PJ sabia há três meses que Rendeiro estava na África do Sul

A PJ revela que João Rendeiro foi detido este sábado às sete da manhã na África do Sul e que agora a missão é “cumprir a extradição”. O banqueiro mostrou-se “surpreendido” com a detenção.

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MÁRIO CRUZ

João Rendeiro foi detido na manhã deste sábado, por volta das 7h, na África do Sul. A detenção do ex-banqueiro, sobre quem pendia um mandado de detenção internacional, foi feita pelas autoridades locais com a colaboração da Polícia Judiciária (PJ).

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João Rendeiro foi detido na manhã deste sábado, por volta das 7h, na África do Sul. A detenção do ex-banqueiro, sobre quem pendia um mandado de detenção internacional, foi feita pelas autoridades locais com a colaboração da Polícia Judiciária (PJ).

Durante uma conferência de imprensa, realizada às 9h30 deste sábado, o director da PJ Luís Neves revelou que agora a missão é “cumprir a extradição” e lembrou, no entanto, que existe risco de fuga até porque se trata de uma “pessoa com grande capacidade económica, o que lhe dá grande mobilidade”. Luís Neves explicou ainda que o país não tem acordo de extradição com Portugal, mas há acordos de cooperação entre os dois Estados que permitem que Rendeiro venha a ser extraditado para cumprir pena.

A PJ explicou que João Rendeiro “não tinha disfarces, mas tinha muitos cuidados” e possui uma autorização de residência, emitida a 10 de Novembro. Terá sido “um apoio pessoal que lhe permitiu esconder-se na África do Sul”. “Terá lá algum investimento e pensou que por ter esse investimento podia não ser extraditado”, acrescentou Luís Neves.

João Rendeiro mostrou-se “surpreendido” com a detenção e será presente às autoridades nas próximas 48 horas.

A PJ decidiu não revelar onde foi detido o ex-banqueiro, mas explicou que João Rendeiro está detido muito longe de Pretória e de Joanesburgo.

Por sua vez, fonte da polícia sul-africana revelou à agência Lusa que Rendeiro foi detido no norte da cidade portuária de Durban, sudeste da África do Sul, e que será ouvido em tribunal na segunda-feira. “Ele já estava sob nossa vigilância e assim que a necessária documentação chegou prendemos este indivíduo, esta manhã, em Umhlanga Rocks, norte de Durban”, explicou à Lusa o porta-voz do comissário nacional da polícia sul-africana Vishnu Naidoo.

A mesma fonte acrescentou que o ex-banqueiro está detido numa esquadrada da polícia, em Durban, e comparecerá no Tribunal da Magistratura de Durban na segunda-feira como parte do processo de extradição.

A informação foi inicialmente avançada pela PJ numa nota divulgada no seu site: “A Polícia Judiciária informa que, na manhã de hoje, foi detido o cidadão João Rendeiro, sobre quem pendia Mandado de Detenção Internacional”.

Durante a conferência de imprensa, Luís Neves começou por confirmar a informação que a PJ revelou no site às 8h30 deste sábado e passou de imediato aos agradecimentos, tendo agradecido a colaboração das autoridades da África do Sul. Luís Neves agradeceu também ao serviço de investigação criminal de Angola que ajudou a estabelecer esse contacto com as autoridades.

“Detectamos a saída [de João Rendeiro de Portugal] em 14 de Setembro, a partir do Reino Unido. Sabemos por onde passou até chegar à África do Sul. Sabemos as rotinas. Constituímos uma equipa de trabalho que, em permanência e com reuniões diárias, encurtou a procura”, acrescentou o director da PJ.

Segundo Luís Neves, João Rendeiro entrou na África do Sul no dia 19 de Setembro e quando Maria de Jesus Rendeiro foi detida e revelou a localização do marido, durante o interrogatório como arguida no Tribunal de Instrução Criminal de Lisboa, já a PJ tinha essa informação. “Sabíamos que havia entradas e saídas de África do Sul na semana de 20 a 24 de Novembro e reunimos com os mais altos dirigentes policiais da República da África do Sul. Explicamos o quão importante eram os crimes graves cometidos por esta pessoa e tivemos uma resposta positiva”, disse.

Luís Neves acrescentou que o português esteve nos últimos meses na zona mais rica, a zona financeira de Joanesburgo. “Era o seu habitual local de de refúgio, em hotéis de cinco estrelas”, detalha ao mesmo tempo que diz que “é patético” que Rendeiro diga que não estava fugido, já que “tinha muitos cuidados e não circulava livremente nesse país”.

De acordo com o director da PJ, Rendeiro usou tecnologias avançadas que custam uma “exorbitância” para ocultar as suas comunicações, sendo este o “grande sinal de que João Rendeiro jamais se quis apresentar às autoridades” e fez tudo o que podia para se manter em fuga. Luís Neves dá o exemplo da entrevista de Rendeiro à CNN, realizada de forma encriptada para que não fosse possível localizá-lo.

João Rendeiro, condenado a cinco anos e oito meses de prisão efectiva no âmbito de um processo relacionado com a falsificação da contabilidade do BPP, fugiu de Portugal em Setembro para escapar à pena de prisão. As autoridades portuguesas já tinham emitido dois mandados de detenção, europeu e internacional.

Num texto publicado no seu blogue Arma Crítica, no dia 28 de Setembro, João Rendeiro assumiu publicamente a fuga e explicou que no decurso dos processos em que foi acusado efectuou “várias deslocações ao estrangeiro, tendo comunicado sempre o facto aos processos respectivos”. “De todas as vezes regressei a Portugal. Desta feita não tenciono regressar”. Rendeiro disse ainda que a fuga representou um “acto de legítima defesa contra uma justiça injusta”.