O Pai Natal existe, não existe?

Sim, poder-se-ia argumentar também que a minha conta bancária diminui exactamente no valor dos presentes que aparecem nas meias dos meus filhos nas manhãs de Natal, mas eu sei, de fonte segura, que não sou só eu a arranjar esses presentes.

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"Há 61 natais que penduro a minha meia (dantes era a do meu pai, porque era maior) e nem por uma vez o Pai Natal se esqueceu de mim" @designer.sandraf

Querida Mãe,

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Querida Mãe,

Já não lhe faço perguntas complicadas há muito tempo mas as questões existenciais não desaparecem assim sem mais nem menos! Estou para lhe fazer esta desde pequena, mas só agora me sinto preparada para ouvir a resposta: O Pai Natal existe, não existe?

É que apesar de alguém mais céptico poder argumentar que desde que saí de sua casa e fui viver com o meu marido, as meias de Natal não se enchem sozinhas, eu confio nas minhas filhas e elas sabem que o Pai Natal existe.

Sim, poder-se-ia argumentar também que a minha conta bancária diminui exactamente no valor dos presentes que aparecem nas meias dos meus filhos nas manhãs de Natal, mas eu sei, de fonte segura, que não sou só eu a arranjar esses presentes. Quer provas? Eu sou forreta e o Pai Natal é generoso e, dentro do razoável, não se importa de gastar dinheiro para os surpreender e ver felizes.

O facto de ele existir também me leva a comer bolachas de manteiga e a dar golos em copos de leite (ainda que odeie leite, e não adore bolachas). E a sua existência também faz os meus filhos irem para a cama sem refilar na véspera de Natal (e isso só por si é um milagre)!

Por isso mãe... O Pai Natal existe, certo?

Beijos


Querida Ana,

Dúvidas existenciais é uma coisa, pôr em causa o Pai Natal é outra completamente diferente.

É claro que existe e, como acabas de deixar claro, o que não faltam é provas. Há 61 natais que penduro a minha meia (dantes era a do meu pai, porque era maior) e nem por uma vez o Pai Natal se esqueceu de mim.

Mas como pelos vistos a minha palavra não te chega, cito um psicólogo chamado Tad Waddington que resume tudo o que sinto sobe este assunto: “O Pai Natal existe porque muitas pessoas estão de acordo quanto aquilo que ele faz, e porque tem um efeito mensurável no mundo. Não no sentido ontológico (como um tijolo), mas no sentido funcional (como os números).”

E sublinha: “A nossa experiência psicológica, a nossa existência psicológica é muitas vezes mais importante do que as nossas experiências físicas.” Por outras palavras, como diz Muriel Rukeyser: “O Universo é feito de histórias e não de átomos.”

Espero que depois disto nunca mais te atrevas a ter uma crise de fé deste calibre.

E põe a meia!


No Birras de Mãe, uma avó/mãe (e também sogra) e uma mãe/filha, logo de quatro filhos, separadas pela quarentena, começaram a escrever-se diariamente, para falar dos medos, irritações, perplexidade, raivas, mal-entendidos, mas também da sensação de perfeita comunhão que — ocasionalmente! — as invade. Mas, passado o confinamento, perceberam que não queriam perder este canal de comunicação, na esperança de que quem as leia, mãe ou avó, sinta que é de si que falam. Facebook e Instagram.