Louvre vai ter exposição com 15 obras do Renascimento português provenientes do Museu Nacional de Arte Antiga

Nuno Gonçalves, Jorge Afonso, Cristóvão de Figueiredo e Gregório Lopes serão alguns dos artistas representados na exposição, que será comissariada por Charlotte Chastel-Rousseau, conservadora do Departamento de Pintura do museu parisiense. Vai decorrer entre 10 de Junho e 10 de Setembro.

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Museu do Louvre Enric Vives-Rubio

O Museu do Louvre, em Paris, vai receber em 2022 uma exposição dedicada à pintura antiga portuguesa, centrada em 15 obras provenientes do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), de Lisboa, revelou esta terça-feira à agência Lusa fonte da instituição francesa.

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O Museu do Louvre, em Paris, vai receber em 2022 uma exposição dedicada à pintura antiga portuguesa, centrada em 15 obras provenientes do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), de Lisboa, revelou esta terça-feira à agência Lusa fonte da instituição francesa.

Sob o título L’Age d’Or de la Renaissance Portugaise (A Idade de Ouro do Renascimento Português), a exposição irá decorrer entre 10 de Junho e 10 de Setembro, na Ala Richelieu do Louvre, o museu mais visitado do mundo.

A mostra, que se realiza no âmbito da Temporada Cruzada Portugal-França, de diplomacia cultural entre os dois países, irá apresentar cerca de 15 pinturas cedidas pelo MNAA, através de uma parceria. “Muito raramente apresentada, ou mesmo identificada em museus franceses, a pintura portuguesa merece ser mais conhecida: esta apresentação de 15 painéis pintados de muito boa qualidade, cedidos pelo MNAA, vai ser uma descoberta para o público francês”, sublinha um texto do Louvre sobre a exposição, enviado à agência Lusa.

Com comissariado de Charlotte Chastel-Rousseau, conservadora do Departamento de Pintura do museu parisiense, a exposição baseia-se numa colaboração científica entre aquele departamento e o museu português. Os visitantes do Louvre “poderão conhecer a pintura requintada e maravilhosamente executada” de artistas como Nuno Gonçalves (activo 1450-antes de 1492), Jorge Afonso (activo 1504-1540), Cristóvão de Figueiredo (activo 1515-1554) e Gregório Lopes (activo 1513-1550), avança o museu.

Desde a exposição de 1930, no Jeu de Paume, em Paris, sobre a arte portuguesa da época dos Descobrimentos, e as mais recentes exposições em França (Sol e Sombras: Arte Portuguesa do Século XIX, no Musée du Petit Palais, em 1987; e Rouge et Or. Trésors du Portugal Barroco”, no Museu Jacquemart-André, em 2001, ambas também na capital parisiense), que “este período privilegiado do Renascimento português” não era abordado, recorda ainda o Louvre.

“Operando uma síntese muito original entre as invenções pictóricas do primeiro Renascimento italiano e as inovações flamengas, importadas por pintores como Jan van Eyck, que se hospedaram em Portugal em 1428-1429, a escola de pintura portuguesa afirmou-se a partir de meados do século XV, paralelamente à formidável expansão do Reino de Portugal. Com o patrocínio dos reis D. Manuel I (1495-1521) e D. João III (1521-1557), que se rodeou de pintores da corte e encomendou inúmeros retábulos, a pintura portuguesa viveu, na primeira metade do século XVI, uma época áurea, antes de sofrer um eclipse com a crise da sucessão portuguesa em 1580, e a anexação de Portugal pela coroa de Espanha”, aponta o Louvre como enquadramento histórico num texto sobre esta exposição de pintura portuguesa.

No museu parisiense, a aquisição de algumas pinturas, “em particular graças à generosidade de doadores, permitiu começar a esboçar uma história desta escola, com um pequeno núcleo de quatro pinturas portuguesas, datadas do século XV ao século XVIII”, recorda ainda o museu, que possui aproximadamente 38 mil objectos, da pré-história ao século XXI, exibidos numa área de 72.735 metros quadrados.

O Departamento de Pintura assinala também, no documento enviado à Lusa, que deseja “continuar a enriquecer este acervo [de pinturas portuguesas], de acordo com a vocação universal do Museu do Louvre e a exigência de oferecer o panorama mais abrangente possível da pintura europeia”. A duração desta “exposição-dossier será também uma oportunidade de dar a conhecer as pinturas portuguesas apresentadas de forma mais geral em França, no âmbito do projecto de identificação de pinturas ibéricas de colecções públicas francesas”, indica a mesma fonte do museu que, em 2019, recebeu 9,6 milhões de visitantes.

A mostra está inserida na programação da Temporada Cruzada entre França e Portugal, iniciativa de diplomacia cultural criada com o objectivo de aprofundar as relações entre os dois países, e que irá ser levada a cabo entre Fevereiro e Outubro de 2022, com exposições, espectáculos e outros eventos, com curadoria do encenador Emmanuel Demarcy-Mota, a par de Manuela Júdice e Victoire Bigedain Di Rosa, no comissariado-geral.

Criado em 1884, o MNAA alberga a mais relevante colecção pública do país em pintura, escultura, artes decorativas – portuguesas, europeias e da Expansão –, desde a Idade Média até ao século XIX, incluindo o maior número de obras classificadas como “tesouros nacionais”, assim como a maior colecção de mobiliário português.

No acervo encontram-se, nos diversos domínios, algumas obras de referência do património artístico mundial, nomeadamente, os Painéis de São Vicente, de Nuno Gonçalves, obra-prima da pintura europeia do século XV. Também detém a Custódia de Belém, obra de ourivesaria de Gil Vicente, mandada lavrar pelo rei Manuel I, datada de 1506, e os Biombos Namban, do final do século XVI, registando a presença dos portugueses no Japão.

O tríptico As Tentações de Santo Antão, de Hieronymus Bosch, Santo Agostinho, de Piero della Francesca, A Conversação, de Pietr de Hooch, e São Jerónimo, de Albrecht Dürer, estão também entre as mais conhecidas obras do museu.