Partido Conservador perde eleição vista como referendo a Boris Johnson
Os tories dominavam há 200 anos a região de North Shropshire, mas o turbilhão de escândalos e crises a envolver o primeiro-ministro foi mais forte que a tradição conservadora.
O Partido Conservador perdeu as eleições antecipadas no círculo de North Shropshire, um bastião dos tories, sendo derrotado pela candidata dos Liberais Democratas, Helen Morgan. O resultado aprofunda a crise vivida pelo primeiro-ministro Boris Johnson, que atravessa um dos momentos mais difíceis desde que chegou ao cargo.
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O Partido Conservador perdeu as eleições antecipadas no círculo de North Shropshire, um bastião dos tories, sendo derrotado pela candidata dos Liberais Democratas, Helen Morgan. O resultado aprofunda a crise vivida pelo primeiro-ministro Boris Johnson, que atravessa um dos momentos mais difíceis desde que chegou ao cargo.
O círculo eleitoral foi a votos na quinta-feira depois da renúncia do deputado conservador Owen Paterson, acusado de favorecer duas empresas para as quais trabalhava como consultor. O Governo de Johnson, do qual Paterson fazia parte como ministro do Ambiente, tentou evitar a sua saída mudando as regras sobre corrupção no Parlamento, mas foi obrigado a recuar.
A derrota dos tories em North Shropshire, um círculo eleitoral rural e onde o sentimento pró-“Brexit” é elevado, tem contornos históricos. Em 189 anos, apenas não foi representado em Westminster por um deputado conservador durante dois anos, entre 1904 e 1906, lembra o Guardian.
Nas últimas eleições, Paterson havia vencido as eleições neste círculo com mais de 60% dos votos e Morgan, que agora foi eleita, tinha ficado em terceiro lugar com apenas 10%.
O resultado em North Shropshire tem implicações profundas a nível nacional, embora pouco interfira com a aritmética parlamentar – os tories mantêm uma confortável maioria na Câmara dos Comuns. No entanto, a derrota surge numa altura em que a liderança de Johnson é fortemente contestada em virtude de uma acumulação de gaffes e escândalos, aliados à agudização da pandemia no Reino Unido.
Não surpreende, por isso, que Helen Morgan tenha visado o primeiro-ministro no seu discurso de vitória. “Hoje, o povo de North Shropshire falou em nome do povo britânico. E disseram alto e bom som: Boris Johnson, a festa acabou.”
O reconhecimento de que o desastre eleitoral neste bastião conservador se estende à liderança de Johnson foi feito mesmo na cúpula do partido. “Os eleitores em North Shropshire estão fartos e deram-nos um pontapé, e penso que queriam enviar-nos uma mensagem”, disse o presidente do partido Oliver Dowden, em declarações à Sky News. “Quero dizer, como presidente do Partido Conservador, que a escutámos de forma clara”, acrescentou.
Boris Johnson chamou para si a responsabilidade da derrota dos tories mas não deixou de criticar a imprensa por se focar demasiado na “política e nos políticos”, numa referência aos vários casos que têm assolado tanto o Governo como o Partido Conservador, das festas de Natal em pleno período de restrições para conter a pandemia às denúncias de lobbying e de desvio de dinheiros públicos.
“O resultado da votação em North Shropshire é, claramente, muito decepcionante. Compreendo totalmente a frustração das pessoas. Ouvi o que os eleitores estão a dizer em North Shropshire e, com toda a humildade, tenho que aceitar o veredicto”, afirmou o primeiro-ministro britânico. “E compreendo que os eleitores querem que nós, como Governo, nos concentremos neles e nas suas prioridades”, acrescentou, antes de acusar a comunicação social de veicular “uma ladainha de coisas sobre política e políticos e coisas que não são sobre as pessoas e o que podemos fazer para tornar as suas vidas melhores.”
A posição de Johnson deverá ficar ainda mais fragilizada, tanto dentro como fora do partido. Esta semana, o Governo viu-se confrontado com uma rebelião de 99 deputados conservadores, que votaram contra o novo pacote de medidas de combate à pandemia, num claro sinal de desconforto dirigido a Johnson.
O primeiro-ministro tem estado no centro de escândalos, como o das festas privadas de Natal do ano passado, organizadas pelos seus assessores e contrariando as medidas sanitárias em vigor na época. É também criticado pela gestão errática da pandemia e já nem conta com o trunfo da corrida vacinal, em que o Reino Unido beneficiou de um arranque forte – a taxa de vacinação não supera os 70%.
Para já, ninguém arrisca antecipar qualquer desafio interno à liderança de Johnson, que continua a ser lembrado como o líder que deu uma das maiorias parlamentares mais significativas ao partido, nas eleições de 2019.
No entanto, avisos como o do deputado tory, Roger Gale, crítico de Johnson, devem passar a ser mais frequentes: “O Partido Conservador tem uma reputação de não fazer prisioneiros: se o primeiro-ministro falha, o primeiro-ministro sai.”