Falar de Natal é falar de tempo!

Talvez se possa começar também a oferecer presentes que, em vez de bens materiais, possam ser vales de actividades a fazer com a família, que impliquem passar tempo de qualidade juntos.

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"Este Natal escolha criteriosamente os presentes que vai oferecer, sem se esquecer que pode também ser um dos presentes mais desejados" Kira auf der Heide/Unsplash

O Natal está, novamente, a chegar! E com ele uma série de questões acerca dos presentes a dar às crianças e as muitas dificuldades para realizar todos os seus desejos. Mas será esse o aspecto central do Natal? E será que é benéfico para as crianças realizar todos os seus pedidos?

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O Natal está, novamente, a chegar! E com ele uma série de questões acerca dos presentes a dar às crianças e as muitas dificuldades para realizar todos os seus desejos. Mas será esse o aspecto central do Natal? E será que é benéfico para as crianças realizar todos os seus pedidos?

Proponho que façam um jogo de associação de ideias com as vossas crianças. Simplesmente, perguntem-lhes: “Quando se fala de Natal, o que vos vem à cabeça?” Seguramente, a maioria irá responder: “Presentes”, “brinquedos”. Mas também acredito que muitas irão referir a “Família”, o “Menino Jesus”, o “Pai Natal”, os “doces”. E afectos? Amor? Amizade? Solidariedade? Quantos responderão?

E nós adultos, a que associamos o Natal? Stress? Consumismo? Gastos desmensurados? Convívios com família e amigos? Saudades de quem já não se senta à mesa connosco?

Pois é, o Natal é uma altura do ano muito especial que, no que toca a emoções, não consegue deixar ninguém indiferente. É uma época adorada por muitos e que aguardam ansiosamente, principalmente as crianças; mas símbolo de tristeza, saudade, angústia para outros, que querem que o mês de Dezembro passe rápido, pois a quadra natalícia é-lhes penosa.

Esta forma tão diferente de sentir o Natal está intimamente relacionada com as vivências e circunstâncias de vida de cada um, com o significado que se atribui a esta quadra e com as mensagens que nos foram sendo transmitidas ao longo dos anos.

E é aqui que quero chegar. Se parar para pensar, que mensagens tem passado os seus filhos acerca do Natal? Que mensagens passa a sociedade? Que valores gostaria de lhes transmitir acerca desta quadra, que é uma época por excelência da família, dos amigos, dos afectos, da solidariedade?

Pois é, mas por muito que queiramos fugir do consumismo desenfreado e valorizar o que realmente importa, ou seja, o convívio com quem nos é mais querido e o tempo de qualidade em família, sabemos que a publicidade e a sociedade de consumo que nos rodeiam, não ajudam nesta tarefa. As crianças são bombardeadas, diariamente, com anúncios muito apelativos acerca de todo o tipo de brinquedos com as suas personagens favoritas, das marcas da moda, de que todos falam na escola e todos querem ter. Tudo isto leva às listas infindáveis de pedidos nas longuíssimas cartas ao Pai Natal.

Que intervenção podem os pais ter aqui?

Os pais podem, e devem, orientar os filhos nas tomadas de decisões, nomeadamente, nos pedidos de presentes. É importante ajudar as crianças a reflectir sobre qual ou quais os brinquedos que, efectivamente, gostavam de ter, que vão valorizar, estimar e utilizar nas suas brincadeiras de forma entusiástica; distinguindo-os de outros, que também gostariam de ter, mas que não teriam tanto impacto nas suas brincadeiras.

E aqui importa também salientar que não é possível terem tudo o que querem, à semelhança do que acontece na vida. Daí a importância acrescida de se estabelecer prioridades e de se conseguir fazer escolhas e tomar decisões. Atenção pais, com isto estão a educar os vossos filhos para serem consumidores conscientes e a prepará-los para outras situações da sua vida onde estas capacidades de escolha, gestão de prioridades e autocontrolo, vão ser essenciais.

Algumas lojas, já permitem a manipulação e experimentação de alguns brinquedos que poderão ajudar as crianças a fazer escolhas mais conscientes sobre os que gostariam realmente de ter. Muitas têm também os catálogos com os brinquedos e os preços, para as crianças assinalarem aqueles que querem, que poderão ajudar noutras aprendizagens, nomeadamente em questões relacionadas com a gestão financeira. Por exemplo, é importante perceberem que há brinquedos, que por muito que gostassem de ter, poderão ser demasiado caros para o orçamento familiar e, portanto, ou devem escolher outros mais dentro das possibilidades da família que também satisfaçam os seus gostos ou então, perceberem que conseguir tê-los vai implicar sacrifícios e abdicar de outras coisas.

Podem também recorrer ao argumento de que “quantidade não é qualidade” e, sabemos perfeitamente que muitas vezes, quantos mais presentes recebem, menos os valorizam, acabando por não ligar a alguns deles.

Talvez se possa começar também a oferecer presentes que, em vez de bens materiais, possam ser vales de actividades a fazer com a família, que impliquem passar tempo de qualidade juntos, dando a oportunidade ao estreitamento de laços afectivos, no fundo, um dos grandes objectivos desta quadra natalícia. Até as grandes superfícies comerciais, dedicadas à venda de brinquedos, começam a mudar o seu paradigma e estar mais próximas das famílias. Ou seja, apesar do seu grande objectivo de vender brinquedos, também começam a preocupar-se em proporcionar às famílias tempo de qualidade em conjunto, que sabem ser essencial para o desenvolvimento das crianças, criando actividades e concursos que ajudem no entretenimento das famílias.

Uma outra sugestão que ajuda a reavivar os verdadeiros valores do Natal, é incentivar as crianças a seleccionar brinquedos seus, que ainda estejam em bom estado, mas com os quais já não brincam, para doar a outras crianças carenciadas. E desta forma, para além de promoverem a solidariedade, reaproveitam-se brinquedos e ensina-se as crianças a serem generosas e altruístas, partilhando aquilo que têm com quem é mais desfavorecido. Simultaneamente, ensina-se a serem gratas por terem privilégios que nem todas as crianças conseguem alcançar.

Mas reparem numa coisa… O Natal são apenas dois dias no ano, portanto restam-nos os outros 363 dias para veicular estas mensagens e para ajudar as crianças a lidar com o consumismo, que surge também noutras datas do calendário.

Quantos presentes oferece como forma de compensação da falta de tempo que tem para estar com a sua família? Quantos presentes serão necessários para compensar os afectos? E será que realmente os substituem?

Este Natal escolha criteriosamente os presentes que vai oferecer, sem se esquecer que pode também ser um dos presentes mais desejados. Não se esqueça, neste Natal faça com que as suas crianças associem a quadra festiva, acima de tudo ao Amor, à Família e à Solidariedade!

Seja o Presente! Esteja Presente!