Kengo Kuma e Rita Topa sobre Gulbenkian: “O protagonista deste projecto é o jardim”
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No 21.º episódio do podcast No País dos Arquitectos, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com os arquitectos Kengo Kuma e Rita Topa. Kengo Kuma foi o arquitecto seleccionado pela Gulbenkian para projectar a ampliação dos jardins, na ala sul da fundação, assim como a renovação e ampliação da nova entrada de acesso ao antigo Centro de Arte Moderna (CAM).
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No 21.º episódio do podcast No País dos Arquitectos, Sara Nunes, da produtora de filmes de arquitectura Building Pictures, conversa com os arquitectos Kengo Kuma e Rita Topa. Kengo Kuma foi o arquitecto seleccionado pela Gulbenkian para projectar a ampliação dos jardins, na ala sul da fundação, assim como a renovação e ampliação da nova entrada de acesso ao antigo Centro de Arte Moderna (CAM).
Inspirado pela arquitectura tradicional japonesa, Kengo Kuma afirma que “o protagonista deste projecto é o jardim” e Rita Topa, que trabalha no atelier Kengo Kuma & Associates e é responsável da equipa do projecto de extensão dos jardins da Gulbenkian, revela o que aprendeu com o premiado arquitecto sobre a arquitectura japonesa e como as suas origens também influenciaram a utilização de determinados materiais neste projecto.
Para se compreender a intervenção, no contexto actual, é preciso recuar no tempo. No início da década de 1960, os arquitectos paisagistas Gonçalo Ribeiro Telles e António Viana Barreto iniciaram a concepção do que viria a ser um dos espaços mais emblemáticos da Fundação Calouste Gulbenkian: o jardim. Em 2019, o Museu Calouste Gulbenkian celebrou o seu 50.º aniversário e, agora, o arquitecto Kengo Kuma, juntamente com Rita Topa, quer mostrar como este espaço, pensado para o futuro, “proporciona uma experiência especial com a natureza”, algo “tão necessário neste contexto da covid-19”.
Para estabelecer uma melhor relação entre o Centro de Arte Moderna e o novo jardim, o arquitecto Kengo Kuma, criou uma cobertura inspirada no espaço engawa. Durante a nossa conversa, o arquitecto Kengo Kuma explica-nos como esse espaço aproxima as pessoas da natureza, evocando a atmosfera do lugar: “Eu procuro trazer de volta o engawa tradicional aos edifícios contemporâneos e o espaço engawa, concebido na Fundação Calouste Gulbenkian, é um excelente exemplo da futura relação entre o jardim e o edifício. (...) A nova forma de traduzir o engawa para a construção contemporânea é mostrar como isso vai além da tradição japonesa e vai além do próprio movimento modernista”, esclarece.
Este espaço, que não está nem dentro nem fora, encoraja as pessoas a comunicar com a natureza e entre si. No fundo, o espaço acumula duas funções: intensifica a relação entre o interior do edifício e o seu exterior e serve de ligação para os dois lados do jardim (o actual e o novo). A madeira também tem sido um material de eleição para Kengo Kuma e, a sua aplicação neste engawa, trouxe o equilíbrio que era necessário para o lugar. Embora durante o século XX, tenha havido uma utilização intensa do betão e do aço, Kengo Kuma realça a importância do regresso às origens com a utilização de materiais autóctones. Este projecto materializa esse pensamento e mostra como a madeira e o betão unem forças, dissipando as fronteiras outrora existentes entre a Natureza, a Arquitectura e a Arte.
Para além do uso da madeira, o espaço engawa é também construído em cerâmica. Segundo Kengo Kuma, a junção dos dois materiais simboliza um “intercâmbio entre a cultura portuguesa e a cultura japonesa”.
Já Rita Topa revela que a tradição portuguesa dos azulejos exerceu uma forte influência neste espaço e essa combinação acontece em benefício do lugar: “Foi como uma reinterpretação do material (...). Em qualquer local que estamos a trabalhar, procuramos realçar o que é a natureza do local”. Esta “experiência espacial” permite que a natureza funcione como um elemento da arquitectura e, ao respeitarem os materiais locais, os arquitectos reflectem também sobre o lugar da transparência na arquitectura.
A arquitecta Rita Topa reconhece que o processo de aprendizagem com Kengo Kuma já passou por várias fases e, segundo a sua perspectiva, uma das principais diferenças entre a arquitectura japonesa e a arquitectura portuguesa está na ideia de “trabalhar o vazio”. Como a arquitectura tem o poder de criar impacto na vida das pessoas, Rita Topa considera que duas das peças-chave em todos os projectos é “ouvir o local” e “colaborar com as pessoas que fazem parte desse local”.
A fundação conta actualmente com o museu, a orquestra e o coro, a biblioteca de arte, o instituto de investigação científica, o Centro de Arte Moderna e o jardim. Toda a fundação, incluindo os vários edifícios e jardins, foi pensada como um centro cultural onde as pessoas podem circular livremente. Durante a pandemia, a forma como cada um de nós passou a percepcionar o espaço sofreu alterações e, Kengo Kuma verifica que o betão – de que nos vimos rodeados, durante o confinamento –, “não pode ser o material do futuro”.
Existe agora uma maior necessidade de uma arquitectura sustentável, em relação com a natureza, e o arquitecto quer transmitir essa mensagem às gerações mais novas: “Quero ensinar uma noção da Natureza e do nosso relacionamento com a Terra. Aliás, nós vivemos no planeta Terra. Não vivemos na Arquitectura. Ou seja, o mais importante para nós é como manter o ambiente e como manter este planeta. A Gulbenkian pode ser um sábio exemplo, no futuro, para esta convivência entre a Terra e nós, seres humanos”.
No País dos Arquitectos é um dos podcasts da Rede PÚBLICO. Produzido pela Building Pictures, criada com a missão de aproximar as pessoas da arquitectura, é um território onde as conversas de arquitectura são uma oportunidade para conhecer os arquitectos, os projectos e as histórias por detrás da arquitectura portuguesa de referência.
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