Abstenção recorde nas primeiras eleições em Hong Kong só para “patriotas” chineses
Sem surpresas, todos os eleitos para o Conselho Legislativo são candidatos favoráveis a Pequim. Governo do território fala no restabelecimento da calma política e no “regresso ao bom caminho, o de ‘um país, dois sistemas’”.
A chefe do governo pró-Pequim de Hong Kong saudou esta segunda-feira a tranquilidade da votação da véspera, a primeira para o Conselho Legislativo depois da aprovação de uma lei que reserva aos “patriotas” o direito de se candidatarem – com centenas de candidaturas chumbadas, apresentaram-se aos 90 lugares 153 candidatos, e os “moderados” ou “neutros” eram menos de uma dezena. A participação de 30,2% é a mais baixa desde a transferência da antiga colónia britânica para a China, em 1997, e mesmo desde a primeira eleição directa de membros do Conselho, em 1991.
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A chefe do governo pró-Pequim de Hong Kong saudou esta segunda-feira a tranquilidade da votação da véspera, a primeira para o Conselho Legislativo depois da aprovação de uma lei que reserva aos “patriotas” o direito de se candidatarem – com centenas de candidaturas chumbadas, apresentaram-se aos 90 lugares 153 candidatos, e os “moderados” ou “neutros” eram menos de uma dezena. A participação de 30,2% é a mais baixa desde a transferência da antiga colónia britânica para a China, em 1997, e mesmo desde a primeira eleição directa de membros do Conselho, em 1991.
Carrie Lam defendeu o novo sistema eleitoral e minimizou a abstenção. “Hong Kong está de regresso ao bom caminho, o de ‘um país, dois sistemas’”, afirmou numa conferência de imprensa, falando do princípio que deveria ter garantido uma autonomia ao território e que os críticos dizem que está a ser posto em causa nos últimos anos através de medidas como a lei de segurança nacional. “Não podemos copiar o sistema ou as regras ditas democráticas dos países ocidentais”, afirmou ainda, defendendo que afastados os elementos “anti-chineses” foi restabelecida a calma política.
Questionada sobre a participação de 1,3 milhões de eleitores num universo de 4,5, Lam disse apenas: “Qual é o motivo? Não consigo analisar”. Para o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros da China, Zhao Lijuan, a abstenção explica-se com a pandemia, com a acção de “elementos anti-chineses decididos a destruir Hong Kong e [pela] interferência de forças externas”.
Desta vez votaram pouco mais de metade dos eleitores que foram às urnas em 2016 – e muito menos do que os 43,7% de 2000. Sem surpresas, todos os eleitos são candidatos favoráveis a Pequim.
Adiadas 15 meses com o argumento da luta contra a pandemia – isto depois de cerca de 600 mil pessoas terem participado nas primárias não-oficiais do movimento pró-democracia para escolher os candidatos que queriam ver nos boletins a 6 de Setembro de 2020 –, as eleições acabaram por se realizar com a maioria dos dirigentes da oposição detidos, no exílio ou depois de terem abandonado a política.
Dezenas de pessoas envolvidas na organização dessas primárias foram, entretanto, acusadas de “conspiração para cometer subversão” ao abrigo da nova lei de segurança, que tipifica os crimes de “secessão”, “subversão”, “terrorismo” e “conspiração com forças estrangeiras”. Entre os presos, alguns já condenados, outros a aguardar o julgamento na cadeia, estão muitas das principais figuras do movimento opositor, como Benny Tai, Joshua Wong, Leung Kwok-hung, Agnes Chow ou Claudia Mo.
A partir do exílio, alguns activistas políticos apelaram ao boicote, pedindo aos cidadãos para não legitimarem o processo com o seu voto.
Para tentar estimular a participação, as autoridades encheram as ruas de cartazes, pagaram uma campanha publicitária da imprensa e de mensagens telefónicas e disponibilizaram autocarros gratuitos até às mesas de voto, uma oferta que a população aproveitou para fazer compras de Natal.