O maior calendário do Advento do mundo abre-se em janelas na Alemanha
O edifício da Câmara Municipal de Gengenbach, no Sul da Alemanha, dá corpo ao maior calendário do Advento do mundo. Até ao Natal, todos os dias abre-se uma nova janela com ilustrações inspiradas n’O Principezinho.
É considerado o maior calendário do Advento do mundo e, por estes dias, uma das poucas atracções natalícias da pequena vila à beira da Floresta Negra, depois de o mercado de Natal, os concertos e actividades terem sido cancelados devido à pandemia que, nas últimas semanas, tem visto o número de infecções subir sobretudo no Sul da Alemanha, levando ao apertar das restrições na região.
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É considerado o maior calendário do Advento do mundo e, por estes dias, uma das poucas atracções natalícias da pequena vila à beira da Floresta Negra, depois de o mercado de Natal, os concertos e actividades terem sido cancelados devido à pandemia que, nas últimas semanas, tem visto o número de infecções subir sobretudo no Sul da Alemanha, levando ao apertar das restrições na região.
Há cerca de 20 anos, alguém terá reparado que a fachada da Câmara Municipal de Gengenbach (bastante grande para uma vila que não tem mais de 11 mil habitantes) tinha precisamente 24 janelas, as mesmas que tradicionalmente se abrem, diariamente, nos calendários do Advento, e assim nascia uma nova tradição.
A partir de 1 de Dezembro, o edifício transforma-se no maior calendário do Advento do mundo. Em cada dia, uma equipa de voluntários “abre” mais uma janela, revelando uma nova ilustração ou pintura. O tema e os artistas mudam a cada três anos, tendo por aqui já passado obras de Marc Chagall ou Andy Warhol. Este Natal, revelam-se as ilustrações feitas por Valeria Docampo para uma adaptação da obra O Principezinho, de Antoine Saint-Exupéry.
Vila pitoresca
Gengenbach terá sido fundada no século XIII, quando um monge peregrino irlandês decidiu criar aqui um mosteiro durante as campanhas de cristianização da região, conta a guia Krista Botzenhardt, enquanto caminhamos pela vila. Já teria existido um povoamento romano, foram encontrados vestígios, mas é com o mosteiro que a vila se desenvolve para, no século seguinte, se tornar uma cidade imperial, governada pelo bispo local.
Durante a Guerra dos Trinta Anos, no século XVII, a cidade foi quase inteiramente destruída e a maioria dos edifícios que encontramos no centro de Gengenbach foram construídos depois dessa altura. “Foram precisos 20 anos para voltar a erguer a cidade.” Nessa altura, já existiria um governo civil local e a competição entre Estado e Igreja levou a que, em frente ao mosteiro (hoje um colégio), fosse erguida uma câmara municipal portentosa. Existem “muitas histórias sobre essa competição”, lendas como a pequena porta que terá sido construída nas traseiras do edifício para o acesso dos monges, obrigando-os a tirar o chapéu e a fazer uma “vénia” para entrar na câmara municipal.
Quezílias à parte, é o miolo urbano que atrai turistas, com as suas casas de telhados assertivos e fachadas com traves de madeira à vista, utilizadas para dar estrutura às paredes, então feitas de argila e palha. Com a Floresta Negra a dois passos, a madeira era a matéria-prima mais barata e comummente utilizada na construção.
Repleto de vielas e recantos, nestas semanas profusamente decorados com iluminação, árvores de Natal e outros ornamentos da quadra, vamos caminhando pelo centro histórico atentos a detalhes e curiosidades. Para poupar espaço no interior, por exemplo, os portões das caves foram colocados cá fora, junto às fachadas. O primeiro andar adianta-se na maioria dos edifícios para ganhar mais uns centímetros. Há chaminés de uns que entram pela casa de outros, electricidade que é paga pelo vizinho da frente. Só muitos anos depois é que Krista, a viver no centro histórico há 30 anos, descobriu que a sua casa tinha mais uma cave, com entrada pela fachada do vizinho, vai contando.
Carnaval de loucos
Daqui a umas semanas, se a pandemia o permitir, a vila voltará a receber outra das suas principais festividades tradicionais, o Fasend, uma celebração histórica carnavalesca. “Começa numa noite de Janeiro ou início de Fevereiro (tal como o Carnaval, depende da Páscoa), quando as pessoas correm toda a noite em pijama, barrete nocturno e meias coloridas para acordar Schalk, que dorme todo o ano na sua torre, apena com um olho fechado, porque quer saber tudo o que se passa em Gengenbach”, conta Krista. “Depois, vamos até à Câmara Municipal pedir a chave da cidade ao presidente e, durante três semanas e meia, os loucos governam a cidade.”
Há bruxas e muitas personagens, incluindo um mecânico que “tem de provar que tem humor suficiente”, trajes tradicionais, máscaras de madeira e roupas inspiradas nas “pétalas” dos telhados. Há associações para organizar os diferentes grupos de loucos, as mulheres juntam-se uma vez por mês ao longo do ano para costurar as grinaldas que enfeitam as ruas. “Toda a cidade participa.”