Duas figuras da oposição na Polónia visadas pelo software de espionagem Pegasus
O advogado e a procuradora acreditam que os ataques foram ordenados pelo Governo polaco. Autoridades recusam confirmar ou desmentir qualquer responsabilidade.
Os telefones de duas pessoas próximas dos opositores ao Governo polaco foram infectados pelo programa de espionagem Pegasus, comercializado pelo grupo israelita NSO e comprado por governos em todo o mundo. Roman Giertych, advogado que defendeu vários políticos da oposição, e Ewa Wrzosek, uma procuradora muito crítica do Governo, tiveram os seus telefones infectados várias vezes ao longo de 2019, num período próximo das eleições legislativas que foram ganhas pelos nacionalistas do partido Lei e Justiça.
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Os telefones de duas pessoas próximas dos opositores ao Governo polaco foram infectados pelo programa de espionagem Pegasus, comercializado pelo grupo israelita NSO e comprado por governos em todo o mundo. Roman Giertych, advogado que defendeu vários políticos da oposição, e Ewa Wrzosek, uma procuradora muito crítica do Governo, tiveram os seus telefones infectados várias vezes ao longo de 2019, num período próximo das eleições legislativas que foram ganhas pelos nacionalistas do partido Lei e Justiça.
Os ataques, confirmados pela análise técnica do Citizen Lab, um laboratório da Universidade de Toronto, são revelados esta terça-feira pela agência de notícias Associated Press. O telefone de Giertych foi pirateado pelo menos 19 vezes nos últimos quatro meses de 2019; o de Wrzosek pelo menos seis vezes entre Junho e Julho do mesmo ano.
Muito sofisticado, este software permite aceder a inúmeras informações no telefone da vítima; contactos ou mensagens, geolocalização, mas também microfone e câmara. Em 2019, segundo o último relatório da Amnistia Internacional, o Pegasus ainda não dispunha de mecanismos de persistência – ferramenta que lhe permite reinstalar-se cada vez que um telefone é desligado e volta a ser ligado.
O Citizen Lab não conseguiu identificar o operador do Pegasus responsável pelas infecções, mas o programa só é vendido a serviços secretos e forças de segurança estatais. De acordo com o NSO, só pode ser comprado por quem queira usá-lo para lutar contra a criminalidade e o terrorismo; na prática, sabe-se que muitos jornalistas e activistas de direitos humanos, políticos, advogados, e até o responsável de um grupo de investigação a crimes de guerra nomeado pela ONU têm sido alvo dos clientes do NSO.
O porta-voz da segurança do Estado polaco, Stanislaw Zaryn, recusou confirmar ou negar que Varsóvia tenha ordenado estes ataques ou seja cliente do NSO, mas as duas vítimas acreditam que os ataques são da responsabilidade do Governo. E, segundo a AP, um procurador emitiu um mandado de detenção contra Giertych no quadro de uma investigação financeira depois do contacto da agência com o Governo.
Na Europa, sabe-se que várias autoridades alemãs usaram o Pegasus, assim como a Hungria, que usou o programa para espiar jornalistas e advogados. O Citizen Lab já tinha detectado múltiplas infecções com o Pegasus na Polónia a partir de 2017, mas na altura não identificou as vítimas individuais.
Esta notícia surge quando vários grupos de direitos humanos estão a pedir à União Europeia que proíba o programa, depois de Bruxelas ter apertado as regras para exportações de qualquer software de espionagem e de os Estados Unidos terem incluído o grupo NSO numa lista negra de comércio. “A UE não pode condenar com credibilidade violações de direitos humanos no resto do mundo enquanto ignora os problemas dentro de casa”, defendeu à AP a ex-eurodeputada dos Países Baixos Marietje Schaake, que é agora directora internacional de política cibernética na Universidade de Stanford.