Irão autoriza substituição de câmaras da agência de vigilância atómica em fábrica de centrifugadoras
Acordo alcançado entre o regime iraniano e a agência de vigilância atómica pode desanuviar tensão causada pelo impasse nas negociações de Viena.
O Irão chegou a acordo com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) para autorizar a instalação de novas câmaras de videovigilância numa instalação crucial para o seu programa nuclear. A medida tem o objectivo de facilitar as conversações que decorrem em Viena entre Teerão e cinco potências mundiais que visam reabilitar o acordo assinado em 2015.
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O Irão chegou a acordo com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) para autorizar a instalação de novas câmaras de videovigilância numa instalação crucial para o seu programa nuclear. A medida tem o objectivo de facilitar as conversações que decorrem em Viena entre Teerão e cinco potências mundiais que visam reabilitar o acordo assinado em 2015.
A decisão das autoridades iranianas foi bem acolhida pela AIEA. “O acordo com o Irão sobre a substituição das câmaras de videovigilância nas instalações de Karaj é uma evolução importante para as actividades de verificação e monitorização da AIEA”, disse o director da agência, Rafael Grossi.
A vigilância das actividades da fábrica de centrifugadores de Karaj é um ponto fundamental do acordo sobre o programa nuclear iraniano. Em Junho, as instalações foram alvo de uma acção de sabotagem – que o Irão atribuiu a Israel – que destruiu uma das quatro câmaras da AIEA. Desde então, as restantes câmaras foram retiradas e as autoridades iranianas rejeitavam os pedidos da agência de monitorização para as substituir.
O impasse fez aumentar a desconfiança em torno das actividades na fábrica de Karaj, onde se desenvolvem centrifugadoras que permitem enriquecer urânio, e tornou-se um dos principais obstáculos diplomáticos para que o acordo de 2015 voltasse a ser aplicado.
As equipas negociais do Irão e dos outros cinco signatários do acordo (França, Reino Unido, Alemanha, Rússia, China e EUA, de forma indirecta) têm estado reunidas em Viena nos últimos dias para tentar dar uma nova vida ao documento que se tornou letra morta após a sua denúncia pelos EUA em 2018.
No entanto, as negociações têm sido marcadas por muito poucos avanços. Os diplomatas europeus dizem que a posição iraniana se radicalizou depois da eleição do novo Presidente, Ebrahim Raisi, um ultraconservador, e vêem com dificuldade a possibilidade de salvar o acordo. Teerão tem insistido no levantamento imediato das sanções económicas que voltaram a ser impostas após a saída dos EUA do acordo.
Os analistas consideram que o entendimento alcançado para a substituição das câmaras de videovigilância em Karaj é um progresso positivo, mas é incerto que venha a ser suficiente para que as negociações de Viena sejam bem sucedidas. “Foi um movimento táctico para evitar uma crise diplomática de curto prazo, mas o impasse mais geral em relação ao acordo nuclear mantém-se”, disse à Reuters o analista do Eurasia Group, Henry Rome.
Desde que o acordo de 2015 foi rasgado por Donald Trump que as sanções voltaram a ser impostas ao Irão. Em resposta, o regime desafiou vários dos limites previstos pelo acordo e impediu a entrada de equipas de inspectores da AIEA a instalações relacionadas com o programa nuclear.
Apesar de o Irão garantir que o programa tem fins exclusivamente de investigação científica e energética, o desenvolvimento do programa nuclear é encarado como uma ameaça à estabilidade regional, sobretudo por Israel, mas também pela Arábia Saudita e os seus aliados do Golfo Pérsico.