David Frost, arquitecto do “Brexit”, abandona o Governo britânico

Secretário de Estado responsável pela pasta do “Brexit” sai em desacordo com o reforço das restrições por causa do aumento do número de casos de covid-19. Demissão agrava ainda mais a crise de liderança de Boris Johnson.

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Frost também estava descontente com a direcção das negociações com Bruxelas sobre a Irlanda do Norte Nuno Ferreira Santos

O Governo britânico sofreu mais um duro golpe, este domingo, com o anúncio da demissão do secretário de Estado responsável pela pasta do “Brexit”. Numa carta enviada ao primeiro-ministro, Boris Johnson, Frost disse estar preocupado com “a direcção” do país face ao reforço das restrições por causa da pandemia de covid-19.

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O Governo britânico sofreu mais um duro golpe, este domingo, com o anúncio da demissão do secretário de Estado responsável pela pasta do “Brexit”. Numa carta enviada ao primeiro-ministro, Boris Johnson, Frost disse estar preocupado com “a direcção” do país face ao reforço das restrições por causa da pandemia de covid-19.

É o terceiro revés para a liderança de Boris Johnson em menos de uma semana, depois da revolta no seu Partido Conservador, no Parlamento britânico, que levou 99 deputados a votarem contra as novas restrições em Inglaterra, na terça-feira; e da derrota dos tories numa eleição antecipada, na quinta-feira, no círculo de North Shropshire — onde os conservadores só não venceram em dois dos últimos 189 anos.

A demissão de Frost — um dos principais arquitectos da estratégia do Governo britânico para a saída da União Europeia — também tem implicações no tom das conversações entre Londres e Bruxelas sobre o protocolo relativo à Irlanda/Irlanda do Norte.

Na carta enviada a Johnson, Frost disse estar confiante de que o “Brexit” está garantido, mas sublinhou as suas preocupações com “a direcção” do país.

“Você conhece as minhas preocupações com a actual direcção da nossa viagem”, disse Frost, numa carta divulgada este domingo pelo Governo britânico, horas depois de o jornal Daily Mail ter antecipado um plano para a saída de Frost em Janeiro.

“Espero que possamos chegar rapidamente onde temos de chegar: a uma economia empresarial pouco regulada, de impostos baixos, na vanguarda da ciência moderna e da mudança económica.”

Variante Ómicron

Na noite de sábado, o Daily Mail avançou que a demissão de Frost foi motivada pelo anúncio de um reforço das restrições por causa da variante Ómicron, mas que reflectiu, também, um crescente descontentamento com o aumento de impostos e o custo das políticas ambientais.

“Temos de aprender a viver com a covid”, disse Frost. “Espero que consigamos regressar ao caminho certo em breve, e que não sejamos tentados pelas medidas coercivas que temos visto noutros lados.”

No sábado, o primeiro-ministro dos Países Baixos, Mark Rutte, anunciou que o país “vai fechar de novo”, numa decisão “inevitável” face “à quinta vaga que se avizinha com a variante Ómicron”.

O novo confinamento começa este domingo e prolonga-se, pelo menos, até 14 de Janeiro, abrangendo todo o período do Natal e de Ano Novo. A decisão implica o encerramento de escolas, universidades, restaurantes, bares e todos os estabelecimentos comerciais considerados não essenciais, incluindo ginásios e cabeleireiros.

Nos últimos dias, o ministro da Saúde britânico, Sajid Javid, deixou em aberto a possibilidade de virem a ser aprovadas mais restrições no Reino Unido, perante o aumento galopante do número de casos de covid-19.

Apesar de a taxa de vacinação completa superar os 68%, a entrada em força da variante Ómicron do vírus SARS-CoV-2 no país levou a uma subida a pique do número de casos diários de infecção nas últimas semanas, e está a causar uma enorme pressão nos serviços de saúde britânicos.

Na quarta-feira, foram registados 78.610 novos casos — na altura, um novo máximo desde 8 de Janeiro de 2021, quando foram registados 68.053. No sábado, houve 90.418 novas infecções, com mais de dez mil pela variante Ómicron.

Liderança em perigo

Boris Johnson lamentou a demissão de Frost e elogiou o trabalho do secretário de Estado responsável pela pasta do “Brexit”.

A saída de Frost é mais um golpe para Johnson, e vai reforçar a pressão de vários deputados do Partido Conservador no sentido de o primeiro-ministro britânico melhorar a sua liderança no Governo britânico, sob pena de a sua posição ser posta em causa.

Johnson, que liderou o partido numa vitória clara em Dezembro de 2019, enfrenta a maior crise na sua liderança devido a uma série de escândalos e erros que, segundo os seus críticos, provam a sua incapacidade para ser primeiro-ministro — incluindo a divulgação de um vídeo em que membros da sua equipa surgem a fazer piadas sobre uma suposta festa de Natal em Downing Street, em 2020, numa altura de fortes restrições no Reino Unido.

A presença de Frost no Governo britânico, como responsável pela pasta do “Brexit”, foi fundamental para o apoio a Johnson por parte dos defensores da saída da União Europeia, que viam nele uma garantia de que o Reino Unido estava mesmo decidido a abandonar o bloco europeu.