BBC, o esforço necessário para os 20% é a maior parte (90%) do esforço total para o fazer chegar aos 90% necessários para poder ser usado em armas. Chegando, por exemplo, a 170 quilos de urânio enriquecido a 20%, é possível produzir 25 quilos de urânio enriquecido a 90% em menos de dois meses.

Vários países estimam que a quantidade que o regime iraniano dispõe será suficiente para dentro de algumas semanas ter o suficiente para o enriquecer rapidamente a 90% e conseguir fazer uma bomba, diz o diário israelita Haaretz.