Ícone na revolução do Egipto condenado a cinco anos de prisão
Para além de Alaa Abd El Fattah, Mohamed el-Baqer e Mohamed “Oxygen” Ibrahim foram condenados a quatro anos de cadeia. Estados Unidos condenam sentença. Egipto de Sissi tem mais de 60 mil presos de opinião.
Em Janeiro de 2011, Alaa Abd El Fattah tinha 29 anos e vivia com a mulher, Manal, na África do Sul, onde souberam da morte do jovem Khaled Said, espancado por polícias em Alexandria. Deram-lhe eco no blogue Manalaa, onde desde 2004 documentavam abusos do regime, e o mesmo fizeram com o protesto marcado para 25 de Janeiro, no Cairo. Alaa e Manal, programadores que desenvolviam software livre, aterraram na capital do Egipto três dias depois e o jovem não voltou a largar a Praça Tahir, onde criou um modelo de encontros para discutir questões políticas. Acaba de ser condenado a cinco anos de prisão por “difundir informações falsas”.
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Em Janeiro de 2011, Alaa Abd El Fattah tinha 29 anos e vivia com a mulher, Manal, na África do Sul, onde souberam da morte do jovem Khaled Said, espancado por polícias em Alexandria. Deram-lhe eco no blogue Manalaa, onde desde 2004 documentavam abusos do regime, e o mesmo fizeram com o protesto marcado para 25 de Janeiro, no Cairo. Alaa e Manal, programadores que desenvolviam software livre, aterraram na capital do Egipto três dias depois e o jovem não voltou a largar a Praça Tahir, onde criou um modelo de encontros para discutir questões políticas. Acaba de ser condenado a cinco anos de prisão por “difundir informações falsas”.
Fattah foi preso pela primeira vez a 30 de Outubro de 2011 – em Dezembro, estava na cadeia quando nasceu o seu primeiro filho, Khaled, em homenagem ao jovem morto – e desde então passou mais tempo preso do que em liberdade. “Penso que o mantêm preso porque viram nele aquilo que eu já tinha visto, capacidade de liderança”, afirmou ao PÚBLICO durante essa primeira detenção Ahdaf Soueif, romancista e tia de Fattah. A família não tem sido poupada: a irmã mais nova, Sanaa, também está presa e assim passou mais de três anos desde 2013.
Libertado em Março de 2019, depois de cumprir cinco anos de prisão por “organizar um protesto”, Fattah voltou a ser preso em Setembro desse ano, por ter partilhado um tweet sobre um prisioneiro que morreu depois de ser torturado.
Para além de Fattah, o Tribunal do Estado de Emergência, com poderes extraordinários, condenou ainda pelo mesmo crime o advogado de direitos humanos Mohamed el-Baqer e o blogger Mohamed “Oxygen” Ibrahim a quatro anos de prisão – todas sentenças finais que não podem ser alvo de recurso, apesar de terem ainda de ser ratificadas pelo Presidente, Abdel Fattah al-Sissi.
Segundo Mona Soueif, outra irmã de Alaa, co-fundadora do movimento contra os julgamentos militares de civis, o activista dirigiu-se ao tribunal durante a audiência de segunda-feira. “Estive preso antes e condenado a cinco anos por participação em protestos. Nunca estive na prisão por nada relacionado com violência. Mas estou habituado a poder pelo menos passar algum tempo no exterior ao sol. Fui privado disso ao longo dos dois últimos anos”, denunciou. “Não consigo compreender nem as coisas mais simples, como estar proibido de ler.”
No sábado, o Governo alemão apelara à liberdade dos três activistas, afirmando esperar um “processo justo”. Os Estados Unidos manifestaram a sua “decepção” com as condenações, com o porta-voz do Departamento de Estado, Ned Price, a defender que “os jornalistas, os defensores dos direitos humanos e todos os que queiram exercer pacificamente a sua liberdade de expressão devem poder fazê-lo sem risco” de “represálias”, sublinhando que as relações entre Washington e o Cairo sairiam “reforçadas” se houvesse melhorias neste campo.
O Comité para a Protecção dos Jornalistas, que considera os bloggers como jornalistas, descreveu o veredicto como “inaceitável”, considerando que estas condenações mostram “até que ponto as autoridades estão dispostas a ir para punir os jornalistas pelo seu trabalho” e apelando à sua “libertação imediata”.
Num texto publicado no sábado no jornal The New York Times, a mãe de Alaa lamentava que “o mundo desvie o olhar” depois de “em tempos ter sido inspirado pelos revolucionários egípcios”. “O seu crime, como o de milhões de jovens no Egipto e noutros lugares, foi acreditar que um outro mundo era possível. Ele teve a coragem de o tentar tornar possível”, escreveu Laila Soueif.
Desde a sua chegada do poder em 2013, depois do golpe sangrento que derrubou o primeiro Presidente democraticamente eleito no Egipto, Mohamed Morsi, Sissi é acusado por organizações internacionais de defesa dos direitos humanos de lançar uma repressão sem tréguas contra todos os opositores e críticos. Com o ex-chefe do Exército ao leme, o Egipto conta hoje com mais de 60 mil presos de opinião e teve de construir mais duas dezenas de prisões.