A “massagem” era um “ardil” para que as menores tocassem em Jeffrey Epstein
No quinto dia do mediático julgamento, a registar o testemunho de Jeffrey Parkinson, um agente da polícia reformado que esteve nas buscas de 2005.
Uma mesa de massagem verde apreendida na propriedade de Jeffrey Epstein em Palm Beach foi levada para um tribunal federal de Manhattan, esta sexta-feira, onde a socialite britânica Ghislaine Maxwell está a ser julgada, acusada de ter estado envolvida nos abusos sexuais que o magnata exerceu sobre raparigas menores de idade.
A verdade faz-nos mais fortes
Das guerras aos desastres ambientais, da economia às ameaças epidémicas, quando os dias são de incerteza, o jornalismo do Público torna-se o porto de abrigo para os portugueses que querem pensar melhor. Juntos vemos melhor. Dê força à informação responsável que o ajuda entender o mundo, a pensar e decidir.
Uma mesa de massagem verde apreendida na propriedade de Jeffrey Epstein em Palm Beach foi levada para um tribunal federal de Manhattan, esta sexta-feira, onde a socialite britânica Ghislaine Maxwell está a ser julgada, acusada de ter estado envolvida nos abusos sexuais que o magnata exerceu sobre raparigas menores de idade.
A acusação tem defendido a tese de que muitos dos encontros de Epstein com as adolescentes começaram como massagens antes de se intensificarem, considerando que o termo “massagem” era um “ardil” para levar as raparigas a tocar em Epstein.
Ghislaine Maxwell, de 59 anos, filha do antigo magnata de media Robert Maxwell e apontada como uma antiga namorada de Epstein, declarou-se inocente em todas as acusações, incluindo oito de tráfico sexual, e a defesa descreve-a como um bode expiatório, uma vez que Jeffrey Epstein, que morreu em 2019, não pode responder por quaisquer acusações.
No quinto dia do mediático julgamento, ainda a registar o testemunho de Jeffrey Parkinson, um agente reformado da polícia, que esteve nas buscas de 2005, quando se deram as primeiras acusações, e que disse ter retirado uma mesa de massagem da propriedade do financeiro. Paralelamente, a procuradora do Ministério Público Maurene Comey mostrou aos jurados uma fotografia de uma caixa com a etiqueta "Twin Torpedos”, uma marca de vibradores, que um outro agente, Michael Dawson, disse conter objectos de satisfação sexual e que foi encontrado num armário no piso superior da casa.
“Estávamos à procura de mesas de massagem, procurávamos óleos de massagem, procurávamos brinquedos sexuais, procurávamos correspondência”, testemunhou Dawson na sexta-feira à tarde.
Jeffrey Epstein (n.1953, Brooklyn, Nova Iorque) foi um magnata norte-americano, multimilionário (apesar de a origem da sua fortuna ser difícil de identificar, havendo quem diga que aparentava ter mais do que de facto possuía) e muito influente no meio político e mediático norte-americano, com ligações a personalidades como os ex-presidentes norte-americanos Bill Clinton e Donald Trump ou o príncipe André do Reino Unido. Tanto que, em 2008, depois de ter sido acusado, dois anos antes, de tráfico sexual de menores, crime que o poderia ter levado a enfrentar uma dura pena, apenas passou 13 meses numa ala privada de uma cadeia na Florida. E saía seis dias por semana para trabalhar no gabinete que mandou construir nas proximidades. Um tratamento especial para um suspeito de crimes sexuais, e com ficha de agressor sexual na polícia, que chegou ao fim, em 2019, com uma segunda acusação de tráfico sexual de menores, desta vez no estado de Nova Iorque.
Epstein foi detido, acusado de gerir uma rede de angariação de raparigas menores, muitas entre os 14 e os 16 anos, para serem abusadas sexualmente nas mansões que possuía em Nova Iorque e em Palm Beach, na Florida. De acordo com a acusação, o financeiro pagava a uma rede de colaboradores para recrutarem adolescentes em centros comerciais, escolas ou festas. Os alvos preferidos seriam jovens com graves problemas familiares, pobres e desprotegidas, que poderiam cair na armadilha da proposta de 200 ou 300 dólares em troca de fazerem uma massagem ao magnata. As vítimas aceitavam e acabavam por ser levadas para um quarto onde Epstein esperava por elas, vestido apenas com uma toalha. Depois, o magnata pressionava as adolescentes a fazerem sexo em troca de mais dinheiro ou de promessas de carreira no cinema e de inscrição em universidades.
A prisão de Epstein, a 6 de Julho, fez suar pessoas importantes nos EUA. Pouco mais de um mês depois, a 10 de Agosto, foi encontrado morto na cela de uma prisão de segurança máxima em Manhattan, Nova Iorque. O multimilionário apresentava sinais de “suicídio por enforcamento”, causa que viria a ser confirmada pelo relatório oficial da autópsia. Horas antes da morte, tinham sido revelados centenas de documentos com detalhes sobre as acusações de tráfico sexual de menores de que Epstein era alvo desde 2005, nomeadamente nomes que estariam envolvidos nos seus esquemas, como o príncipe André, o antigo governador do Novo México Bill Richardson e o antigo senador norte-americano George Mitchell.