Dez presentes com sabores e histórias que vale a pena comprar este Natal
Todos temos amigos exigentes nas coisas da mesa e que nos dão trabalho por esta altura porque já estão cansados de oferecer sempre a tal garrafa de vinho e querem uma sugestão diferente. De maneira que aqui ficam propostas variadas e que podem dar alguma conversa ao almoço ou ao jantar.
Azeite
Preservar o nosso património genético é rentável
Tiago Lourenço e Ricardo Araújo são românticos com os pés na terra. Não nasceram no mundo rural, mas têm uma angústia comum: a destruição dos olivais tradicionais. Vai daí arrendaram, na zona de Idanha-a-Velha, uma herdade com 180 hectares, dos quais 90 são de olivais antigos.
Como sabiam que a venda do azeite não daria para pagar as despesas, meteram no olival um rebanho de raças autóctones, para a venda borregos. E como borrego está a bom preço, azeite e carne transformaram-se num negócio interessante.
Este Egitânia é um belo azeite biológico e serve para demonstrar que a Beira Interior é um terroir único – e que merece ser conhecido e protegido. As azeitonas de Bical, Cordovil e Galega foram apanhadas no tempo certo e bem trabalhadas no lagar. Donde, temos azeite com aromas de maçã, rama de tomate e tomate confitado. Mas é na boca que ele se destaca com uma harmonia considerável. É doce, suave, aveludado, sem picantes, mas com um ligeiro amargo e sabor de maçã que lhe dá graça. Este sim, é perfeito para o bacalhau.
Egitânia, 11€ (loja Loa, em Lisboa)
Conde Vimioso - Vinha do Convento Branco 2019
Branco à laia de tinto
Depois do tinto no ano passado, surge agora este branco para se juntar ao topo de gama da marca Falua. Mas como Antonina Barbosa tem sempre inúmeras experiências a decorrer, nunca se sabe se o cume da pirâmide fica por aqui ou se vai alargar-se para receber outro vinho.
Sabemos, também, que é deselegante ter telemóveis à mesa, mas, neste caso, julgamos que mostrar a vinha onde nasce este vinho aos amigos e convidados é motivo justificado para violar a regra. O branco encanta por si, mas quando percebemos que as cepas da casta Arinto vivem entre calhaus rolados, num território onde há milhares de anos o Tejo correu, damos mais atenção ao vinho. E, já se sabe, um bom vinho deve dar boa conversa.
Aqui temos um branco com as notas típicas da casta (frutos cítricos diversos), com o trabalho afinado de madeiras e borras finas. Na boca, volume e acidez é o que mais tem. Em certo sentido, é um branco a fazer de tinto, pelo que está muito bem indicado para acompanhar carnes de aves, incluindo o insosso do peru.
Falua, 87€
Kranemann Vintage Vintage 2018
Não pode faltar Porto
Natal sem vinho do Porto não é Natal. E a questão é saber que categoria escolher. Se pensarmos nos bolos de Natal, mais secos, com frutos secos e especiarias, é evidente que os tawnies são os indicados, mas se tivermos em conta o queijo Serra da Estrela ou criações à base de chocolate, aqui o Porto Vintage é a opção. E, nesse caso, que marca?
Os que gostam de jogar pelo seguro irão às marcas de referência. Os que preferem arriscar podem, gastando menos dinheiro, dar uma oportunidade a produtores recentes, como é o caso da Kranemann. Aqui temos um Porto Vintage da colheita de 2018, que se destaca pelas notas de violeta, frutos pretos e vermelhos, fermento e algum chocolate. Na boca, os mesmos frutos, chocolate, a concentração da praxe, bela acidez e prolongamento considerável.
Kranemann, 60€
Charuto
Folhas que estagiam em barris de whisky
Perdomo é uma marca nicaraguense que até encanta aqueles que só fumam puros porque as folhas de tabaco de sementes cubanas são trabalhadas com rigor de ourivesaria.
No mundo dos charutos, a qualidade final varia na razão directa do tempo de maturação das folhas de tabaco. E criatividade é o que não falta. No caso do Perdomo 20.º Aniversário, as folhas estiveram oito anos a estagiar em cascos de barris que guardaram whisky Bourbon.
Este detalhe, e o facto de ter uma construção irrepreensível, transformam-no num charuto cativante. Porquê? Porque tem um tiro perfeito (não precisamos fazer muito esforço para o fumo chegar à boca) e uns aromas de licor, couro, ervas secas, com a boca a realçar os mesmos sabores e algumas notas de cacau. Melhor do que tudo, vamos até ao fim e não sentimos as notas vegetais que chateiam. Moral da história, uma hora tranquila de prazer com um Porto Tawny 20 anos. Para os aficionados, claro.
Perdomo, 13, 90€
Conservas
O melhor do atum é a sua barriga
Bom, aqui a doutrina divide-se. Uns dizem que é, de facto, a barriga; outros preferem alguns pedaços da cabeça e, só para chatear, há quem faça discursos elaborados sobre certos músculos ligados à espinha dorsal do peixe. Nós, portugueses, que aproveitamos em grande estilo um porco do focinho às patas, fazemos o mesmo com o atum. E se há um corte que encanta quem gosta de peixe ele é a ventresca – a barriga do peixe. Neste caso, de atum.
A Corretora, que é uma conserveira artesanal de São Miguel, coloca no mercado uma ventresca de alta qualidade e a um preço ridículo quando fazemos comparações com produtos de Espanha e Itália. A barriga dos peixes que passam nos mares açorianos é de uma textura cremosa e intensidade de sabor que provocam silêncio. Há uma coisa chamada atum e outra ventresca de atum. A nosso ver, não deve ser temperada. Nem com azeite. É só tirá-la da lata e saboreá-la nas calmas. Até o vinho atrapalha.
A Corretora, 5,40€
Chá
Pêssegos e rosas na chávena
O chá, que é feito exclusivamente a partir da planta camellia sinensis, agrupa-se em seis grandes famílias, mas, como no mundo do vinho, cada país e a sua infinidade de microterritórios transformam-se em imensos terroirs diferenciados. Este japonês Benifuuki é o exemplo de um chá preto com terroir. E que chá.
Alguns leitores mais atentos estranharão que se recomende um chá preto (os nutricionistas e os médicos não gostam de chá preto) de um país que é conhecido pelos afamados chás verdes. Pois, mas a ideia é mesmo provocar. Este Benifuuki tem uns aromas de frutos (pêssego) e flores (rosa) que impressionam, com uma boca delicada e aveludada. Para acompanhar os bolos de Natal, uma maravilha.
Se alguém tiver problemas de tensão arterial, a gente ajuda. Quando fizer a primeira infusão, deixe a água quente (90 graus) em contacto com as folhas durante 10 segundos. Deite fora essa água e volte a fazer uma segunda infusão com as mesmas folhas. Oitenta por cento da teína foi à vida.
Benifuuki, Companhia Portugueza do Chá - 10€ (50 gramas)
Mel
O perfume da urze
Quem segue a Fugas perceberá que essa conversa dos melhores disto ou daquilo não faz grande escola. Mas quando uma marca de mel, avaliada em prova cega, é, nos últimos sete anos, eleita a melhor em quatro edições no concurso nacional de méis portugueses, isso quer dizer alguma coisa. E atendendo a que falamos de um produto natural, de puro terroir, não há dúvidas em dizer que o Mel de Barroso, da Cooperativa Agrícola de Boticas (CAB), é especial. É um mel escuro (âmbar), com aromas e sabores fortes, de grande complexidade e desafiantes na prova, tudo proveniente do trabalho que as abelhas fazem com as flores de urze. Ou seja, tanto pode cheirar a madeiras exóticas como a verniz ou até alcatrão. Bem equilibrado na boca, pode, doçura à parte, ter algumas notas entre o adstringente ou o picante. Isso assusta? Não, nada. Pelo contrário. Este mel da CAB é um perfume das terras do Barroso.
Mel de Barroso, 9,95€
Queijo
São Jorge com 30 meses
Criado por flamengos, o queijo São Jorge tem centenas de anos, mas a Denominação de Origem Protegida e a Confraria do Queijo São Jorge só contam 30 anos, feitos por estes dias.
Para celebrar a data, a confraria começou, há 30 meses, a afinar queijos que pudessem dignificar aquele que é o rei dos queijos de leite de vaca do país. Nada é parecido, nenhum lhe chega aos calcanhares. E isto porque a ilha de São Jorge é um território muito peculiar para a produção de leite. Leite cru cheio de gordura e proteínas e carregado de sabor. Depois, nas três queijarias do universo da Uniqueijo é só acrescentar ao leite coalho e sal e deixar que o tempo introduza complexidade nos queijos de grandes dimensões que, no caso desta edição de comemorativa de 30 meses, vem carregado de aromas de frutos secos e fenos. Quando se trinca um pedaço, a boca enche-se de sabores lácteos complexos e intensos, com os crocantes dos cristais a darem vida ao queijo. Por via das dúvidas, convém ter um vinho doce por perto na hora de provar o queijo.
LactAçores, Preço de cunha: 9,90€
Café
O terroir conta muito
Bebemos café como gente grande, mas aceitamos tudo o que nos dão: o bom, o mais ou menos e o mau. Nesta matéria, Portugal está melhor do que Espanha ou até Itália, mas se a comparação for feita com a Suécia ou a Noruega, aqui perdemos. Haverá muitas razões para explicar isso, mas talvez esta possa funcionar como resumo: nós, latinos, bebemos café como estimulante, eles, nórdicos, encaram o café como um produto nobre, que merece atenção.
Claro que, nos últimos anos, surgiram por cá marcas que exploram esse conceito de delicatessen. Entre elas a Simpli. Aqui, tudo é feito para apresentar aos clientes cafés com terroirs variados, provenientes de pequenos produtores de variados países e torrados e moídos com profissionalismo. Compare-se um café desta casa com aquilo que se serve por aí (há excepções, claro) e é a diferença entre o dia e a noite. De maneira que quem quiser conhecer cafés do Brasil, da Etiópia, da Nicarágua, Ruanda, Colômbia, Peru ou da Indonésia é só servir-se, sendo que as cápsulas, dizem os responsáveis da Simpli, são compatíveis com a máquina Nespresso.
Simpli, 5,50€ (10 cápsulas)
Tábuas
Oliveiras centenárias na mesa
Miguel Alves dedicava-se à venda de lenha quando começou a receber e-mails de um alemão a pedir madeira de oliveiras velhas e maciças e a instigá-lo a entrar no negócio da cutelaria. Como não percebia nada do assunto, tentou a sorte com a Icel, marca de referência no mundo das facas. E como gostaram da matéria-prima que oferecia, Miguel foi ganhando o gosto na selecção das oliveiras e quando deu por si estava a criar a marca Tábuas de Portugal, que oferece todo o tipo de soluções para serviço de mesa – da simples tábua para servir pão ou queijo até a mesas propriamente ditas e de grande dimensão.
Como é fácil imaginar, Miguel passa a vida no campo, à procura de oliveiras que estão para ser arrancadas. Por enquanto ainda há matéria-prima, mas o empresário acha que, qualquer dia, as suas tábuas, trabalhadas à mão e com cera de abelha, vão ser peças raras. Lá que são bonitas e funcionais, lá isso são.
Tábuas de Portugal ou loja Loa, em Lisboa - 112€