Éric Zemmour promete “reconquista francesa” no primeiro comício das presidenciais

Candidato que disputa o eleitorado da extrema-direita com Marine Le Pen chamou Reconquista ao seu novo partido, numa alusão ao processo histórico que pôs fim ao domínio muçulmano da Península Ibérica.

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O candidato da extrema-direita discursou durante quase uma hora e meia CHRISTIAN HARTMANN/Reuters

O novo rosto da extrema-direita francesa e candidato à eleição presidencial de 2022, Éric Zemmour, prometeu liderar uma “reconquista” em França após “décadas de declínio do maior país do mundo”, e anunciou que o seu novo partido vai chamar-se, precisamente, Reconquista.

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O novo rosto da extrema-direita francesa e candidato à eleição presidencial de 2022, Éric Zemmour, prometeu liderar uma “reconquista” em França após “décadas de declínio do maior país do mundo”, e anunciou que o seu novo partido vai chamar-se, precisamente, Reconquista.

Num primeiro comício de campanha, no domingo, num subúrbio de Paris, Zemmour discursou durante quase uma hora e meia e lançou acusações contra os jornalistas e contra as elites, motivando comparações com o ex-Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.

O comício, que teve lugar em Villepinte, a 18 quilómetros da capital francesa, ficou marcado por agressões de apoiantes de Zemmour a manifestantes anti-racismo. E o próprio candidato foi agredido por um opositor, que o agarrou pelo pescoço, durante um breve momento, quando Zemmour se encaminhava para o palco.

Depois da agressão, Zemmour subiu ao palco e discursou durante quase uma hora e meia. Segundo o jornal Le Monde, o candidato foi observado por médicos no final do comício e recebeu ordens para descansar nos próximos nove dias. Um porta-voz de Zemmour disse à agência Reuters que o novo partido admite apresentar queixa contra o agressor, e elogiou “a coragem” do candidato à eleição presidencial de Abril de 2022.

Zemmour, de 63 anos, filho de imigrantes judeus argelinos, surgiu na campanha para disputar o título de líder da extrema-direita nacionalista a Marine Le Pen, que tem perdido apoio no seu eleitorado natural desde que começou a tentar apresentar-se ao país como uma candidata menos radical.

“Se eu vencer esta eleição, não será mais uma mudança de poder, mas sim uma reconquista do maior país do mundo”, declarou Zemmour, no domingo, antes de anunciar que o seu novo partido vai chamar-se Reconquista — numa evocação do processo histórico em que as forças cristãs expulsaram os muçulmanos da Península Ibérica. 

Durante o discurso, Zemmour prometeu cortar os impostos e reduzir o número de imigrantes em França, levando ao delírio os cerca de dez mil apoiantes que estiveram no comício, segundo uma contagem da Reuters.

Os apoiantes do candidato lançaram cadeiras contra manifestantes que estavam vestidos com t-shirts anti-racismo, e que tentaram protestar contra o discurso de Zemmour. Segundo os organizadores do protesto, cinco manifestantes ficaram feridos.

Antes do início do comício, a polícia deteve dezenas de opositores de Zemmour nas imediações do centro de convenções de Villepinte e durante uma manifestação contra o candidato em Paris.

Provocações

O antigo jornalista e comentador político pôs fim a semanas de especulação ao anunciar a sua candidatura à eleição presidencial, na terça-feira da semana passada.

No domingo, apresentou-se como “o único candidato que defende a liberdade de pensamento e de expressão”, e rejeitou as acusações de fascismo, racismo e misoginia de que tem sido alvo.

Zemmour, que foi condenado em 2018 por exortação da discriminação contra muçulmanos, é o principal adversário de Marine Le Pen na luta por um lugar na segunda volta da eleição presidencial. Segundo as sondagens, o cenário mais provável é que Zemmour ou Le Pen acompanhem o actual Presidente, Emmanuel Macron, na disputa final pela Presidência de França.

Conhecido pelas suas declarações provocatórias contra o islão e a imigração, Zemmour tem recebido apoio no antigo eleitorado de Le Pen e também na direita conservadora mais tradicional.

Entre as suas principais promessas destacam-se a redução da imigração até zero; o corte nos impostos para a classe trabalhadora e para as empresas; a abolição do imposto de herança aplicado às empresas familiares; e a saída de França do comando militar integrado da NATO.

Zemmour obteve o apoio de uma parte dos conservadores mais tradicionais ao apresentar-se como amigo de Eric Ciotti, o candidato do partido Os Republicanos, do centro-direita, que teve um resultado acima do esperado nas eleições primárias de sábado contra Valérie Pécresse.