Mulher e independente, Milena Pires é candidata a Presidente de Timor-Leste

Milena Pires é mulher, não tem máquina partidária e, com 55 anos, não foi líder da luta pela independência — é da geração dos filhos dos velhos combatentes. É candidata a Presidente de Timor-Leste.

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Milena Pires apresenta-se como “mãe, mulher, diplomata e política” Martin Gonçalves

Milena Pires, advogada, antiga embaixadora e ex-deputada do Partido Social Democrata (PSD) no parlamento timorense, vai apresentar a candidatura à presidência de Timor-Leste nos próximos dias. Após seis chefes de Estado homens e membros da geração que liderou a luta pela independência do país, apresenta-se como mulher independente da nova geração e sem máquina partidária.

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Milena Pires, advogada, antiga embaixadora e ex-deputada do Partido Social Democrata (PSD) no parlamento timorense, vai apresentar a candidatura à presidência de Timor-Leste nos próximos dias. Após seis chefes de Estado homens e membros da geração que liderou a luta pela independência do país, apresenta-se como mulher independente da nova geração e sem máquina partidária.

Pires, 55 anos, avança em resposta “a um pedido de jovens e estudantes” timorenses que a “desafiaram” a “conduzir a mudança e a transformação que aspiram na política e na vida social e económica de Timor-Leste”, disse a candidata ao PÚBLICO. “A vontade [de candidatar-se] nasce também da preocupação que tenho em contribuir para que a população em Timor-Leste consiga uma vida digna numa sociedade inclusiva, equitativa e mais justa e solidária.”

A ex-diplomata apresenta-se como “mãe, mulher, diplomata e política” e diz que quer “dar voz aos mais desfavorecidos e marginalizados”. Há umas semanas, o seu marido, Zacarias da Costa, ex-ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste e actual secretário executivo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), disse ao PÚBLICO que Timor precisa de uma regeneração política o mais depressa possível” e que os líderes actuais não estão a dar oportunidades aos jovens”.

As próximas eleições presidenciais deverão ser em Março ou Abril de 2022, após a estação da chuva e de modo a que, seguindo a tradição, o novo Presidente tome posse a 20 de Maio, dia da independência de Timor-Leste.

O actual chefe de Estado é Francisco Lu Olo Guterres, antigo guerrilheiro dos anos de luta e resistência militar contra o Exército da Indonésia, que ocupou o país durante 25 anos.

Nas últimas eleições, Lu Olo” teve o apoio de Xanana Gusmão, líder da guerrilha e o primeiro Presidente do país após a independência. É no entanto improvável que esse apoio se repita em 2022, após a crise institucional recente na qual “Lu Olo” recusou dar posse como membros do Governo a políticos do partido de Xanana. “Estão todos à espera de saber quem é que Xanana vai apoiar desta vez”, disse ao PÚBLICO um político timorense próximo da candidatura de Pires.

Milena Pires não é conhecida no interior do país, nem tem o apoio de uma máquina partidária, pois vai candidatar-se como independente. Os seus apoiantes acreditam que essas desvantagens serão compensadas pelo facto de ser de uma nova geração, mulher e independente. Xanana tem 75 anos, José Ramos-Horta tem 71, Taur Matan Ruak tem 65 e “​Lu Olo”, actual chefe de Estado, tem 67 (Vicente Guterres e Fernando Lasama Araújo foram interinos). Todos fazem parte da elite política que liderou a resistência contra a Indonésia.

“É uma candidatura independente e suprapartidária”, disse Pires ao PÚBLICO, “porque o Presidente da República também o deve ser. Quero que a minha candidatura seja uma alternativa e uma força positiva para conseguir a mudança e a transformação exigida pelos jovens e pela sociedade. O Presidente não pode permanecer no Palácio Presidencial, o ‘Aitarak Laran’. Deve estar mais perto do povo, para o ouvir e incentivar a participar.” Os timorenses, diz Pires, “devem ser os autores principais do desenvolvimento no país” e, por isso, “é necessário levar a presidência para o povo, para que se sintam acarinhados e não abandonados”. A ex-embaixadora diz que, apesar de o Presidente não ter um papel executivo, “pode exercer a sua magistratura de influência sobre as políticas públicas, tornando-as mais responsáveis e ajustadas às necessidades dos cidadãos e focadas nas prioridades”.

Como diplomata, Pires foi nomeada representante permanente de Timor-Leste junto das Nações Unidas, em Nova Iorque, em 2016 e abandonou o cargo e o ministério para preparar a candidatura. Antes, foi assessora para a coordenaçāo das políticas de Indústria e Ambiente junto do ministro do Comércio, Indústria e Ambiente, assessora do vice-primeiro-ministro Mário Carrascalão; vice-presidente do Conselho Nacional durante a Administraçāo Transitória das Nações Unidas em Timor-Leste (UNTAET) e deputada do PSD à primeira Assembleia Constituinte.

Advogada, Pires escreveu vários artigos sobre direitos humanos, em particular, direitos das mulheres, igualdade do género direito à participação política, em livros e revistas da especialidade. Foi membro da direcção de várias organizações da sociedade civil timorense e co-fundadora da Rede Feto – Rede das Mulheres Timorenses, e do Centro da Mulher e Estudos do Género em Timor-Leste, e teve vários cargos em agências da ONU.

Nota: na versão original, lia-se que era a primeira mulher candidata à presidência, o que não é correcto. Houve outras mulheres candidatas. Pedimos desculpa pelo erro.