O primeiro passo de Neemias Queta na NBA

Foi durante a madrugada que o rapaz do Barreiro se tornou no primeiro português a jogar na melhor Liga de basquetebol do mundo. Fez oito minutos, ganhou cinco ressaltos e fez um desarme de lançamento.

Foto
Neemias deu um salto da G-League para o palco principal, a NBA Darren Yamashita-USA TODAY Sports

Faltavam 61 segundos para o final do segundo período. Na capital da Califórnia, Sacramento, os Kings recebiam os Memphis Grizzlies com uma rotação limitada por um surto de covid-19 que chegou até ao treinador principal. Doug Christie, o assistente, chama o número 88 dos Kings para entrar na quadra. Os próximos segundos serão históricos. Neemias Queta é, oficialmente, o primeiro português a jogar na Liga Norte-Americana de Basquetebol profissional (NBA), mais de cinco meses depois de ter sido escolhido no draft pela equipa californiana.

A verdade faz-nos mais fortes

Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.

Faltavam 61 segundos para o final do segundo período. Na capital da Califórnia, Sacramento, os Kings recebiam os Memphis Grizzlies com uma rotação limitada por um surto de covid-19 que chegou até ao treinador principal. Doug Christie, o assistente, chama o número 88 dos Kings para entrar na quadra. Os próximos segundos serão históricos. Neemias Queta é, oficialmente, o primeiro português a jogar na Liga Norte-Americana de Basquetebol profissional (NBA), mais de cinco meses depois de ter sido escolhido no draft pela equipa californiana.

Foram apenas oito minutos em campo e não deu para muito: cinco ressaltos, uma assistência, um desarme de lançamento e zero pontos (zero lançamentos convertidos em quatro tentados). Mas é um início para o poste português de 22 anos nascido no Barreiro, e parece ter a confiança do assistente que está a ocupar o lugar do técnico principal Alvin Gentry, Doug Christie.

“Sou um grande fã. Sou-o desde que vi o rapaz nos treinos. O Neemi pode ser um jogador muito bom. Tem potencial. Pode fazer passes, não tem medo, defende o cesto, sabe atirar ao cesto. Foi a altura perfeita para ele molhar os pés e ver como é isto. Perguntei-lhe se ele estava nervoso por entrar e ele respondeu, ‘Não’. Era o que eu queria ouvir”, analisou Christie, o assistente que, até Gentry regressar, será o treinador principal dos Kings.

Esses 61 segundos, no final do segundo período, terminaram com uma jogada típica de Queta e demonstram bem o que ele pode render na NBA. Entrou para a luta das tabelas, foi competente na circulação de bola e nos bloqueios, falhou um lançamento de meia distância (bateu no aro) e recuou para posição defensiva. No último ataque dos Grizzlies, Queta fez um desarme de lançamento a Kyle Anderson e conseguiu um segundo a Dillon Brooks, que já não contou para a estatística — aconteceu depois do apito. Mas jogadores e fãs dos Kings vibraram com esta primeira amostra do jovem português.

Na segunda parte, voltou a 4m30s do final do terceiro período, para substituir Tristan Thompson e fez uma falta sobre Kyle Anderson, que marcou o lance livre inicial e falhou o segundo, com o português a garantir o ressalto defensivo. Até ao final do parcial, Neemias ganhou um segundo ressalto defensivo, sofreu uma falta de De’Anthony Melton e fez uma assistência para Jahmi’us Ramsey. Já com o desfecho definido (101-122), reentrou para os últimos 2m13s do jogo e conquistou, num ápice, três ressaltos ofensivos, mas não conseguiu concretizar nenhum destes lançamentos perto do cesto.

Basicamente, foram assim os primeiros passos de Neemias Queta na NBA, ele que tem sido um dos destaques dos Stockton Kings na G League — uma Liga secundária que serve para dar rodagem a jogadores jovens —, mostrando aquilo que já era evidente nos seus anos no basquetebol universitário, nos Utah State Aggies: com 2,13m de altura, uma envergadura de 2,24m e um alcance vertical de 2,90m, Queta tem todas as qualidades para ser um dominador nas tabelas, com ressaltos, desarmes de lançamento e eficácia em zonas próximas do cesto.

Foi por tudo isto que os Kings escolheram Queta na 39.ª posição do draft, mas o português tem tido grandes dificuldades em entrar na rotação porque a equipa tem muitos postes — Tristan Thompson, Richaun Holmes, Alex Len, Damian Jones, Marvin Bagley. Já tinha tido alguns DNP na presente época, mas estes foram os primeiros minutos — e pode ter mais neste domingo, frente aos San Antonio Spurs, treinados pelo mítico Gregg Popovich. Se Queta se aguentar na rotação dos Kings (que já não vão aos play-off há 15 anos) após o surto de covid, será um óptimo sinal.

“É um grande feito, estar em campo e jogar. Há muito que sonhava com este momento, desde que comecei a jogar basquetebol. O importante foi estar sempre preparado para responder assim que tivesse a oportunidade. Sabia que ela ia chegar e, por isso, preparei-me para ajudar a minha equipa, ser forte na defesa e fazer o que faço melhor”, disse o português na sua primeira conferência de imprensa como jogador da NBA.

Tem sido longo o caminho de Neemias Queta. Do Barreirense, onde começou a jogar basquetebol com dez anos, passando pelo Benfica, onde estava quando foi recrutado pela universidade de Utah State, até Sacramento, a capital da Califórnia que já era importante para o basquetebol português por ter sido a cidade onde Ticha Penicheiro construiu uma carreira como uma das melhores bases da WNBA. Agora é a vez de Neemias Queta.