Grávida, modelo Ashley Graham fez ventosaterapia. Especialistas dizem que não é seguro
A influencer partilhou uma fotografia, no Instagram, onde mostra ventosas na barriga. Desde então, não teceu quaisquer comentários sobre o tema. A obstetra Irina Ramilo alerta que a técnica pode provocar contracções.
A modelo Ashley Graham está grávida e partilhou, no Instagram, uma fotografia onde — aparentemente — está a fazer uma sessão de ventosaterapia na barriga. Nos comentários, dezenas de seguidores questionam a eficácia e possíveis riscos do tratamento da medicina tradicional chinesa (MTC), sobretudo numa zona tão deliciada como o abdómen de uma grávida. Ao PÚBLICO, as especialistas em obstetrícia e MTC não aconselham a terapia durante a gestação.
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A modelo Ashley Graham está grávida e partilhou, no Instagram, uma fotografia onde — aparentemente — está a fazer uma sessão de ventosaterapia na barriga. Nos comentários, dezenas de seguidores questionam a eficácia e possíveis riscos do tratamento da medicina tradicional chinesa (MTC), sobretudo numa zona tão deliciada como o abdómen de uma grávida. Ao PÚBLICO, as especialistas em obstetrícia e MTC não aconselham a terapia durante a gestação.
Há cinco anos, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, o famoso nadador norte-americano Michael Phelps captou a atenção dos mais curiosos pelas marcas redondas e roxas que tinha no ombro direito e nas costas — eram resultado de ventosaterapia, uma ancestral técnica da MTC. Agora, foi Ashley Graham a aguçar a curiosidade da Internet com a fotografia de ventosas aplicadas na zona do ventre.
A modelo plus size de 34 anos espera gémeos, dois meninos — já é mãe de Isaac, um ano, fruto da relação com o cineasta Justin Ervin. Nos comentários da fotografia, os fãs deixam questões sobre a ventosaterapia e são muitos os que relembram os riscos que poderão resultar do tratamento, quando feito durante a gravidez. “Tenho a certeza que será seguro se ela o está a fazer”, comenta uma utilizadora. E outra contrapõe: “Pode potenciar a ruptura do saco amniótico.” É precisamente isso que salienta a obstetra Irina Ramilo, ao PÚBLICO: “As ventosas na barriga criam vácuo, alteram a circulação, são estímulos, que podem gerar complicações, como contractilidade, alterações uterinas e na placenta.”
Apesar do rol de perguntas dos mais de 15 milhões de seguidores, na caixa de comentários da publicação de 7 de Dezembro, Ashley Graham não publicou qualquer declaração sobre o tema, nem explicou por que motivo estaria a fazer ventosaterapia. Desconhece-se, portanto, se a modelo estaria a tentar acelerar o parto — uma vez que, como assinala Irina Ramilo, as ventosas podem provocar contracções —, ou se seria uma técnica de alívio de desconforto abdominal, provocado por uma gravidez de gémeos.
Alívio da dor ou efeito placebo?
Mas o que é a ventosaterapia ou cupping? “É uma técnica da medicina tradicional chinesa na qual são aplicadas ventosas, que ao serem colocadas na pele criam um efeito de vácuo sugando a pele com objectivo de estimular a circulação sanguínea no local onde são estrategicamente colocadas”, explica a terapeuta Tâmara Castelo, autora de quatro livros, entre os quais O Poder dos Rituais.
O efeito de sucção, esclarece Tâmara Castelo, diminui a tensão no local em que é colocada. Por esse motivo, ajuda a “descomprimir os músculos e o tecido conjuntivo, o que melhora a circulação do sangue e diminui a dor, de forma natural”. É aconselhado para dor nas costas, contracturas musculares, ansiedade e stress, enxaqueca, celulite, flacidez e alergias, enumera. Todavia, a especialista desaconselha a aplicação de ventosas na zona da barriga, sobretudo em mulheres grávidas. Durante esse período, o tratamento só costuma ser feito para “aliviar tensões acumuladas devido à dificuldade postural do sono”.
Ainda assim, Irina Ramilo relembra que estes tratamentos não têm evidência científica e são usados essencialmente para o alívio da dor. “Sem provas dadas, têm um importante efeito placebo”, acredita. A obstetra apela a que se consulte o médico assistente em todos e quaisquer casos. Já no livro Não se deixe Enganar, escrito por membros da Comunidade Céptica Portuguesa - Comcept, sublinha-se que “não existem ensaios clínicos para testar as alegações do cupping” e acrescenta que o principal risco associado é a irritação cutânea.
Na ventosaterapia, Tâmara Castelo explica que começa por fazer “uma massagem, com óleos essenciais”, antes de aplicar as ventosas, para preparar a zona onde o paciente sente desconforto. De seguida, são colocadas as ventosas que ficam a sugar a pele entre cinco e 15 minutos. Passado esse tempo, são retiradas e, de acordo com a terapeuta, há “uma sensação de liberdade dos bloqueios”. Quanto às marcas, como as que Michael Phelps tinha nas costas, a autora de O Poder dos Rituais diz serem “normais”, uma vez que está a ser estimulada a circulação de sangue.
Esta técnica é desaconselhada para quem tem problemas de pele, como dermatites ou micoses, assim como para quem já sofreu doenças trombóticas. Em cima de varizes, também não é aconselhado aplicar ventosas.