Fragmentos do asteróide Ryugu revelam alta porosidade e composição heterogénea
Sonda japonesa chegou à Terra no início de Dezembro de 2020 com amostras recolhidas no asteróide, cujos resultados da análise foram agora publicados.
A primeira análise aos fragmentos do asteróide Ryugu, recolhidos pela nave espacial japonesa Hayabusa2 em 2019, revelou alta porosidade e uma composição heterogénea ao nível microscópico, oferecendo pistas sobre a origem do sistema solar, foi agora anunciado.
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A primeira análise aos fragmentos do asteróide Ryugu, recolhidos pela nave espacial japonesa Hayabusa2 em 2019, revelou alta porosidade e uma composição heterogénea ao nível microscópico, oferecendo pistas sobre a origem do sistema solar, foi agora anunciado.
A cápsula da sonda que iniciou a sua missão há sete anos para recolher amostras do pequeno planeta em forma de diamante, com um quilómetro de diâmetro, aterrou a 5 de Dezembro de 2020 no Sul da Austrália.
Mais de um ano depois de os fragmentos de 5,4 gramas ter aterrado na Terra, a revista científica Nature Astronomy publica agora, em dois artigos, uma análise preliminar de um asteróide rico em carbono, que pode dar indicações sobre a origem do sistema solar e sobre a formação de minerais orgânicos e hidratados, os elementos básicos da vida.
A sonda Hayabusa2, após uma viagem de seis anos e 5200 milhões de quilómetros, recolheu uma pequena quantidade de poeira e gás do Ryugu. A Hayabusa2 pousou duas vezes na superfície do asteróide em 2019 para recolher amostras e as primeiras análises no solo foram feitas nos dias 10 e 11 de Dezembro de 2020, num laboratório da Agência de Exploração Aeroespacial do Japão (JAXA), localizado na cidade de Sagamihara, Sudoeste de Tóquio.
Do primeiro exame, concluiu-se que o gás contido na cápsula era do Ryugu, que trazia também pedras minúsculas com vários milímetros de tamanho. Todo este material, como adiantou a JAXA na ocasião, é interessante para progredir no conhecimento da origem do sistema solar, encontrar detalhes importantes sobre a formação do asteróide – há 4600 milhões de anos – e entender melhor a sua afinidade com uma classe de meteoritos condritos carbonáceos.
No primeiro dos dois artigos agora divulgados, o cientista planetário Toru Yada e sua equipa da JAXA descobriram que a amostra é muito escura – reflecte apenas 2% da luz que a atingem – com uma porosidade alta de 46%, maior do que qualquer outro meteorito estudado até ao momento.
Uma colecção única
No segundo artigo científico, Cédric Pilorget e os seus colegas, da Universidade Paris-Saclay, estudaram a composição dos fragmentos através de um microscópio capaz de obter imagens em diferentes comprimentos de onda de luz nos espectros do visível e infravermelho.
De acordo com o estudo, o Ryugu é composto por uma matriz hidratada semelhante à argila, com uma variedade de elementos orgânicos embutidos. No entanto, algumas partes individuais são feitas de substâncias diferentes, como carbonatos ou compostos voláteis.
A presença de espécies ricas em voláteis apoiaria o facto de que Ryugu preservou tanto o material primitivo como as fases alteradas, que agora estão disponíveis para análises completas em laboratório, tendo potencial para extrair novos elementos sobre os caminhos de formação e evolução dos corpos planetários no sistema solar, apontam os cientistas.
As amostras revelaram composição microscópica heterogenia, confirmando as observações in situ da sonda Hayabusa2, que sugerem que Ryugu é macroscopicamente uniforme na sua estrutura e composição – similar aos meteoritos condritos ricos em carbono –, mas é mais escuro, mais poroso e mais frágil.
Com estes dados, os cientistas concluíram que Ryugu é mais parecido com os condritos, mas com um albedo mais pequeno (relação entre a luz que atinge a superfície e a que é reflectida), uma porosidade maior e características mais frágeis.
Os autores do trabalho, que observaram que as propriedades físicas e químicas não foram alteradas durante o regresso à Terra da sonda que visitou o asteróide, determinaram que o conteúdo das amostras parece estar entre os materiais mais primordiais disponíveis em laboratórios até hoje. Para os investigadores, isso forma “uma colecção única” para estudar a origem e a evolução do sistema solar, enquanto representa um modelo para a recolha de amostras de planetas no futuro.